Toda mudança é um rompimento.
Rompe-se com o que se era, com o que se cria, com o que se pensava. Rompe-se.
Rompimentos não são indolores. Não. Rompimentos são sempre abruptos, duros, mas
também necessários.
Essa necessidade de mudança não
costuma surgir de uma hora pra outra. Pelo contrário. A mudança tende a ser
sempre postergada até o momento em que ela se faça inevitável. Por se saber
abrupta, sabe-se que ela tem toda a condição de causar dor e, geralmente, se a
dor puder ficar pra depois, ela ficará. A mudança, então, também.
Só que viver é estar em constante
transformação. Eu não posso ter por objetivo chegar ao amanhã sendo o mesmo que
hoje. Não posso ser daqueles que não são afetados pelo mundo a minha volta e
que, não importa quanto viva, não importa quantos encontre e nem quanto
experimente, continuarei sendo o mesmo que sempre fui. Preciso estar sempre aberto a que me venha o
novo e, a partir desse novo, preciso repensar cada passo da minha caminhada a
fim de ajustar os passos que virão, corra eu o risco que correr.
Sim, porque a autoanálise é
sempre perigosa. É fácil medirmos a vida alheia. É fácil querermos apontar os
erros e os acertos das outras pessoas; mas nos defrontarmos com nós mesmos,
nossas escolhas e nossas consequências, pode ser uma das experiências mais
doloridas a que nós mesmos nos sujeitamos.
Ninguém gosta de estar errado e,
muitas vezes, analisar-nos implicará em por vezes acharmos que hoje estamos
mais errados que antes e por vezes descobrimos que antes estivemos mais errados
que hoje. E é difícil saber qual desses erros é o mais desesperador. O tempo
que se perdeu ou o tempo que se perderá...
Contudo, a vida que anda pra
frente não pode ser refém das escolhas passadas. O que não deu certo, o que não
faz bem, o que entristece pode – e tem – que ser deixado de lado. E isso é
crescimento.
Crescer não é só o processo que
se inicia na infância e percorre ao longo de toda adolescência e início da vida
adulta. Se tornar grande não é um processo apenas físico mas, principalmente, mental
e espiritual lato sensu. É continuar
absorvendo o mundo, refletindo o mundo e construindo a mim como alguém que se
sabe capaz de ser melhor para o mundo, aqui entendido desde o planeta Terra até
a minha vizinhança ou a comunidade (socio-familar-religiosa) que me tiver por
mais tempo.
Mas crescer dói. É o osso que
enquanto cresce, estica a pele e rompe músculo que precisa se regenerar, cicatrizar
e continuar irresoluto até o seu destino e, mesmo ali, continuar firme para
cumprir sua função, mesmo precisando se curvar. Crescer é a coragem de se lançar
no precipício da dúvida sabendo que muitas vezes, o percurso vale mais que a chegada.
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