
A mulher então, irresignada,
dirige-se à residência do profeta que, ao avistá-la ao longe, determinou a seu
ajudante que fosse até ela e perguntasse se estava tudo bem. O rapaz, seguindo
ordens precisas do profeta lhe perguntou: “Vai bem contigo? Vai bem com teu
marido? Vai bem com teu filho?” No que a mulher, que horas antes havia perdido
o filho, respondeu-lhe que sim. Como esse texto não é um texto bíblico, cumpre
só que eu diga que em razão da fé da mulher o profeta orou a Deus que, por Sua
vez, devolveu a vida ao filho da mulher.
A mulher respondeu que sim porque
sabia que o ajudante do profeta não poderia fazer nada e que, só valeria a pena
“se queixar” com quem pudesse resolver.
Mas, mesmo assim, agora sou eu que
te pergunto: Vai tudo bem contigo?
A “etiqueta do chat virtual”
implica sempre num mesmo início de conversa: “Oi, tudo bem?” , seguida de uma
resposta quase automática “Tudo e você”, por sua vez, treplicada por um “tudo
bem também”.
Mas será que está mesmo?
Há os que defendem que não vale a
pena se queixar da vida, que isso atrai energias negativas e que as energias
negativas acabarão deixando a vida ainda pior.
Existem, ainda, os que querem que
todos saibam que ele é feliz, ainda que por dentro esteja morto.
Claro que há, também, aqueles que
estão mesmo em um dia de graça, daqueles em que o céu parece mais azul, as
árvores mais frondosas e até o feio é bonito.
Nas três situações, todos estão
bem. Mas dá pra melhorar?
Quem nunca ouviu a expressão: “se
melhorar, estraga”?
Eu não consigo entender o seu
sentido. Como que é possível que algo que já é bom, ficando melhor, seja ruim?
Sempre dá pra melhorar e, se dá
pra melhorar, melhoremos então. Ficar melhor é mais do que bom. Até porque, só
falar não resolve muita coisa (pra não dizer que não resolve nada).
É certo que nossa vida é feita das
escolhas que fazemos. Como é certo, também, que essas escolhas se fazem e
surgem conforme certas circunstâncias que muitas vezes parecem impostas. E é
justamente por ser tudo isso certo que não devemos lamentar nossa vida. O que
somos hoje é fruto daquilo que nos fizemos a nós mesmos. Somos hoje o que fomos
ontem e amanhã seremos o que fizermos hoje. A culpa é sempre nossa e não
adianta querer lançá-la a mais ninguém.
E daí eu percebo que quando não
se tem nada, há força para se buscar tudo e, com isso, alcançar algo. Agora,
quando se tem algo – por pouco que seja – acabamos resignados no que obtivemos
e nos permitimos viver uma vida de menor ambição.
Simplesmente nos contentamos e
ficamos sendo o que já somos (mesmo quando nem somos tanto assim).
Ora, não fiquemos parados aonde
chegamos. Viver, por si só, é um desafio e a vida se vive é para frente. A vida
chegará a algum “depois”. Por isso, não se contente com o seu já, porque o já
de agora é pouco perto do que pode ser o “já” de amanhã. Se está bom, cuida
para que não fique ruim.
Mas cuidado mesmo! Não se deixe
tomar pelo descuido que faz com que percamos o interesse no que já temos. Não se
iluda e nem se permita iludir por essa teoria tão em moda do desapego.
Sim, precisamos deixar para trás
aquilo que nos impede de seguir em frente, mas precisamos ter certeza sobre aquilo
que deixaremos para trás. Faça daquilo que você já tem o ainda melhor do que
você terá. E reconquiste! E reviva! E refaça! Se redescubra! O que você precisa
já está, desde sempre, em você – e só em você!
Não fiquemos parados apenas
gozando o que já temos. Vamos ousar. Vamos fazer ficar melhor.
O que estraga é não cuidar do que
se tem, pensando, que o que se tem, pra sempre se terá. E é muito bom saber que
mesmo o bom ainda pode ficar melhor.
Se melhorar estraga? É claro que
não.
2 comentários:
Olá William!
Achei EXCELENTE o post!
Maravilhoso o texto!!! ...Perfeito quando diz: "O que estraga é não cuidar do que se tem, pensando, que o que se tem, pra sempre se terá. E é muito bom saber que mesmo o bom ainda pode ficar melhor.
Se melhorar estraga? É claro que não."
É bem isso... PARABÉNS!!!
Um grande abraÇO!
Como foi bom ler este maravilhoso texto, escutando um Soul do grande Tim Maia, musica "Se me lembro faz doer"
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