O mundo está menos romântico. O
pragmatismo tem tomado conta do mundo. Cada vez mais me parece que as pessoas
fazem o que é necessário, deixando de lado o ideal, o bom. As vontades são
objetivas e as intenções cada vez mais egoístas. “Faço porque preciso”. “Faço
porque devo”. As decisões são tomadas como se sua única consequência fosse o
instante de agora, como se não refletissem o depois que virá. Estamos mais
egoístas.
Nas nossas relações parecemos
mais dispostos a tolerar o outro dentro de sua utilidade do que gostar com uma
sinceridade que justifique a satisfação de sua companhia. E à medida que somos
egoístas, sentimos o egoísmo do outro e estabelece-se uma dinâmica em que as
pessoas vão se protegendo da indiferença umas das outras, distanciando-se do
que é de verdade, e contentando-se com o fugaz, na expectativa de que assim
machuque menos. Mas machuca mais.
O mundo está menos romântico.
Daqui a pouco falarei do romantismo nas relações de homens e mulheres, mas
aqui, nesse primeiro momento, romantismo me surge em sentido amplo. E o mundo
está menos romântico.
As pessoas não desfrutam dos
momentos. Antes, superam esses momentos. Não olham mais o pôr ou o nascer do
sol, apenas veem que já é a noite ou já é a manhã de um dia/noite que não
perceberam passar.
Os casais, por sua vez, conversam
menos uns com os outros porque as tevês em cômodos distintos os livram do
silêncio constrangedor ou da obrigação sacra de se bastarem e as essas pessoas,
ao invés de se verem, conversam com as fotos umas das outras por detrás das
telas dos computadores.
Estamos próximos de muitos, mas
cada vez mais distantes de todos.
E onde vejo esse maior mal é nos
relacionamentos de homens e mulheres.
Por alguma razão que, provavelmente, é culpa de nós homens, o sexo também está ficando pragmático. Parece estar perdendo seu encanto. É mais um ato como outro qualquer.
Hoje, transa-se para saber se gosta. A impressão que se tem é que se banalizou de tal forma que, se antes o sexo era consequência de gostar, hoje, gostar é consequência de se transar. E isso parece bom, mas, ao mesmo tempo, não é.
Tenho visto casais que se formam na cama. Para saber se combinam, não importa se gostam das mesmas coisas, como também, parece não importar se sua companhia faz bem um para com o outro, se riem quando estão juntos, se sentem falta quando estão longe. O que querem saber é se o sexo é bom.
Talvez eu também padeça de falta de romantismo já que não chego ao ponto de achar que o sexo só é bom com quem se ama. Pelo contrário. Sei bem que o sexo pode ser bom quando feito com vontade, desejo, paixão. Isso não se acha só com amor. Mas trago comigo a certeza de que ele é infinitamente melhor quando consequência e não causa. Ele é verdadeiramente bom quando consequência da intimidade, do bem querer, do gostar, do conhecer e querer continuar conhecendo. Quando o desejo nasce disso, ele é genuíno e o sexo passa a ser o próximo passo dentro de um acontecimento natural.
Não tem jeito. Sexo por necessidade é a mesma coisa que sexo por obrigação. E nada que é obrigação é legal. Não dá pra ser tão bom assim.
Hoje em dia, sedução parece ser artigo de museu. Coisa de filme antigo. E, quando se pensa em sedução, ainda confunde-se tudo.
Seduzir não é vestir uma lingerie nova ou insinuar que conhece todas as técnicas do kama sutra que a NOVA publicou no último mês. Sedução também não é abrir a porta do carro mais caro ou vestir a roupa e usar o relógio mais em alta. Não é arrepiar o cabelo ou deixar o vestido subir quando você dança até o chão.
Sedução é se tornar interessante todo dia e a cada dia. Sedução é como a dança dos 7 véus em que a cada instante se revela um pouco sem que se mostre tudo. Sedução é o mistério revelado sempre com mais um a revelar. Isso torna tudo mais interessante.
Antigamente se valorizava a sutileza do flerte. A sedução (olha ela aqui de novo) era algo leve, gostoso, que fazia sorrir. A intenção do sexo movia pensamentos. Só que o sexo era o meio e não o fim.
Hoje sexo é o princípio.
Dependendo de como for, chega a ser o meio. E, em pouco tempo, também o fim. E
quanto nós perdemos em nome de “ter uma transa”?
E nos iludimos também! Corremos o
risco de achar (e muitas vezes achamos) que o mundo se baseia nessa satisfação
sexual e que já estamos no lucro se estamos transando. Sentimos vazio e
acabamos buscando transas em quantidade, enquanto a vida vai perdendo em
qualidade. E nos machucamos uns aos outros. Mas mais a nós mesmos que até temos
companhia, mas sentimos solidão (e que forma ruim de solidão).
E sim, grande parte disso é culpa
de nós homens. Quantas e tantas mulheres se sentiram tão usadas por homens que
não entendem a delícia que é conhecer e reconhecer (e continuar conhecendo) uma
mulher e, desgostosas por tudo, resolveram agir com os outros agiram com elas?
Quantas mulheres por se sentirem usadas passaram a querer usar? E daí, o que
era para ser o encontro de dois, passa ser a disputa entre vários e, ao invés
de serem felizes, vão se prendendo na solidão de si. E o sexo, que era pra ser
sublime, passa a ser somente bom (quando muito).
E daí nasce a geração Sex and
City. Transa-se, veste-se e vai-se embora. Não há sequer espaço para os
carinhos de depois.
Mundo, mundo... triste mundo.
Tristes nós.
Mas penso que ainda dá tempo de
resgatar o romantismo entre homens e mulheres. O romantismo entre nós e a vida.
Entre a vida e o mundo. Entre o antes, o agora e o depois. Não é possível que o
mundo esteja irremediável. Mas não podemos vulgarizar o viver. A vida é nossa e
não tem porque vivermos contra nós. Somos semelhantes e queremos muito
parecido. Temos medo da dor e, para não sermos magoados, magoamos. Para não nos
aproximarmos dos outros, afastamos quem quer se aproximar de nós. E ficamos
sozinhos. Mas ninguém quer sozinho, nem sentir dor, nem fazer doer...