O tempo que eu tinha era o tempo todo
que eu ainda teria e nada como ter a sensação de ter todo o tempo para se
deixar o tempo passar. E ele passa.
Na inocência das minhas infinitas
possibilidades, eu me guardava as mil aventuras em que era sempre rei, herói,
mocinho dos mais galantes e precisos.
No alto de cada sonho, eu acreditava
em cada sonho e investia em cada espera de ele se realizar.
Não me disseram que sonhos não se
realizam, mas precisam ser realizados. Não me ensinaram que sonhos são apenas
sonhos e que por isso não existem. Não me contaram que sonhos seriam a garantia
de toda futura frustração.
Mas esses “eles” ocultos deveriam
ter sido sempre eu. Eu que não quis ser de mim, mas me perdi no aguardo de
saber ser do que me regesse. E nem nisso soube ter sucesso. Nem nisso soube ser
feliz.
Invejo quem tem lágrima. Deve ser
bom poder chorar.
Porque agora, o tempo pode até ser
muito, mas tudo o que parece é que é pouco.
As aventuras que fariam reis são
desventuras que me fizeram bobo.
Os caminhos que não lograram risos
vestem penúria. E tudo em frente é só a escuridão já descoberta, desvendada e
destapada.
O que era pra pôr-se desde o alto
já há muito que se sente no mais baixo como a vida que, desvivida, descansa do
mundo debaixo de todos os pés.
Tudo é o passado do que nunca se
fez presente. História terrível do que nunca se providenciou. Não se trata do
irrealizado. Dói é o que não realizou.
As perguntas são: em quantos
erros nos dividimos ao longo desse viver? E de que vale tudo isso? De que vale o
saber o que se aprende se só se sabe quando já parece tarde demais? Quando, ao
final, toda a sabedoria que o erro nos traz acaba e o resto... bem, o resto,
como em Hamlet, “é silêncio”. E mais: quem aprenderá com esses erros que se
acumulam e só? Se não a mim, a quem servirá essa existência vil que se acumula
em dias só pra me fazer mais enfadado da minha própria cara?
Gostaria de saber sorrir. Mas na
verdade, invejo quem tem lágrima. Deve ser bom poder chorar.
Um comentário:
O TEXTO É BOM!!
CHORAR, de tristeza ou de alegria, TAMBÉM É BOM. Mas requer moderação.
Se me permitem o autor e os leitores, gostaria de fazer a "pergunta de 1 milhão de dólares". Posso? Peço que, por gentileza, responda(m):
- Os meus erros. Se não os tivesse cometido, estaria (mais) feliz? QUEM GARANTE?
Parabéns pelo texto!
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