"Já é a manhã de uma noite em que
eu não dormi. O dia é frio. Suas cores são cinza. Enquanto caminho por centenas
de pessoas apressadas na inquietude da cidade, noto milhões de rostos que
carregam cada um sua história. Eles têm as suas como eu tenho a nossa.
Tento não pensar. Por um momento
noto que o calor da respiração contrasta com o vento gelado da manhã fria e
forma um vapor que saído dos lábios entreabertos na pressa de vários passos,
sobe ao céu como as minhas várias súplicas de dor.
Ninguém se dá conta de ninguém. Há
pressa por todos os lados. Todos caminham com a convicção de quem sabe onde
pretende chegar e, por um momento, penso que sou o único que caminha sem
destino.
Saí porque as paredes de casa me
sufocavam. Durante a noite acompanhei cada minuto das muitas horas do relógio
de parede do quarto de dormir. Tudo era incômodo. Mesmo a respiração me parecia
mais pesada. E eu me sufocava no silêncio do meu próprio silêncio.
Na escuridão da noite, tudo o que
ouvia era minha própria voz de censura e só o que enxergava era meu eu sem qualquer
satisfação. Era tão pouco o meu apreço por mim, que já não me sabia. Já não era
eu! Saí.
Agora vejo as pessoas carregadas
de suas certezas. Todos os que vejo parecem não ter dores e nem dúvidas. Eu sei
que eles as têm. Mas todos parecem disfarçar melhor do que eu. Ou talvez,
simplesmente não se importem. Ou não as tenham como eu.
E mesmo quando não te penso, sei
que estou pensando em você. Ainda quando te evito, sei que sou eu que te trago mesmo
quando não quero que venha.
Em você acho todas minhas dúvidas
e minhas piores certezas. Você é o meu erro mais certo. Você é a minha certeza
do não, mas é também o sim que eu mais quero. Bendito seja o maldito dia em que
te conheci.
Tudo diz que não pode ser.
Teimoso, insisto em querer sim.
Eu não conto nosso tempo pelos
dias em que te conheço. Eu conto nosso tempo pelos sorrisos que sorri por causa
de você.
Não importa se os dias que se
somam só contam meses e nem que a soma de nossas horas juntos sejam menos do
que o total de um dia. A mim, não me importa nada que faça parecer menos o que,
em mim (e pra mim) é muito. A mim, não importa nada que não seja você.
E nem procuro o que diminua a tua
presença em mim.
Desde você eu desconheço o que é
paz. É como se meu mundo fosse outro mundo e aos meus dias se tivesse revelado
a razão para cada novo dia. Razão que se perde na falta de você.
Se a ideia era descobrir como
seria, já sei que não gosto.
Cada um dia é menos um dia...
menos para nós.
A tua falta é a agonia eterna que
não vai passar. É a ausência que se fará presente em cada dia que se lamentará
o silêncio do que deveria ter sido dito.
Mas eu calei.
Agora que me é proibido te ver,
que me é proibido te falar, te tocar, saber de você e estar com você, tudo em
mim é desespero e nada em mim faz sentido.
Abrir os olhos pela manhã é menos
uma vitória. À noite eles insistem em não se fechar. Falta o sono onde sobra a
vida. Quisera fosse o contrário.
Ah! Tanto pra dizer e eu calei.
Sei que de nada me adianta te
dizer agora, só que te escrevo mesmo assim. Eu insisto e te escrevo, mesmo
sabendo que você nada me dirá. Escrevo mesmo diante da certeza do teu silêncio.
Aqui, agora, te proponho o que te
proporia se te houvesse pra mim. Não é uma certeza de agora. Já sei desde antes
e se calei é porque fui fraco e achava que sempre haveria amanhã e, num amanhã
desse amanhã, haveria a coragem que sempre me faltou.
