segunda-feira, 16 de maio de 2016

Amar de forma deslocada (ou nunca é tarde demais para deixar de ser idiota)

O ser humano é um esquisito complicador de suas próprias experiências. No afã de pensar sua feliz tem por hábito esquecer-se de se saber e se sentir feliz. E o foco na falta é o grande culpado disso. Preso à ideia do que seria bom, à ideia da vida que lhe satisfaria, esquece que a vida é o que vive e não o que se espera viver. E muita vez faz pior: de tanto pensar o que lhe faria feliz, passa a temer passar a vida sem alcançar o estágio imaginado de felicidade esperançada e não vive. E se não vive não tenta. E se não tenta não faz. Quem não vive, não tenta e não faz, perde. Sempre!
A esperança é sempre para o amanhã que nunca existirá. A esperança é sempre o ideal e ideal é o oposto de real. O ideal é a ignorância porque é pautado no que eu gostaria que fosse, mas que eu não tenho como saber se será. Portanto, onde há esperança não há realidade e se a vida é o que se toca, o que se encara e o que se sente, na vida não cabe esperança, na vida só cabe vida. Logo, esperar demais e viver “de menos” é um erro brutal. É uma estupidez!
Amar de forma deslocada, então, é amar o sonho e não a realidade. É amar o que espera e não o que tem. É amar a ideia de ser feliz e não o que se tem para ser feliz (e que pode fazer feliz). É entender que desejar o frio estando no calor te faz triste; que querer a praia estando na montanha te faz triste; que querer o norte estando no sul te faz triste. Se o que você quer não é o que você tem, então mude a tua rota, mas viva! Faça por onde, mas não viva nessa esperança de que há outra vida que, aí sim, te fará feliz. Porque de esperança em esperança você só acumulará tristeza e mais tristeza e é de tristeza que nós morremos. Alegria dá vida. Tristeza é que mata.  
Queira estar onde você está. Goste do que você tem. Satisfaça-se na vida que você vive. Se não está bom é porque tem que mudar. Você ou as circunstâncias. Mas o que tem que ser feito deve ser feito no mundo que se vive no corpo, esse corpo que sente vontade, esse corpo que é desejante, que interage com o mundo e que responde a cada afeto que esse mundo causa e propõe porque é nisso que consiste estar vivo. 

terça-feira, 10 de maio de 2016

Deve ser bom poder chorar...

Em um tempo em que ainda era criança que sonha ser gente grande e feliz, nada parecia longe, nem distante, nem difícil...
O tempo que eu tinha era o tempo todo que eu ainda teria e nada como ter a sensação de ter todo o tempo para se deixar o tempo passar. E ele passa.
Na inocência das minhas infinitas possibilidades, eu me guardava as mil aventuras em que era sempre rei, herói, mocinho dos mais galantes e precisos.
No alto de cada sonho, eu acreditava em cada sonho e investia em cada espera de ele se realizar.
Não me disseram que sonhos não se realizam, mas precisam ser realizados. Não me ensinaram que sonhos são apenas sonhos e que por isso não existem. Não me contaram que sonhos seriam a garantia de toda futura frustração.
Mas esses “eles” ocultos deveriam ter sido sempre eu. Eu que não quis ser de mim, mas me perdi no aguardo de saber ser do que me regesse. E nem nisso soube ter sucesso. Nem nisso soube ser feliz.
Invejo quem tem lágrima. Deve ser bom poder chorar.
Porque agora, o tempo pode até ser muito, mas tudo o que parece é que é pouco.
As aventuras que fariam reis são desventuras que me fizeram bobo.
Os caminhos que não lograram risos vestem penúria. E tudo em frente é só a escuridão já descoberta, desvendada e destapada.
O que era pra pôr-se desde o alto já há muito que se sente no mais baixo como a vida que, desvivida, descansa do mundo debaixo de todos os pés.
Tudo é o passado do que nunca se fez presente. História terrível do que nunca se providenciou. Não se trata do irrealizado. Dói é o que não realizou.
As perguntas são: em quantos erros nos dividimos ao longo desse viver? E de que vale tudo isso? De que vale o saber o que se aprende se só se sabe quando já parece tarde demais? Quando, ao final, toda a sabedoria que o erro nos traz acaba e o resto... bem, o resto, como em Hamlet, “é silêncio”. E mais: quem aprenderá com esses erros que se acumulam e só? Se não a mim, a quem servirá essa existência vil que se acumula em dias só pra me fazer mais enfadado da minha própria cara?
Gostaria de saber sorrir. Mas na verdade, invejo quem tem lágrima. Deve ser bom poder chorar.