Não que eu realmente tenha parado
para fazer as contas, mas acredito que a cada dez músicas que falam de solidão,
nove serão para rechaçá-la enquanto apenas uma será para, pelo menos, não
reclamar dela. E se digo sobre essa uma é porque quando estava pronto pra dizer
que não me lembrava de nenhuma música que exaltasse a solidão, eis que me veio
à memória a linda, porém triste, “Preciso aprender a ser só” dos irmãos Marcos
e Paulo Sérgio Valle.
Mas vamos lá: no fundo, no fundo,
ninguém gosta de ser sozinho. Nem mesmo aqueles que dizem gostar.
Ainda assim, não é raro nos
depararmos com quem afirme que precise de um tempo sozinho.
Lembro que dos tempos do
"falecido" Orkut havia uma comunidade chamada “Necessária Solidão”.
Essa comunidade tinha vários adeptos. Mas é daí que pergunto: a solidão é mesmo
necessária? A solidão é, de fato, produtiva? Aprende-se algo com ela? Afinal, a
solidão tem o que ensinar?
Eu, pessoalmente, responderia a
todas essas perguntas com a certeza do talvez.
Se observarmos com atenção,
veremos que muitas vezes há uma gritaria tão grande dentro de nós que nós não
temos a condição (e nem a aptidão) seja para ouvir o que se diz no nosso
coração, seja para ouvir aqueles que nos dizem do lado de fora de nós (aqueles
que falam conosco). São tantas as vozes que parecem ressoar em nós, tantas as
angústias, tantos os sentimentos, que nós acabamos por nos perder na
obscuridade da nossa própria existência, até nos vermos imersos num escuro que
parece nos puxar para baixo –e cada vez mais distante de onde venha o ar ou de
onde nos chegue a luz.
Numa situação assim – em que não
escutamos, mas sentimos demais a tudo e a tudo sentimos demais – a solidão pode
até ser necessária: necessária para que se diminuam as vozes que falam conosco;
necessária para que nos escutemos. E só.
Nesse caso, a solidão pode ser
necessária para que conversemos com o que houver de mais íntimo de nós mesmos e
entendamos quais daqueles “todos e tantos sentimentos” é o de verdade e qual é
o quais são os que estão ali para nos enganarem – ou pior, para colaborarem
conosco na mentira que nos contamos e insistimos em acreditar.
Se conseguirmos nos concentrar no
que nos diz o silêncio de nós mesmos, poderemos (quem sabe?) obter um resultado
produtivo.
Mas cuidado! A viagem que se faz
para dentro da gente não aceita acompanhante. Ela se faz na solidão da
existência atribulada de um (da gente mesmo) e não pode e nem deve durar mais
do que o tempo que tenta fazer desnecessária a nova (?) companhia de alguém.
Acostumar-se com a solidão pode
fazer com que não se saiba "não ser sozinho". Pode causar um trauma
do mundo, uma quase fobia dos demais e, pior, a falsa sensação de que sabemos e
podemos ser sozinhos.
Não. O ser humano não sabe ser
sozinho e, se o for, na verdade não é.
Em certo momento a alma gritará
por companhia; os ouvidos por uma voz diferente da tua ou da TV; os olhos por
uma imagem que não seja a que se vê diante do espelho; o coração por uma paixão
que o faça achar graça em bater e dar à vida, por fim, uma razão para viver.
Se não há razão de ser sem ser,
só haverá motivo para vida, se esse motivo for viver.
Sim, é verdade que de tempos em
tempos os sonhos, planos e projetos para um bom futuro dão errado. E que daí
dói. E que a dor às vezes é tanta que a
gente pensa que o melhor é ser sozinho e não arriscar a sorte na perspectiva de
outro alguém que tanto pode fazer bem como pode fazer mal. A gente fica com
medo, esse medo de viver finda por tirar a graça de estar vivo. E daí a gente
deixa de viver e apenas vê os dias passarem e tudo isso sem entender o porquê
de nada mais parecer suficientemente bom.
Olha, pois, à tua volta. Não só
do teu lado. Olha pra trás. Olha adiante. Procura o futuro, mas não deixa de
visitar o passado porque ali há lições, há histórias que valeram e ainda valem
a pena. O passado não pode impedir o futuro, mas o futuro não pode ser
indiferente ao que se passou. Só haverá solidão em que não souber enxergar.
Se você acha que precisa estar
sozinho, pense duas, três vezes. Um mais zero não muda nada, continua sendo um.
Agora, um mais um é dois, e ser dois,
pode até ser difícil, mas é sempre bem melhor.
E a solidão? Ah, deixa de
história. Vá ser feliz! A solidão nem é tão necessária assim.