sábado, 20 de abril de 2013

Calei-me para ser (de) quem sou

Calei-me!
Calei-me de mim mesmo.
Calei minha própria vontade.
Calei cada querer que me veio.
E cada silêncio de mim, fez-me quem sou.
E se sou triste, ao menos sou dentro de mim.
Muitas vezes triste por ter me virado às costas.
Eu que me deixei para ser de quem me tem sido ao longe.
Calei a voz que grita sem que saia som e que só fala em mim.
Ah! Voz que ressoa o pensamento e não segreda a angústia.
É silêncio que diz nos olhos que não se erguem,
Pois contra a luz bem que podem não resistir e chorar.
Silêncio que dói...
Satisfação que falta ao corpo e só se revela na alma... calada.
Meu sorriso é a janela desenhada que mostra o sol ao longe
Mas só o que faz é esconder o escuro da noite mais fria
De uma vida que não merece sorrir já que não sorri.
Vivo um dia de cada vez todos como se fossem muitos
Mas são poucos e já me cansam
E quando não cansam, lembram-me cada “não”
E me cobram a falta do sim que não me faria feliz.
Sei de cada não...
Os diria de novo e outra vez.
Só não me peça que esqueça cada sim que não tive de fora
Mas que vivem como se fossem verdade
Quando acontecem, todo dia, no outro lado de mim.

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Mulheres que falam demais


Sim, minhas amigas que me dão o prazer de acompanhar esse blog. A coisa não tá fácil pra ninguém. Você se programa pra festa, não admite nem pra si mesma, mas fica na expectativa “dele” aparecer. Aquele qualquer um que será diferente de todos os outros e te dará o romance de cinema. Mas daí, nada! É sempre mais do mesmo. Os mesmos que chegam, com os mesmos papos e a mesma conversa e sempre com o mesmo final: “vamos para um lugar mais reservado?” (ou mesmo os que preferem chamar de motel – pra não falar do banco de trás do carro ou da carroceria da Fiorino). Fracos. Vocês acham que esse vale a pena (respondam no comentário, sim?)
Por sua vez, os rapazes, esses estão cada dia mais ridículos. Um bando de homem frouxo com medo de se apegar e se envolver com uma só mulher. Querem somar currículo. Precisam ter a quantidade que os fará se sentirem homens prontos para a mulher que lhes será só deles (e de preferência tendo sido de poucos ou de quase nenhum – virgindade muitas vezes pode ser um problema para alguns).
“E por que isso?”, pode estar se perguntando você, mulher que luta para entender a cabeça desses homens cada vez mais parecidos com meninas indefesas.
Simples. Vocês resolveram invadir uma área que antes era só dos homens.
É a verdade mais ridícula de todas, mas os homens não estão prontos para as mudanças de vocês. Sim, o amor tudo suporta e até a Bruna Surfistinha achou alguém para chamar de seu, mesmo quando ele não podia dizer que ela era só sua. Mas a verdade é que os homens morrem de medo de comparação. E vocês, mesmo sabendo disso, falam. Falam e continuam falando.
Todos nós temos histórias de amor e de paixão. História! Passado que não tem que ser presente. Por mais que nós fiquemos curiosos sobre o que o outro viveu antes de nós, a nossa curiosidade vai só até a intenção de descobrir que não viveu nada demais e que somos nós os primeiros a despertar todos os sentimentos pela primeira vez, desde o amor mais sublime até o tesão mais louco.
Mas não. Vocês falam. Contam. Fazem questão de deixar claro como que aquele ex-amante foi o melhor amante que já teve, mesmo tendo tido meia-dúzia ou dúzias inteiras depois dele. O quanto a lembrança te faz aquecer não só a alma, mas até mesmo... enfim. Falam. E daí o homem, ser inseguro por natureza, acha que precisa somar amores ou só “amores” para não sair perdendo no jogo do amor. E não tinha que ser um jogo de perde e ganha, mas só de empate, em que os dois ganhem e gostem e gozem e gostem mais.
Então, mulheres. Os homens querem a santa na rua, mas querem ainda mais a “outra” na cama, mas precisam se enganar de que vocês estão aprendendo isso com elas ou com as revistas que vocês andam lendo por aí. Tudo o que vocês estarão fazendo com eles deverá ser a primeira vez, ainda que você que tenha inventado aquilo anos antes e ensinado toda uma geração.
E sim, e
u sei que a culpa é deles de serem tontos, mas será que não vale a pena guardar suas lembranças pra você e poupá-los de não serem os melhores que vocês jamais tiveram?
Homem que é homem e não se importa com a sua história, mas até se diverte e tem dó dos que te tiveram, mas não souberam te ter e ainda ter, são poucos. E olha que homem que gosta de mulher é cada dia menos. Então, fale menos. Omita mais. E faça do seu homem um homem feliz.

