quarta-feira, 2 de setembro de 2020

O que te impede?


O que te faz renunciar a vida? Que crença te faz abrir mão dos teus desejos, dos teus prazeres, do teu egoísmo? O que te faz escolher simplesmente dizer “não” para o que muitos talvez dissessem sim? Medo? Amor? Moral? Esperança? 
Se eu fosse invejar as religiões seria pela perspicácia dos líderes que se aproveitaram do medo as pessoas têm da morte para convencê-las de que após a morte há mais vida, mas para que essa outra vida seja boa, você precisa ser bom e obediente desde essa. 
Me diz se não são uns sacanas espertos. 
E não estou entrando no mérito da existência do Deus. Até porque acredito que haja um Deus que não é nenhum desses vários deuses (desses que cada crente tem o seu e o adapta ao que lhes é útil). O que eu questiono é quem deixa de viver sua vida por causa do que lhe disseram que é Deus. 
Gosto do verso dos Mutantes que canta que é melhor “não ser um normal se eu posso pensar que Deus sou eu”. Vocês devem conhecer essa música, ela chama “Balada do louco” e, por essa óptica, o que mais tem são loucos por aí. Gente que acha que o seu modo de viver é o que, como diz meu avô, já os deixam de malas prontas para ir para algum céu e que o modo de viver do outro o destina para algum inferno (como se, muitas vezes, o inferno não fosse viver com gente que se acha moralmente superior aos demais ao invés de apenas entender que são só diferentes). 
Mas eu também gosto de pensar como Deus e toda vez que faço isso, apesar de consciente de que sou falho e falível, penso que se eu fosse Deus não gostaria que alguém abrisse mão de suas vontades por medo de uma condenação eterna. Amor não combina com medo do amado. 
Mas talvez você me pergunte: mas abriria mão dos teus desejos e vontades por amor? E daí chegamos em um dos pontos em que mais pensei ao longo da minha vida: o amor quando é amado não pressupõe renúncia porque não há ao que renunciar. Mas quando é amado mesmo. Quando é sentido pelos cinco sentidos. Amor que vê e é visto e que tem gosto, cheiro, confissões de paixão, desejo e saudade ao pé do ouvido... amor que tem pele com pele.  
Quando é assim outros mundos são desinteressantes porque já temos nosso lugar no mundo. Portanto, não renunciamos ao mundo, mas nos lançamos a ele com toda nossa força e coragem e ousadia... paixão. 
Mas a pergunta que talvez seja mais importante é: você sabe o que deseja? E realmente tem certeza de que quer isso que acha que deseja? Você sabe por que pensa que gosta do que gosta ou o que falta para que fantasie o que fantasia? Você sabe de onde vem tua expectativa por uma vida de um ou de outro jeito e por que ainda não encontrou teu desejo mesmo com tanta história na tua vida? 
O que te impediu de dizer o sim que faria toda diferença? O que te impediu te coragem de se despedir, de terminar, de ir embora ou até de fugir? O que te impede recomeçar? Em nome de que vida mais ou menos você escolha não se dar a chance de se superar? 
Reflita e tente viver diferente.