quinta-feira, 19 de abril de 2012

Necessária solidão (?)

Não que eu realmente tenha parado para fazer as contas, mas acredito que a cada dez músicas que falam de solidão, nove serão para rechaçá-la enquanto apenas uma será para, pelo menos, não reclamar dela. E se digo sobre essa uma é porque quando estava pronto pra dizer que não me lembrava de nenhuma música que exaltasse a solidão, eis que me veio à memória a linda, porém triste, “Preciso aprender a ser só” dos irmãos Marcos e Paulo Sérgio Valle.
Mas vamos lá: no fundo, no fundo, ninguém gosta de ser sozinho. Nem mesmo aqueles que dizem gostar.
Ainda assim, não é raro nos depararmos com quem afirme que precise de um tempo sozinho.
Lembro que dos tempos do "falecido" Orkut havia uma comunidade chamada “Necessária Solidão”. Essa comunidade tinha vários adeptos. Mas é daí que pergunto: a solidão é mesmo necessária? A solidão é, de fato, produtiva? Aprende-se algo com ela? Afinal, a solidão tem o que ensinar?
Eu, pessoalmente, responderia a todas essas perguntas com a certeza do talvez.
Se observarmos com atenção, veremos que muitas vezes há uma gritaria tão grande dentro de nós que nós não temos a condição (e nem a aptidão) seja para ouvir o que se diz no nosso coração, seja para ouvir aqueles que nos dizem do lado de fora de nós (aqueles que falam conosco). São tantas as vozes que parecem ressoar em nós, tantas as angústias, tantos os sentimentos, que nós acabamos por nos perder na obscuridade da nossa própria existência, até nos vermos imersos num escuro que parece nos puxar para baixo –e cada vez mais distante de onde venha o ar ou de onde nos chegue a luz.
Numa situação assim – em que não escutamos, mas sentimos demais a tudo e a tudo sentimos demais – a solidão pode até ser necessária: necessária para que se diminuam as vozes que falam conosco; necessária para que nos escutemos. E só.
Nesse caso, a solidão pode ser necessária para que conversemos com o que houver de mais íntimo de nós mesmos e entendamos quais daqueles “todos e tantos sentimentos” é o de verdade e qual é o quais são os que estão ali para nos enganarem – ou pior, para colaborarem conosco na mentira que nos contamos e insistimos em acreditar.
Se conseguirmos nos concentrar no que nos diz o silêncio de nós mesmos, poderemos (quem sabe?) obter um resultado produtivo.
Mas cuidado! A viagem que se faz para dentro da gente não aceita acompanhante. Ela se faz na solidão da existência atribulada de um (da gente mesmo) e não pode e nem deve durar mais do que o tempo que tenta fazer desnecessária a nova (?) companhia de alguém.
Acostumar-se com a solidão pode fazer com que não se saiba "não ser sozinho". Pode causar um trauma do mundo, uma quase fobia dos demais e, pior, a falsa sensação de que sabemos e podemos ser sozinhos.
Não. O ser humano não sabe ser sozinho e, se o for, na verdade não é.
Em certo momento a alma gritará por companhia; os ouvidos por uma voz diferente da tua ou da TV; os olhos por uma imagem que não seja a que se vê diante do espelho; o coração por uma paixão que o faça achar graça em bater e dar à vida, por fim, uma razão para viver.
Se não há razão de ser sem ser, só haverá motivo para vida, se esse motivo for viver.
Sim, é verdade que de tempos em tempos os sonhos, planos e projetos para um bom futuro dão errado. E que daí dói.  E que a dor às vezes é tanta que a gente pensa que o melhor é ser sozinho e não arriscar a sorte na perspectiva de outro alguém que tanto pode fazer bem como pode fazer mal. A gente fica com medo, esse medo de viver finda por tirar a graça de estar vivo. E daí a gente deixa de viver e apenas vê os dias passarem e tudo isso sem entender o porquê de nada mais parecer suficientemente bom.
Olha, pois, à tua volta. Não só do teu lado. Olha pra trás. Olha adiante. Procura o futuro, mas não deixa de visitar o passado porque ali há lições, há histórias que valeram e ainda valem a pena. O passado não pode impedir o futuro, mas o futuro não pode ser indiferente ao que se passou. Só haverá solidão em que não souber enxergar.
Se você acha que precisa estar sozinho, pense duas, três vezes. Um mais zero não muda nada, continua sendo um. Agora,  um mais um é dois, e ser dois, pode até ser difícil, mas é sempre bem melhor.
E a solidão? Ah, deixa de história. Vá ser feliz! A solidão nem é tão necessária assim.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Tu És

Tu és



És como a rosa que reina sozinha em meio a um jardim onde é só ela só.
Tens no sorriso o encanto doce que se completa na força de um olhar que fascina.
A noite é mais que tua amiga: ela te pertence a ti mais do que te pertences a ela
E mesmo as estrelas parecem menos alegres, pois seu brilho não alcança o brilho teu.