Meu Presente


"Todos temos datas especiais. Por exemplo, dia do nosso aniversário. Muitas vezes, nesse mesmo dia em ano anterior, aqueles que hoje são dois, ainda existiam sem existir um para o outro. É certo que depois de quase um ano já é difícil pensar que existiu um tempo em que não 'se existiam' já que desde então, parece que estão sempre em tudo que sejam eles, seja no que é de um, seja no que é do outro.
Andava com as costas curvadas em razão das dores da vida. Doía uma dor que muitas vezes ainda dói, mas era uma época em que tudo era pior. O céu negro da noite era o mesmo céu negro do dia e, se variava a cor, era para um cinza sem nenhuma alegria.
Andava com a cabeça baixa para que não se notassem os olhos vermelhos. A lágrima era a certeza de todo dia, seja a lágrima que corria dos olhos, seja a lágrima que sangrava o coração. Até o sorriso e a alegria eram tristes. Químicas. Sem razão.
Andava passos que seguiam em frente, mas não saíam do lugar. A vida era uma repetição de dias sem qualquer entusiasmo. Tudo o que fazia era vivê-los um dia de cada vez, todos eles com o enfado de saberem mais do mesmo que já passou. A novidade estava no que ainda viria.
Era última semana de um abril que era o mais triste abril. Maio teria que ser melhor. Não podia ser pior. Mas ao fim – cinco dias antes do fim – abril se lhe abriu enfim.
Se antes andava em trevas de uma estrada sozinha e triste, agora tinha a companhia que jamais imaginava ter e que muitas vezes temia e em tantas outras vezes, simplesmente, descria, pelo simples fato de que não poderia ser. Mas era. Eram.
A partir de um simples instante – desses que temos todos a todos os instantes – foram se sabendo próximos mesmo que vindos de histórias tão distantes e foram somando suas dores e descobriram o que todos aprendemos em algum momento: 'a dor da vida é de todos, então vamos nos ajudar a sorrir. E se ajudaram. E se ajudam. E sorriram. E sorriem'.
Àquela altura a certeza que tinham se mostraria mais que certa com o tempo. Divergiam se havia destino, mas se destino há, são a melhor prova de que ele brinca, mas também acerta. Não pode haver mero acaso em quem se soma de verdade. Não pode haver mero acaso em quem faz bem sem pedir em troca quando a troca é natural. Não. Se estão juntos hoje não é por uma simples escolha de virar a esquerda e se esbarrarem num ponto qualquer do caminho. Se fazem bem em nome de uma história que se escreveu nas estrelas e se repete em mil vidas e em todas as eras... sempre eles.
Desconfiam do bem que fazem um ao outro, mas tem certeza do bem que recebem um do outro. Seguem sua história do jeito que sua história é e mesmo quando ela é muito, pensam que podia ser mais e quando acham que mais do que é, não pode ser, ainda assim querem mais. E quererão.
O sorriso de um traz o sorriso do outro e não há dor que sintam separados. E estranham. O que são é contra todas as previsões. O que são é o que todos gostariam de ser, mas que mesmo que soubessem e invejassem, não saberiam as inúmeras renúncias que os fizeram quem são.
São, sem que se sejam sempre. E, muitas vezes, não ser, também dói.
Mas continuam. Continuam porque mais importante do que como ou do quanto são, é serem. É terem o que sabem ser só deles. E é isso que importa. Os outros não entendem? De que importam os outros? É improvável? Melhor que seja! Eles continuam sendo até quando puderem ser, sem pressa de que chegue um dia diferente...
Seu presente é hoje. E seu futuro, nada mais é, do que a presença mais do que presente em todos os seus amanhãs.
Ela diz pra ele: você é meu presente.
Ele diz pra ela: meu presente é você.”

PS.: história baseada nas histórias de “muitos eles e muitas elas” que se bastam em si, mesmo quando querem gritar pro mundo a alegria de se terem e de serem de si.

