sábado, 13 de junho de 2020

A falta que a gente se faz

Acontece com muita gente. Já aconteceu comigo e já aconteceu com quem eu gosto. É como se em algum momento da nossa vida percebêssemos que fomos separados... da nossa vida.
Sim, porque a vida vive. E enquanto ela vive ela nos exige algumas adaptações, algumas resoluções, algumas concessões ao tempo e às circunstâncias que, no longo prazo, se não bem inteligidas, nos desnaturam. Fazem com que, muitas vezes, olhemos no espelho e não nos reconheçamos mais. É como se perguntássemos: quem é esse que é como alguém que eu nunca quis ser?
É sempre um perigo quando nos afastamos de nós mesmos. Porque há aquele modo de viver que a gente mesmo entende que nos representa, que nos significa tanto que serve até como um porto, um ponto de descanso repleto de um silêncio entrecortado apenas pelos pensamentos que nos assaltam e se impõem à nossa reflexão.
Acontece que esses pensamentos de silêncio são, não raro, a urgência da nossa existência. Representam a necessidade de centrarmos quem somos naquilo que, mais do que precisamos, efetivamente somos. E é claro que isso pressupõe um nível de honestidade nossa para conosco que parece ser cada vez menos comum.
Vivemos tempos de distrações. Tempos em que o mundo, as pessoas do mundo, parecem dispostas a fazer com que reajamos mais do que reflitamos antes da ação. Um mundo que prefere nos entristecer para nos manter sobre o controle da alegria programada pelo mesmo tempo da obsolescência consumerista e o preço da nossa desatenção é nos descobrirmos cobaias de experimentos que nos legam uma miséria interior, um vazio de bons sentimentos, um excesso de desejos irrealizáveis, um caminho torto em rumo de um destino inexistente.
Esse é o ponto. Como se afirmara um dia: ou sabemos onde queremos chegar, ou pegaremos qualquer estrada. E qualquer estrada pode ser o mais longo caminho para lugar nenhum. Precisamos nos conhecer, nos conectarmos com nós mesmos. Precisamos da coragem de confrontar o mundo que nos envolve, suga e que quase não nos devolve o que realmente possamos aproveitar.
Por isso é importante que de tempos em tempos silenciemos o mundo à nossa volta, olhemos para o nosso reflexo no espelho e nos perguntemos: eu sou quem eu estou?
Apenas não tenha medo de se descobrir, se duvidar, se reinventar e começar tudo de novo. Ninguém, mais do que você, gozará a delícia de se permitir gozar o que deseja viver sendo quem deseja ser. Não se limite.
E quando tudo parecer desmoronar se pergunte: “o que deixei de fazer por mim?”. Nunca é tarde para começar.