Gosto de música e é a música que
gosto que – pretensiosamente – uso chamar de boa música. Gosto de dormir
ouvindo música, gosto de estudar ouvindo música e de escrever ouvindo música. Vivo
música e prezo que minha vida seja em música e como música.
E é na música que tenho quem seja
meu único ídolo. Não que me faria indiferente a figuras icônicas como
McCartney, Jagger, Rod e outros Rock stars que tiveram uma vida que eu penso
que gostaria de ter tido (riscos de overdoses à parte). Mas quando se trata de
Chico, aquele Francisco Buarque de Holanda nascido em 19 de junho de 1944, não
há quem me seja mais.
Durante meus primeiros anos Chico
foi pra mim um jogador de sinuca na contracapa de um LP antigo de um tio. Não
sabia o que cantava, não sabia nem se cantava. Era apenas um nome. Um nome
forte de alguém importante, mas que eu não sabia quem.
Descubro o Chico artista aos 13 e
me encanto com a prosódia incomum de uma moça do sertão que sonhava conhecer e
morar no Rio. A Violeira, parceria com Tom, foi a primeira música que ouvi e
depois gostei.
Tom. Tom foi parceiro de Chico e
fizeram ‘Pois é’ e ‘Sabiá’. Levaram um Piano pra Mangueira e perderam a noção
da hora olhando Marias em retratos branco e preto por aí. Tom que era ídolo de
Chico que treinou com Francis para saber fazer música pra Tom Jobim. E foi
parceiro de Edu, amigo de Toquinho e compadre de Vinícius.
Chico que é grande e nas cordas
do violão lutou pra derrubar uma Ditadura levada pela Roda Vida que mostrou
pros maus que apesar deles tudo poderia ser diferente e ninguém precisaria
falar de lado, olhar pro chão como nesse tempo quem passou e se voltar sempre
vai passar.
Chico que é fruto da raiz de
Sérgio e Maria Amélia e que desde pequeno se pensou cantor.
Chico que é pai de Sílvia, Luísa
e Helena, mas também de muitas Bárbaras e Anas e Marias e Joanas, Iracemas,
Terezinhas e Genis.
Chico que fez Beatriz que não
estava na poesia...
Chico que ainda menino cantava
com Vinícius e desenhava com Oscar.
Ah! Chico... aquele menino calado
e travesso que puxava carros ao longo do Pacaembu em que fazia olas e gritava
olés (Olê, Olá?)
Chico do Pedro Pedreiro sempre
esperando, esperando, esperando e se guardando pra quando o carnaval chegar.
Chico do amor que é pra ser
sentido e cantado e não sofrido, nem chorado. Amor barato...
Chico do riso tímido e do verso
sem-vergonha, da homenagem ao malandro e paratodos que fizeram dos seus versos
mais do que canções.
Chico que perdoou a amante que
ele mesmo traiu e cantou os amantes que no futuro serão a história passada no
Rio de tantos sonhos e amores e sambas e canções...
Chico à flor da pele e à flor da
terra nos seus “O que será? O que será?”
O mesmo Chico que faz música com
paralelepípedo e que quando canta escafandrista, faz ter sentido essa palavra
feita pra ofender qualquer canção.
Chico que mandou às favas o
Evangelho e os Orixás, mas pediu a benção de santos e ainda os mudou de lugar
numa permuta pela chuva que traz água.
Chico que domina o português,
apesar de gostar do francês, ter vivido em italiano e ainda arranhar o inglês.
Quis fazer música inteira terminar em proparoxítona, fez. Quis versos em que destacasse
paroxítonas, destacou... Chico é mestre na arte de dominar a composição que ele
criou.
Chico que fez ode à bola e que se
fez cego à Rosa; lamentou a Rita e parou
pra banda... Chico viu e cantou a banda passar. Mas a banda de Chico não
passa...
Chico, quem te viu, quem te vê? E
eu te vi em três shows e cantei, cantei, cantei e nem era cruel cantar assim.
Chico que com Tom introduziu a
turma do funil... Chico Buarque (que é) de Holanda, mas bem pode ser Chico
Buarque do Brasil.
Um comentário:
Excelente, William. Um dos melhores textos que você já escreveu. Sou suspeito, pois compartilho a idolatria, mas o texto está mesmo brilhante e as referências às músicas encaixaram-se muito bem. Parabéns. Abraço.
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