domingo, 7 de abril de 2013

A Primeira que disse me amar


Foi a primeira a dizer que me amava. Ah! Como eu gostava dela. Era acordar e contar as horas para que chegasse a hora de assisti-la passar.
Àquele tempo, o que me ocupava era olhar quem à minha volta, com olhares sempre cheios de inquisição. Meu olhar só não era mais pedante do que minha mania horrível de achar que era pouco quem eu nem sabia ser. Não me eram tempos fáceis, ainda que à época, tudo parecesse mais simples mesmo quando insistia em complicar.
Não. Nunca fui fácil. E sempre achei o mundo previsível e incapaz de me surpreender desde a última surpresa. Os últimos meses daquele ano de meio da década que já passou tinham sido duros. Iniciaram alegres, mas logo foram tomados de uma melancolia que sempre me acompanhará.
Era isso. Estava decidido. Seria sozinho e faria da solidão minha principal companheira (é impressionante como é fácil se pensar sozinho, mesmo estando cercado de pessoas).
Mas sem que eu esperasse, eu a vi. Uma, duas, três noites e eu a vi em todas elas. Nascia o novo dia e, no fim desse dia, era ela que eu via. Havia ela. Ontem não tinha, depois de “hoje” sempre haverá.
Era uma terça, talvez uma quinta, de repente até numa segunda, mas não me surpreenderia se fosse uma quarta ou mesmo uma sexta (não era sábado, nem era domingo). Mas depois daquela noite, de onde eu estivesse, não importava quantas fossem as pessoas ao seu redor, era como se só houvesse ela. Eu a via surgir em meio de qualquer multidão: alta e quase sempre calçando saltos que a faziam mais alta; pele clara, porte de modelo, cabelos loiros lindos, levemente ondulados e que lhe desciam qual moldura em volta de um rosto lindo que, ao menos para mim, era arte pura. Seu sorriso? Seu sorriso me causava o meu sorriso. Seu sorriso era um sorriso feito em lábios macios que sempre me pareceram o destino mais que perfeito para os lábios meus.
Por causa dela gostei de músicas que nunca gostaria e nem nunca mais gostei. Também por causa dela, existem músicas que nunca mais toquei (quando tocava era pra ela e ela sabia que era pra ela e sorria de longe ao me ouvir tocar... pra ela).
Mulher bela, menina linda... era o nome da música que lhe fiz. A música era o nome dela, toda ela... eu era dela e nem eu mesmo sabia o tanto que era dela (até quando?). Abraçá-la era encontrar o sentido do dia que nasceu.
Ainda bem novo, estudante com muitos sonhos, todo um futuro e todo direito de ousar (inclusive de ousar sonhos absurdos), ela era o sonho que eu mais gostava de sonhar. Ela me fez voltar a gostar, depois de mais de um ano incapaz de gostar.
Mas gostei de longe. Ela sempre soube que eu gostava dela. E isso a fazia longe. Logo ela que sempre teve medo de me machucar e sentia ter poder pra isso. Como eu gostava de longe, usava esse ‘gostar’ pra me proteger de quem eu vinha a me envolver. Estive com várias gostando dela e, graças a isso, gostei pouco de todas que não eram ela. E a cada uma que era nova, o ciúme dela fazia brigar comigo, fazia um silêncio longo e depois voltava sorrindo. Seu silêncio me fazia triste, mas por ele eu me sentia rei. Do jeito dela, ela também gostava de mim... mas se conhecia a si, melhor do que eu.
Lembro-me como se ontem a última vez que a vi: fazia muito tempo que não a via. Era uma noite de sexta-feira em que, tendo passado pela casa onde ela morou, pensei “vou ver a... hoje“ e, realmente, chegando ao restaurante, ela também estava! Sorri de longe, respeitoso, ela não me viu. Já no caixa, pagando a conta, eis que me chega ela vindo não sei de onde, mas parando para um “oi Will, tudo bem?” que me fez refletir nos lábios o sorriso que sorriu do coração.
Não lembro como foi o primeiro beijo e nem lembro como foi o – suposto – último. Mas me lembro que sempre ao se despedir ela me dizia: “Will” (ela foi a primeira no mundo a me chamar assim), “se cuida direitinho”. Até uma noite em que, seguido disso, ela me diz “escuta: te amo, tá?”.
Talvez não amasse. Não me interessa. Era ela, era a voz dela, vinda dos lábios dela e falando pra mim. E em todas as conversas o fim era esse até que o fim foi mesmo fim. Eu errei. Me perdi na necessidade dela, num tempo em que já não tinha direito de querê-la pra mim. E ela disse adeus. Partiu dela. Sempre partia dela. Ela foi o início, o meio e o fim de uma história que até hoje reluto acreditar ter tido esse fim. E que, por isso, mantenho viva na memória que não se apaga (pouco me importa o que o cartório diga dela nos últimos anos que não a vi).
Lembro de uma foto sua, linda, em branco e preto, usava um boné e seus cabelos em rabo de cavalo atravessando o fecho desse boné. O destaque daqueles lábios que tanto gosto (e não esqueço). A foto que mais gostava depois da foto de nós dois. Não tenho mais essa foto que sempre gostei. Nem assim consigo mais lhe ver. Só lhe vejo na memória, no silêncio, na lembrança, na noite, na solidão.
E faz mesmo anos que não a vejo... nem tenho seus telefones, nem tenho seu facebook, nem msn, nem contato nenhum. É raro que eu saiba dela e mais raro ainda que eu procure saber. Sei onde ela ainda está, mas não está para mim, muito embora meus desejos de felicidade sejam sempre pra ela: pra ela que assina o nome do pai, mas não o da mãe que eu sempre achei que combinaria com ela; pra ela que me fez sorrir, me fez gostar, me fez querer; pra ela, primeira de todas a me dar algum sentido ao verbo “amar”.

“Sem que eu me desse conta, meu coração me atraiu... (set/2005)”