O Trovante se presta a ser um blog tão abusado como seu autor que chega ao ponto de se classificar como advogado, professor universitário, músico e poeta sem que necessariamente seja (em qualidade) qualquer desses. Mas já que aqui se está, que aqui se faça e que surja os que se interessem a acompanhar o que aqui se tem feito... Bem-vindos ao fantástico mundo de Trovante
quarta-feira, 31 de dezembro de 2014
quinta-feira, 18 de dezembro de 2014
O mundo ainda é grande (pequena é a nossa forma de pensar)
O mundo “lá fora” é muito mais do
que o mundo da gente. Apesar de essa ser
uma observação mais do que óbvia, algumas pessoas parecem participar de certa
dificuldade de aceitar essa verdade e julgam-se no direito de julgar o mundo
dos outros com base no mundo em que se prenderam a si, acreditando de forma
bastante pia, que as escolhas que se fizeram deveriam servir de modelo para as
escolhas que outros se farão.
Um médico não deve achar que no
mundo tudo é medicina. Da mesma forma, um jurista não deve achar que o mundo é
só Direito ou um religioso achar que tudo é metafísico. Assim como um matemático
não pode achar que tudo é lógico ou um psicólogo achar que tudo é inconsciente,
o certo é que tudo de um é nada perto de tudo do todo.
Cada indivíduo com suas próprias
circunstâncias e o mundo continua. O grande barato dessa história toda está no
fato de sermos diferentes e podermos achar espaço para todas as nossas
diferenças. Sempre há espaço.
Vejam, as pessoas até podem ser
muito parecidas, mas serem parecidas não é serem iguais, de modo que o que é
bom pra um, o que serviu pra esse um, o que agrada a esse um, pode ser
desprezível pro outro que viveu diferente, cresceu diferente, aprendeu
diferente e, principalmente, se sonhou diferente.
Dois irmãos, mesmos pais, idades
muito próximas e escolhas completamente diferentes e isso porque existem várias
formas de ser alguém.
Esqueçam seus sonhos para o outro
e apoiem o sonho do outro para si.
Quantos pais julgam mal seus
filhos porque os filhos se quiseram diferente de seus pais? E de quem é a culpa?
Dos pais é claro. Antes de acharem que sabem o que é melhor pro filho, deveriam
procurar entender o que filho sonha pra si e ao invés de desestimulá-lo,
ensiná-lo o quanto é possível viver bem simplesmente vivendo bem e não tendo
que ser “alguém”.
A ditadura do sucesso obnubila os
futuros. Estabilidade, bom salário, boa posição e muitas vezes infartos
precoces, depressões mais e mais fortes e uma miséria interior que parece sem
razão. Ao mesmo tempo, aquele que juntou menos, se disciplinou menos, está
vivendo mais, amando mais, sentindo mais e se permitindo até ser mal entendido
por quem acha que o que vale é o que se ajunta e não o que se soma.
Há espaço para todas as
diferenças, todas as profissões, todos os sonhos, todas as vontades, tudo o que
for – socialmente – entendido como bom. E até pra outras escolhas.
E não nos façamos reféns do nosso
medo de errar e nem inseguros pela crítica de quem nos quis dominar. Antes,
permitamo-nos mandar às favas o passado e suas companhias quantas vezes seja
preciso, recomeçando de novo e de novo, sempre vivendo quantas vidas forem
possíveis em uma vida, não nos preocupando com a próxima que não se sabe e que ainda não há, mas
com a única que por algum tempo ainda haverá.
Não nos queiramos modelos. Não
sejamos quem impõe, mas quem facilita; não quem sufoca, mas quem apoia; não
quem desanima, mas que estimula; não quem nega, mas sim, quem sabe o valor e a importância de
se ouvir e se dizer sim.
sexta-feira, 12 de dezembro de 2014
Do jeito mais difícil...
“Deixa estar para ver como é que
fica”. Esse parece ser o principal lema da maioria das pessoas. Não importa o
quão descontente elas estejam, é raro que pareçam inclinadas a mudar sua forma de
ser.
Até mesmo eu fico tentando me provar
o contrário do contrário quando, a bem da verdade, acho mesmo é que não existe
mais ou menos na vida. Mais ou menos é o disfarce do ruim. A gente pode até
ficar tão acostumado com o ruim que não faz nada pra melhorar, mas daí a querer
convencer que “tirando o que tá ruim, tá bom”, corresponde àquela tentativa
inútil de repetir uma mentira pra ver se ela se torna verdade.
O mundo está cheio de pessoas
sorrindo um sorriso vazio. Você assiste lábios bem abertos num sorriso que
tinha tudo pra ser bonito, mas que logo é traído pelos olhos que não são
alegres como o sorriso quis supor.
Você vê casais que trocam beijos
sem paixão, abraços sem afeto, carinho sem vontade, tudo como se fosse um script a ser cumprido em razão de uma
satisfação de outros que não sejam aqueles que já nem sabem mais porque aceitam
o menos.
Será que não está na hora de
dizer chega? Será que não está na hora de se admitir que a hora nunca é errada
quando é vivida, mas é sempre perdida quando se insiste em não viver, quando se insiste em não fazer o que se deseja, o que se quer, não fazer acontecer? Quanto
tempo até que não haja mais tempo? Há tempo... sempre há tempo enquanto tempo houver.
A gente sabe o que quer. A gente
sempre sabe o que quer. A gente sabe o que não quer. A gente sempre sabe o que
não quer. Mas cumprindo à perfeição nosso papel de nossos piores adversários,
achamos que nossas certezas sobre nós mesmos estão erradas e que há outro alguém
muito mais capaz de nos entender, completar e compreender melhor do que nós que nos sabemos, nos conhecemos e
dominamos o que pensamos, apesar disso ser justamente aquilo que mais calamos.
A esposa sabe que acabou. O
marido sabe que não devia ter começado. O empregado sabe que merece mais e o
sócio sabe que trabalha sozinho, mas todos permanecem unidos em nome de
qualquer coisa que no fim é o medo. Não aguentamos mais, mas insistimos com o mesmo.
Não queremos mais, mas continuamos com o mesmo. Já desistimos, mas não encerramos.
Tememos.
O engraçado é que a vida da gente
– e das gentes – nos ensina que ela sempre continua, não importa se acertamos,
se erramos, se nos alegramos ou se nos arrependemos, mas mesmo assim, a gente tem
medo. Medo de não ser a melhor decisão, de não alcançarmos uma melhor conquista
ou de não encontrarmos um caminho melhor e então continuamos no caminho que não
nos leva a lugar nenhum, vivendo uma vida que, a cada escolha que não
reflete nossa real ambição, só faz perder vida.
E daí morremos. Morremos cheios
de arrependimentos inúteis por não termos feito o que desejávamos sob a
desculpa fajuta de termos vivido exatamente o que podíamos, mas sem que tivéssemos
alcançado nada daquilo que nos queríamos.
Mudar não parece ser fácil, mas
acostumar a viver mal é viver do jeito mais difícil.
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