E de repente descobrimos que
somos coadjuvantes da vida do resto do mundo.
De repente finalmente descobrimos
que aquilo que fazemos conosco repercute na vida de muita gente que não é a gente.
De repente as pessoas se deram
conta de que vivem numa comunidade que vai além de quaisquer paredes ou
fronteiras. Que é bobagem achar ruim com haitiano, boliviano, chinês ou
coreano. Que você pode se pensar vivendo num país de primeiro mundo ou no apartamento
de luxo no ponto mais alto. O que os outros fazem e vivem te atinge. O que você
faz e vive, atinge aos outros. E por uma razão muito, muito, muito simples e
que deveria ser óbvia: somos todos da mesma espécie.
Essa divisão por cores, credos,
nacionalidades, tudo isso é apenas um monte de bobagem quando a gente entende
que somos todos tripulantes dessa nave azul de natureza tão castigada e bonita
que alguém escolheu chamar de Terra.
Esse vírus nos ensina que o
desamor, que a vingança, que a soberba e a ganância não agregam e nem
contribuem. Pior do que isso: apenas revelam que os que assim se conduzem, se
comportam e se conformam têm o pior em si.
Por outro lado, continuamos tendo
a possibilidade de fazer a diferença e de entender que muitas vezes a
personagem coadjuvante cativa mais do que aqueles que se julgam principais.
Porque o coadjuvante, na medida em que contém o todo, faz com que todos se
identifiquem de alguma com suas angústias, suas dores ao mesmo tempo que,
empáticos, torcem pela sua superação.
Vivemos tempos de poucos abraços
– alguns, de nenhum; vivemos tempos de isolamento que têm ensinado que a
tecnologia é compensatória, mas jamais deve ser o principal. Porque não há chat
em vídeo que substitua o perfume, o toque, o som, a presença que faz com que
nós nos sintamos tão amados e queridos e desejados como desejamos, queremos e
amamos.
Oxalá que ao final dessa
temporada, as fronteiras não se ergam, mas se abaixem. A humanidade não se
odeie, mas se repense, ressignifique, se ame.
Oxalá haja, de fato, uma nova
ordem no mundo que agregue o mundo em torno de um único e suficiente ideal:
enquanto estivermos aqui, estejamos uns com os outros. Não importa qual a sua
crença, qual a sua cor, seu gênero e seus sonhos. Aprendamos. Sem o medo do anticristo,
do diabo ou dos homens. Apenas medo de não sermos humanos.
Quem confia em Deus, peça ao seu
Deus; quem confia em deuses, apegues aos seus deuses. Se não são deuses, mas
forças da natureza que te inclinem para o bem, é o que você deve viver. Não me
cabe de convencer de nada que tenha a ver com tua alma. Até porque acredito que
cedo ou tarde, todos entenderão que nunca houve um único Deus sendo pregado no
mundo; cada um sempre fez seu próprio Deus. Apenas seja justo como se espera a
justiça de um Deus que valha a pena seguir.
E desaprenda a pensar só em você.
Você está isolado em casa porque o mundo conta contigo, você também conta com o
mundo... no final, só somos um quando somos parte do todo.