Agora, tudo o que queria era a
chance de te encontrar numa tarde de sol e te ver sorrir feliz por me ver. Te
abraçar e sentir teu perfume. Me afastar o espaço pro beijo que me faz tanta
falta e, depois do beijo, acarinhar teu rosto que ainda me sorri. E, então, te
dizer da mudança da minha vida nascida do instante de você. Te faria saber como
o meu mundo era vazio de você. Como você é a luz de uma vida que antes era só sombra
e como você deu cores para o que antes era mais cinza do que essa manhã fria em
que não consigo não pensar em você.
Nesse instante, teus olhos nos
meus, meu sorriso sendo culpa do teu, eu te proporia mais e mais sorrisos todo
dia. Te proporia uma vida cheia de alegrias e de uma felicidade que
descobriríamos juntos, porque fruto de nós dois. Não te prometeria não sentir
tristeza, mas te seria o conforto em cada dor, porque, naquele instante te
proporia o amor que te sinto pra sempre e que é só teu.
Te proporia ser feliz a vida
inteira e te faria feliz e seria feliz porque é você e sempre fui feliz quando
me via feliz com você.
Eu te proporia uma vida de sonhos
que não são sem graça. Sonhos de verdade, reais. Sonhos que seriam sonhados
juntos e vividos mais juntos ainda. E,
então, eu te proporia um eterno recomeço. Um reencontro de todo dia. Um novo
sorriso a cada manhã e um novo desejo em todo cair da noite.
Você me sorriria e com um beijo
me diria, sim. E eu sorrio agora imaginando como seria se tudo isso terminasse
com você pra mim.
...
Mas não. Calei. Agora me resto
eu. Sozinho. Rodeado de milhares de pessoas, mas sozinho. Não há mais você pra
mim. Não agora. Não neste mundo. Não nessa vida.
O amanhã não te trouxe. Ele te levou.
E levou errado. Errou porque só te levou. Só você! Ele não tinha que ter me
deixado aqui, sozinho, pra sentir tanta falta tua e com tanta dor. Mas você não
volta. Você não vai voltar.
Já tenho medo de não me lembrar
do teu sorriso.
Ah! Dor! E dói! Já não me há vida
que me interesse sem tua vida. Não há cor e já não importa a luz. Não há música
e nem há dia que não seja noite e nem noite que não pareça a eternidade do
sofrimento de quem tem que fechar os olhos pra te ver, sabendo que jamais
poderá te tocar.
Essa vida já não me basta. Dela
não espero mais nada, senão que acabe.
Quero a próxima. E me espera! Vou
cruzar quantos céus forem precisos. Desafiarei quantos deuses tentarem me
impedir. Não aceito o fim de agora. Viajarei quantas vidas forem, mas te acharei
numa nova vida, te encontrarei. Teu abraço será do meu abraço. Teu sorriso será
do meu sorriso e teu beijo será o repouso da minha alma, como teu corpo o
destino ideal do toque meu.
Então me espera! Seremos juntos e
pra sempre... eu te proponho! "
3 comentários:
Este texto me lembrou algo, ou alguem!
PROPOSTA
Eu te proponho,nós nos amarmos.
Nos entregarmos neste momento.
Tudo lá fora deixar ficar...
Eu te proponho te dar meu corpo,depois do amor
O meu conforto e além de tudo,depois de tudo
Te dar a minha paz...
Eu te proponho na madrugada,
Você cansada te dar meu braço
No meu abraço fazer você dormir...
Eu te proponho não dizer nada
Seguirmos juntos a mesma estrada
Que continua depois do amor
No amanhecer
No Amanhecer!
Eu Te Proponho!
(Roberto Carlos)
Olá, Poliana. Que bom que você passou por aqui.
Acho que não foi por um acaso que esse texto te lembrou esse "algo" ou "alguém".
Na verdade, esse texto é fruto de uma manhã de segunda-feira que passei cantarolando essa música. Daí ter feito um texto com "as minhas próprias" propostas...
Espero que passe aqui mais vezes...
Passarei, ou melhor estou ficando!
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