Noites insones são perfeitas para
ajudarem entender onde foi que a vida viveu e a gente perdeu.
De repente a gente revolve o
passado (o distante e o presente) e, na busca de se culpar pelo que deu errado,
raramente se permite absolver.
É como se culpar pela confiança
depositada em quem soube de você mais do que você mesmo se sabia confortável em
contar e de repente... silêncio. Reclusão nem tão forçada, mas que é dessas que
te deixa na dúvida do que realmente fora e, até do que será.
Mas que fique claro: a culpa é
minha.
Tenho a culpa de não ter sido
fiel àquilo que quis na forma que quis. A culpa de quem temeu o desejo que
escapa do controle porque não sabe se perder, mas que mesmo assim se perde tentando
se conter.
Em dias como ontem, acho-me novo
(por vezes até mais novo do que sou). É quando me lembro do tanto de vida e de
gente que já vivi. Isso foi determinante para decisão que acabei de tomar.
De uns meses para cá, foram
várias as vezes em que me arrependi de cada vez que falei o que deveria ter
calado ou que calei o que deveria ter dito. Lamentei cada vez que fui ridículo
por medo de ser objetivo e daí... ridículo. Mas não foi só disso que me arrependi.
Me arrependi de cada busca por
mulheres em quantidades tais que hoje julgo tenham me afastado de ter enxergado
que em algum momento me houve a mulher com a qualidade real.
Me arrependi por cada vez em que
disse “sim” para alguém que me queria e me pediu só porque não gostei do “não”
que um disseram pra mim e, de vez em vez, sem perceber, fui me violentando em
sentimento e, de violência em violência fui perdendo a coragem e a clareza e sozinho
e assustado, mas movido pelo coração estupido e esperançado, de repente quis
quem jamais me quereria (e não quis). Mas pusilânime como são os que são como
eu, tampouco me permiti lhe insistir que quem vale a pena sou eu. Antes, de
silêncio em silêncio, virei as costas.
Parti. E parti carregado de um malquerer
por mim mesmo, negando qualquer sentimento bonito e mentindo-o horrendo, cruel
e cruento. E enquanto isso, dei-me às outras, aconselhei a tanta e tantos,
romantizei em versos o amor a ser vivido, mas apenas porque distraído no
pretexto de viver para os outros a fim de deixar o risco de tornar a viver para
mim.
Se isso trouxe ganho ou sucesso?
Ah! Quase todas as mulheres que amei, não as tive. Também não soube viver
nenhuma daquelas por quem quis ser amado desde quando escolhi lhes amar.
Mesmo quando acreditei que era eu
quem seduzia, percebi-me feito objeto dos quereres astutos dessas mulheres
sagazes. A escolha jamais foi minha, vivido e vivendo, não raro, à revelia e à
indiferença da realidade do meu desejo e da minha libido. Muitas delas ocorreram
apenas porque elas quiseram e eu só estive justamente porque elas não eram aquela
que minh’alma (até então) devotada precisava que fosse. E não lamento o que na
juventude era até motivo de gozo. Mas agora, nessa primeira maturidade, representa
só caos e vazio... de alma.
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Ps1.: A par disso, uma quantidade
que não é muita, mas é o bastante de paixões machucadas, lamentos e dores
causadas, num processo em que só eu, com minha arrogância, inocência e
licenciosidade sou principal é único responsável por esse aviltamento de mim
próprio.
Quis ser como os poetas, mas não
me deram ópio. O fracasso é tanto que me tornei até mesmo incapaz de me embriagar
daquilo que não seja o sentimento em que me afundo. Desistir da própria vida?
Nem esse mérito eu seria capaz de me dar.
Mas então como posso culpar quem
dê as costas ao meu chamado, me evite e se esqueça de mim? Se até a minha
certeza de querer oferecer o meu melhor esbarra no meu histórico de não
esconder o que também há (em mim) de pior, como não entender quem se proteja e
se afaste e me afaste?
Ps2.: Não que eu inveje aqueles
que se dão a quem se querem e tem quem lhes deseje. O que tenho guardado em mim
é ainda muito mais e melhor do que o que há em todos eles. Mas é tudo cada vez
mais guardado. Cada vez mais enterrado no profundo de uma alma que não conhece
o que não seja dor; que até já esquecera como é sentir o alívio que acha que um
dia sentiu. Uma alma que brincou de amar e brincou com o amor que agora, por
isso, lhe pune. Pena pra essa alma que, triste e séria, até queria, mas a
verdade é que não sabe chorar.