Cada vez acredito menos no
discurso de quem é feliz sendo só de si. Não. Não acredito que é possível ser
feliz sozinho. E talvez porque ainda que muitas vezes eu me sinta como se o
fosse, na verdade nunca o fui. Nem sozinho, nem tão triste.
Também descobri, de mim, a falta
de medo das minhas paixões. Talvez um pouco de medo como reajo a mim
apaixonado. Gosto de estar, gosto de alimentar isso, mas não aprendi a manter. E
nem sei se dependeria de mim me manter intenso na paixão. Mas em tempos que se
fala tanto em responsabilidade afetiva e emocional, questiono-me se sou
irresponsável nalguns encontros ou se consequência (sem ser vítima) de uma
inconstância contra a qual luto, mas de ordinário perco.
Talvez ninguém que me leia saiba
e tampouco se interesse, mas recentemente me apaixonei como há tempos desejava.
Não que me faltara paixão em histórias outras. Mas dessa vez foi diferente porque
eu estava diferente. Sim, porque poucas vezes me vi tão disposto a descobrir
que era possível ser tudo o que ainda não tinha sido para alguém e que muitas
vezes duvidei que um dia seria. As noites de sono eram precedidas dos melhores
pensamentos, desejos e fantasias. As manhãs já começavam na expectativa de
algum aparecimento de quem, por um tempo, não só aparecia como permanecia. Mas a
distância que mantive dela foi a mesma que já mantinha desde quando sequer a
conhecia.
Apaixonei-me como nunca. Não vivi
como sempre. Sofri? Talvez. Me arrependi? Jamais! Desisti? Exatamente de quê...?
Porque é assim que acontece: é um
ciclo de correspondências e falta de correspondências. Já quis sem ser querido;
já fui querido sem querer; algumas vezes quis e fui querido; outras tive quem
não me queria tanto quanto eu lhe tive sem também lhe querer. A maior parte
disso não tem ganho, não tem lucro, é só perda.
Mas a vida vive, segue, não para
e passa. Ninguém sabe o hoje, quiçá o amanhã. Muitas das minhas melhores
relações me surpreenderam em tudo o que tinham de improvável, enquanto as que mais
me pareciam naturais e certas (e desejadas) não passaram de fantasia irrealizada.
E algo que sempre me foi curioso foram
algumas ocasiões em que ouvi de mais de uma pessoa que às vezes se procurara em
textos postados aqui. De fato, escrevi aqui sobre poucas, mas sempre torcendo
para que fosse lido por aquela que era para quem escrevia. Um jeito de me expor
sem me mostrar, mesmo que me mostrando e me expondo. Me movia – ainda me move –
um senso de cumplicidade que viria nos únicos olhos capazes de me entender que
era a ela a que me referia (pois bem, minha analista também entenderia).
Textos, poesias, declamações,
pensamentos... havia o que era para o mundo, havia o que era para o que seria o
meu mundo. E até nisso mudei.
Vejo em mim que cada vez mais sou
cada vez menos quem fui. Não mais aquele descrente da própria capacidade de
gostar do que vive sempre constantemente atento só ao que tinha à sua volta por
viver, desatento com o carinho que ofereciam, a paixão que nutriam ou mesmo o
amor que dedicaram. Também por isso é que me julgo melhor do que antes. E não
porque sou condescendente comigo – jamais me permiti gentilezas a mim próprio. Julgo-me
melhor que antes porque hoje quase consego estar em paz comigo.
Ainda não sei quantas histórias e
paixões e desilusões me aguardam. Talvez sejam muitas, talvez tenha acabado
todas. Ainda sou aquele que espera algumas certezas que nem sei se existem. Mas
também não deixei de ser aquele que há pouco tempo se descobriu disposto a ser
quem ainda não foi e nem deixei de ser aquele que creu que poderia alcançar
viver o que – e quem – lhe faltou.
E sem ser ansioso. Sem deixar de
ser paciente. Sem querer um dia de cada vez a história que não terá um final
feliz porque será toda ela feliz. Nem sempre fácil, nem sempre linda, mas de
saldo feliz.
Sei que o tempo correu rápido e espero
que ainda haja mais por passar (de preferência sem correr). O que não quero é
ser quem se perde da vida quando deixa de viver o que tem, quando fica tempo
demais desejando conquistar o que não dá. Quero que seja fácil se um dia chegar
a hora de, finalmente, me casar.