Se há quem seja a hora certa, que sejas tu
Tu que tens a força de ser quem quiseres
Olhar forte e intenso que prende outros olhares
Mas não perde a gentileza que os faz sorrir só por te olhar.

Te olhar é sorrir com os olhos
É fazer refletir a eternidade da doce lembrança que nasce do instante de você.
Te olhar é o infinito do que renasce só p’ra te olhar.
Te olhar é assistir a um sonho sem nem mesmo precisar dormir...

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Sonhei com Jesus


Essa noite eu sonhei que lia a Bíblia. E lia mesmo. É claro que eu não conheço a Bíblia inteira para poder sonhar que estava lendo e, no sonho, estar lendo um trecho preciso do texto. No sonho que sonhei o texto que lia foi de um trecho que, ao meu modo, eu mesmo criei.
Vale dizer que meu domingo por uma série de fatores foi bastante melancólico e triste por ter passado todo um feriado que se quer santo sem me ocupar de refletir no que ele significa. Triste por ter bebido mais do que devia quando havia feito o compromisso comigo mesmo de não tornar a fazer. Triste por ter deixado quem gosta de mim triste. Assim, ontem, ao me dar conta de estar triste por causa de mim e das minhas escolhas, tentava “me curar” entre momentos de reflexão e oração.
Nessas orações que duravam o tempo do próximo cochilo, vinha me queixando de estar procurando pouco a esse Deus que nunca deixou de olhar por mim e que me incomoda(va) o fato de não saber dar reciprocidade a um cuidado sem o qual eu já não seria e nem haveria. Pedia então certo sinal de que minha oração era ouvida de modo a saber que haveria ajuda naquilo que eu considero que precise mudar.
No sonho, eu abria a Bíblia no livro de Mateus. Num primeiro momento abri no sermão da Montanha. Esse, por conhecer com certa riqueza de detalhes, até poderia ter “lido enquanto sonhava”, mas ao abrir no Sermão da Montanha folheei a Bíblia algumas páginas atrás e me deparei com uma história que não existe lá, mas que poderia ter havido e vou narrar.
A história se passava num período posterior àquele em que Jesus transformou a água em vinho num casamento em Caná da Galileia. Lá se narrava que enquanto Jesus caminhava pelo deserto avistou uma mulher sentada a contemplar uma árvore enorme e bonita com muitos frutos também bonitos.
As folhas dessa árvore eram em forma de setas como se a indicar um caminho e a mulher, apesar de fraca, parecia bastante admirada com a imagem.
(enquanto eu ia “lendo” no sonho, ia se formando pra mim, como que num mosaico, as imagens daquilo que lia).
Jesus então se aproximava daquela mulher e lhe perguntava o porquê de ela estar ali, sentada sozinha, olhando para aquela árvore ainda que a própria árvore indica-se um caminho.
A mulher sem saber de quem se tratava disse que estava ali sentada esperando que tivesse fome, porque aquela árvore tinha tantos frutos e era tão bonita que lhe serviria para sempre. Bastava que ela precisasse, estenderia a mão, comeria e poderia continuar onde já estava.
Jesus a olhava enternecido e disse-lhe:
“Pois em verdade te digo que é bom que te vás daqui tão logo, porque virá uma grande fome por seis anos e essa árvore secará e só os prudentes, que ouvirem essas palavras, sobreviverão: não há sede que o Pai não sacie e nem há fome que Ele não dê fim.”
Jesus, então, pôs-se a explicar àquela mulher que os belos frutos que ela via não durariam muito e que logo se secariam e ela não teria o que comer. No que a mulher se pôs a chorar e disse: “Há outro motivo que me faz não poder sair daqui. Há dias que sangro de uma ferida que não sara e já não tenho forças para me mover. A esperança que tinha era nos frutos dessa árvore que me manteriam saciada enquanto houvesse vida. Agora, pelo que me diz, pouco me resta de mim mesma.”
Nessa mesma hora Jesus lhe dirige um olhar de amor e lhe diz: “pois não percebeste que assim que cheguei não sangraste mais?”
