Ela era dele, mas só ele sabia. Quem
lhes via de longe não pensava (e nem podia!) serem de si quando, aos olhos do
mundo, eram de outros.
Ele era dela, mas só ela sabia.
Serem um do outro era o suficiente para que vivessem os dias dos anos em que
não seriam mais do que a soma desordenada de uma existência que só não era
vazia quando se viviam.
Eles se eram um do outro. E serem
assim é o que lhes fazia felizes. Completos na sua própria incompletude, eles
nunca foram muito, mas, mesmo assim, são o máximo.
Não se convivem como pensavam,
mas se pensam mais do que convivem. Mesmo distantes, servem como a força um do
outro. Mas eles nunca estão longe.
Olhos nos olhos é o máximo que se
têm. Suas mãos não se tocam, seus lábios não se conhecem e seus corpos são a
espera feita em fantasia no silêncio de uma noite em que o melhor parece calar.
Mas eles não calam.
Se é que é nos olhos que se têm,
deixam que os olhos “falem”. E eles dizem tanto. Num brilho, num piscar mais
longo, às vezes mais rápido. Diante de si, os olhos sorriem e eles sorriem com
os olhos. É também no sorriso que se sorriem ao perto ou ao longe, que dizem
que se gostam e como se gostam e do tanto que se gostam. E é muito. É tanto. É
como o tamanho do céu. Sabe-se que é grande e basta!
E no fim, não é isso que tem que
ser o amor, qualquer tipo que seja de amor? É se dar sem esperar a troca e, se houver troca, ser feliz por ser feito feliz por quem te importa feliz? Querer-se bem apesar de se ter? Apesar do ter? Preocupar-se com a felicidade de quem se gosta, mesmo que não seja você esse
alguém que faça feliz a quem, verdadeiramente, quer se saber bem?
E eles se querem... se quererão. Porque
ela é dele, ele é dela e, assim, serão.
Um comentário:
"em minha boca seca de querer-te,
de desejar-te tanto e sem alarde,
fome que não sofria padecer-te
assim pasto de tantos, e eu covarde". (Carlos Drummond de Andrade)
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