terça-feira, 24 de julho de 2018

A expectativa da dor do outro em confronto à nossa dor

Quantas são as dores que doem no mundo e nesse exato momento? Quantas são, no mundo, as pessoas que sentem suas dores e sofrem essa sua dor enquanto calam a dor que sofrem? Quantos desses somos nós calados no escuro de uma existência que mingua à espera da atenção que virará o resgate a nos salvar dessa ausência de ânimo de prosseguir e que há, seja porque a gente não entende o que vive, seja porque a gente não entende o que sente, mas que a gente se ressente do tanto que dói isso que a gente sente? E até quanto (qual o tanto?) nós sabemos das dores das pessoas que amamos para que, então, também possamos ajudá-las a enfrentarem o vazio da solidão em que se encerram sem que consigam querer qualquer coisa que não seja desistir?
É que me parece que nossas dores nos encerram em nosso mundo e num certo egoísmo de quem precisa ser notado para ser cuidado e só aí entender que importa pra alguém, de repente só daí entender que é amado. E note que não se trata de um “egoísmo” movido por uma indiferença ao outro, mas está mais ligado a não se estar em condições emocionais de entender que há esse outro que sofre como a gente sofre e que quer e espera o cuidado e a atenção tanto quanto a gente quer.
Ah, mas o motivo da minha dor é mais sério e porque ela dói mais eu também preciso mais”. Mas a dor é muita pra quem sente e não temos o direito de dizer em quem dói mais ou quem tem mais razão nessa dor que não finge que é dor e que sente. A dor será sempre muita praquele que sente. A dor será sempre muita praquele que sente.
Mas é certo que cada qual com sua dor e corremos o risco de estarmos quase todos distantes de podermos entender a expectativa da dor do outro. A expectativa de, na hora mais difícil, receberem o abraço que afague, terem o braço que sustente, o carinho que acalante, a palavra que encoraje e mesmo o olhar que denote compreensão.
E com a vantagem de que quem abraça também é abraçado, quem dá carinho é reciprocado, quem oferece a boa palavra, diz, mas também se ouve e pode se pegar refletindo – pra si e consigo – aquilo que de outro modo talvez nem pensasse. E nisso tudo cresceremos todos e nos salvaremos juntos.
Só que é preciso que tenhamos atenção. Atenção ao que se passa a nossa volta, atenção aos outros que nos dizem respeito, que nos são importantes, àqueles cujo sorriso nos alegra, de quem a felicidade nos move e sua dor nos comove (e tenho a certeza de que você consegue pensar em que são esses. E eles não precisam ser poucos e talvez seja bom se forem muitos. Você será bom, será boa, e ao contrário do que dizem, ser bom não é ser trouxa. Ser bom é apenas ser bom, ser boa é apenas ser boa. Mas um “apenas” que é muito).
Mas também é preciso coragem. A coragem de não ficar só esperando que alguém perceba que não nos bastamos sozinhos, mas que precisamos de alguém e então pedimos ajuda. A coragem de não querer medir a importância que tem na atenção que recebe, porque a vida vive e suga e muitas vezes a pessoa nos ama e nos quer bem e se não aparece sempre, não é por descaso, indiferença ou desamor, mas apenas está distraída – e iludida – enquanto espera que o amanhã permita que ela enfim nos encontre, e nos veja e nos esteja e demonstre o amor que tem (porque a gente sempre acha que o amanhã chega). Ela nem sempre (ou quase nunca) saberá que precisamos dela agora. Façamos saber que queremos quem precisamos e com isso demos a chance dele poder estar pra gente como não raro poderá e quererá (assim como, desde que saibamos, poderemos e quereremos).
Talvez se as dores se encontrarem, a felicidade se fortaleça e a humanidade, na sua melhor acepção, prevalecerá.