Sim, porque a vida vive. E enquanto
ela vive ela nos exige algumas adaptações, algumas resoluções, algumas
concessões ao tempo e às circunstâncias que, no longo prazo, se não bem inteligidas,
nos desnaturam. Fazem com que, muitas vezes, olhemos no espelho e não nos reconheçamos
mais. É como se perguntássemos: quem é esse que é como alguém que eu nunca quis
ser?
É sempre um perigo quando nos afastamos
de nós mesmos. Porque há aquele modo de viver que a gente mesmo entende que nos
representa, que nos significa tanto que serve até como um porto, um ponto de
descanso repleto de um silêncio entrecortado apenas pelos pensamentos que nos
assaltam e se impõem à nossa reflexão.
Acontece que esses pensamentos de
silêncio são, não raro, a urgência da nossa existência. Representam a
necessidade de centrarmos quem somos naquilo que, mais do que precisamos,
efetivamente somos. E é claro que isso pressupõe um nível de honestidade nossa
para conosco que parece ser cada vez menos comum.
Vivemos tempos de distrações.
Tempos em que o mundo, as pessoas do mundo, parecem dispostas a fazer com que reajamos
mais do que reflitamos antes da ação. Um mundo que prefere nos entristecer para
nos manter sobre o controle da alegria programada pelo mesmo tempo da obsolescência
consumerista e o preço da nossa desatenção é nos descobrirmos cobaias de
experimentos que nos legam uma miséria interior, um vazio de bons sentimentos,
um excesso de desejos irrealizáveis, um caminho torto em rumo de um destino
inexistente.
Esse é o ponto. Como se afirmara
um dia: ou sabemos onde queremos chegar, ou pegaremos qualquer estrada. E qualquer
estrada pode ser o mais longo caminho para lugar nenhum. Precisamos nos
conhecer, nos conectarmos com nós mesmos. Precisamos da coragem de confrontar o
mundo que nos envolve, suga e que quase não nos devolve o que realmente possamos
aproveitar.
Por isso é importante que de
tempos em tempos silenciemos o mundo à nossa volta, olhemos para o nosso reflexo
no espelho e nos perguntemos: eu sou quem eu estou?
Apenas não tenha medo de se
descobrir, se duvidar, se reinventar e começar tudo de novo. Ninguém, mais do
que você, gozará a delícia de se permitir gozar o que deseja viver sendo quem
deseja ser. Não se limite.
E quando tudo parecer desmoronar
se pergunte: “o que deixei de fazer por mim?”. Nunca é tarde para começar.