Não tem jeito. Ele é desse jeito
e você tem que aceitar. E você vai aceitar e ele não vai nem perceber que você
está aceitando.
Não adianta, ela sabe que está
certa e que o jeito dela é o melhor e que você vai concordar porque, no fundo,
tem juízo.
Está consumado! Você já decidiu
como quer, já definiu a tua fé e não aceita que te digam o contrário. Estar com
você é pagar o preço que você acha que vale, mesmo que no fundo você só pareça
saber quem é.
E, então... confusão!
É assim todo dia em todos os
lares do mundo. Nos quatro cantos do planeta as pessoas são a soma do que
agrada e do que desagrada e nem sempre se separarem corresponde à melhor opção.
Muitas vezes não é nem mesmo uma opção.
Famílias, casais, colegas de
trabalho, vizinhos, todos esses agrupamentos resultam na junção de diferentes
seres-humanos, dotados de diferentes psiques, formadas a partir de concepções
surgidas de várias influências a que foram submetidas ao longo de sua criação.
O resultado é uma heterogeneidade mais ampla e presente do que o afeto dos
primeiros momentos é capaz de sugerir e que, momentos após, já não é mais capaz
de permitir mascarar.
Não raro nos deparamos com
situações de maridos e esposas que parecem já não concordar em nada ou com pais
e filhos que parecem desunidos pelo vínculo do sangue, sempre com vozes
exaltadas, dentes semicerrados, musculatura tensa e pressão arterial em picos
de alta, cada qual tentando fazer prevalecer a sua maneira de ver a vida, tantas
vezes crentes de terem a maneira melhor. Apaixonados por seus argumentos,
desmerecem e desprestigiam o argumento do outro e, se puderem, até o impedem de
falar.
Ainda assim, a real tristeza é
quando, apaixonados por nossos argumentos – e, muitas vezes, por quem julgamos
que somos – a nossa intransigência (máscara mais que perfeita da nossa
insegurança não revelada) faz com que sejamos duros com quem nos é querido em
circunstâncias normais. Para defendemos nosso ponto de vista (muitas vezes com
sua data de validade expirada) usamos de palavras cruéis, de descaso, de
indiferença e de desprestígio. Tantas e muitas vezes, a fim de nos destacarmos
diante do opositor das nossas ideias (cônjuge, pai, filho, chefe ou só mais um
rapaz), reduzimo-los a menos do que o pouco que os consideramos, para que, lá
de baixo de onde os lançamos, ergam suas cabeças e nos vejam mais alto que a
pouco altura onde nos achamos.
“Você diz que teus pais não o
entendem, mas você não entende os teus pais”, cantou um dia o poeta do rock
nacional. E que verdade tão bem urdida. Ninguém entende ninguém onde todos
querem ser a última voz certa e perfeita. Gritam uns com os outros porque o som
do outro me ofende ao me fazer pensar que posso estar errado no meu jeito de
ter vivido até agora e se ele me faz duvidar desse ser perfeito que me julgo
que sou, ele não serve para dirigir a palavra pra mim.
Mais grave é quando acreditamos
nas mentiras calculadas que os outros contaram pra nós. De repente nos pegamos
acreditando que somos mesmos os mais brilhantes, os mais inteligentes,
agradáveis, melhores amantes, maiores amantes, companhia agradável e opinião
que não se pode dispensar. Encantados com a doce voz da sereia que atrai para a
morte, seguimos resolutos e orgulhosos ao destino cruel da solidão ventral em
que repousa a morte de quem só quis ouvir o bom, sem se preocupar se também era
o certo.
E brigamos. Brigamos, discutimos,
nos perdemos e, se tivermos sorte, de repente nos achamos. E é quando a
experiência se acumula e a gente entende que toda briga é imatura e coisa de
quem acha que a vida só ganha quem joga e vence, enquanto tanta gente ignora
que é preciso perder pra entender de ganhar. Ah, juventude que tem com a pressa
do fim, nem percebe o tempo passar.
O papel do amor é ensinar
esperar. Ensinar a entender antes da mania de julgar. É não concordar com nada
e isso não importar porque entende que dois diferentes não precisam brigar. Se
amo o meu contrário deve ser mais fácil aceitar.
Aceitar não vai impedir o
confronto. Nem precisa. Mas sem dúvida que amar ajuda na solução desse confronto, e isso porque o amor ensina e a gente aprende a não ver o outro que não concorda com a gente como adversário, mas sim, como o companheiro de uma jornada que ninguém falou que era fácil, mas que mesmo assim a gente escolheu passear.
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