A mulher então olha para si e nota que a ferida se fechara, ficando uma pequena cicatriz, mas nenhum sangue. Assombrada ela pergunta a Jesus se ele era algum profeta e como ele fizera tal milagre.
Jesus a olhando com a mesma ternura, agora sentado sob a árvore, suas costas encostadas no seu tronco lhe diz: “não fui eu quem te fiz nada. Orei ao Pai e porque Lhe pedi, Ele te curou. Em tudo que quiseres e pedires e for bom, assim como Ele me ouviu, Ele também te ouvirá”.
Jesus disse a mulher que seguisse e espalhasse a boa nova. Haveria fome em Israel, mas aqueles que conhecessem a palavra que Ele pregava não sofreriam por aquele mal.
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Da hora que acordei desse sonho, fiquei pensando nos vários significados ali.
Aquela mulher estava sob uma árvore e essa árvore lhe indicava um caminho, mas mesmo assim, preferia se valer dos frutos daquela árvore que lhe pareciam bonitos e suficientes para o tempo que julgava ter. Ela estava preocupada com o seu agora. E só com o seu agora. Confiava, pela beleza da árvore e dos frutos, que tinha ali tudo o que precisava para si e que, aquilo sim, é que era bom. Quando Jesus lhe diz que os frutos daquela árvore se secariam tão logo, ela entra em desespero por ter lançado nela toda sua esperança, não tendo onde mais se valer.
E daí me ocorreu: quantos e mais quantos de nós estamos parados no mesmo lugar errado, apostando o tempo que temos, por causa da beleza do que vemos agora, pouco preocupados com o que nos virá no depois?
Quantos e quantos de nós preferimos confiar em nós mesmos ou nos outros, como se nos bastássemos em todas as nossas necessidades quando, a simples frugalidade da nossa vida já nos deveria ensinar-nos o quanto somos pouco para tudo?
A vida de agora parece tão bonita, tão perfeita que não reconhecemos a Jesus enquanto a necessidade não bate a nossa porta. De repente nos comovemos num fim de semana em que se celebra seu sacrifício e sua ressurreição como parte do plano de salvação do homem, mas chega a segunda-feira e nos vemos, novamente, parados sob a mesma árvore bonita, de grandes folhas bonitas, todo o nosso tempo, apostando toda nossa vida.
A árvore que aquela mulher contemplava era em formato de seta. Dizia que ela deveria seguir adiante, procurar o melhor caminho, mas ela achava que ali estava bom. E vem outro questionamento: quantos e quantos de nós ouvimos diariamente sobre um melhor e diferente caminho que nos é apontado, mas preferimos nos fiar no que parece bonito agora? Para quantos e tantos é muito mais difícil acreditar no amor de Cristo que não falha e só quer o bem do que no homem que é falho?
A árvore que dá bons frutos no agora não é melhor do que a árvore da vida que dá seus frutos na eternidade.
De repente, diante da notícia de que não haveria mais frutos naquela árvore e que uma grande fome viria para aquela região, a mulher se desespera porque não havia nela mais forças para seguir adiante. Jesus então, tomado do amor que lhe fez dar a vida por todos os homens e mulheres, senta ao seu lado e lhe mostra que diante do amor de Deus, sempre pronto para ouvir e ajudar a seus filhos, forças não lhe faltariam.
Ela se vê curada, recobrada em forças, pronta para seguir o melhor caminho que é o caminho que leva ao amor de Deus através das palavras de Jesus, essas mesmas que lhe disseram: “Em tudo que quiseres e pedires e for bom, assim como Ele me ouviu, Ele também te ouvirá”.
Será que já não passou da hora de ouvirmos a voz e a mensagem de Cristo e nos voltarmos mais a Deus?

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Fui reler os trechos da Bíblia que seriam os corretos se, no sonho, eu tivesse aberto a Bíblia como ela é e eles seriam:

Mat. 2:6 E tu, Belém, terra de Judá, De modo nenhum és a menor entre as capitais de Judá; Porque de ti sairá o Guia Que há de apascentar o meu povo de Israel. 


Mat. 5:16 Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus.