Acho que já aconteceu com (pelo
menos quase) todo mundo: às vezes nem você sabe o que quer, mas você quer que
saibam o que você quer e sem que você tenha que dizer daquilo que você nem
sequer tem certeza se de fato queria. E daí quando sai tudo diferente do que
você não tinha pensado, você se chateia, fica triste e se te perguntam o que
foi, o que tem ou o que há, a tua “resposta-mentirosa”, mas também a mais
sincera é: “nada”.
A gente é gente esquisita e
atrapalhada quando trata com outra gente. É todo mundo muito cheio de um querer
que pode surgir de repente e mudar mais de repente ainda e como é muito óbvio –
pra gente – que o que a gente queria agora já não é o que a gente quer porque a
gente logo passa a ter outro querer, que logo “como assim você não consegue me
entender?”. Pra gente, o que a gente quer é sempre óbvio (mesmo quando a gente
não sabe o que quer).
Só que pra muita gente acaba sendo
pesado conviver com essa gente (que, no fundo, é a gente) que sente aquilo que
é seu e, então, reage ao que outro (não) entende daquilo que ela sente. Para o
outro acaba sendo como se fosse tudo, mesmo óbvio. Até porque, é fato que, sentir,
sentimos todos. Mas, cada um ao seu modo, basta a menor distração para que
passemos a nos ocupar das ausências que nos esvaziam e esqueçamos que também somos
parte de vazios a que nos cabe lugar.
Nem sempre o outro sabe o que ele
“tem” que fazer porque muitas vezes ele perdeu a sequencia dessa história – e
história, aqui, no sentido de instante que antecedeu essa tristeza, ou
necessidade, ou falta do que faça sentir o bem que falta naquela hora. Ora, a
vida vive de muitos lados e o mundo como vivemos hoje é vário, é múltiplo e parece
não permitir – nem tolerar – uma atenção cujo vetor mire uma direção única por
um tempo longo e único.
A intenção do texto certamente não
é ser bonito, nem trazer um final pomposo ou romântico. O momento atual é o de um mundo em que a gente faz mais de uma tarefa ao mesmo
tempo. É tempo em que se fala ao telefone e digita e responde alguém que passa
pela mesa e presta atenção em volta pra ver se o colega a quem deve um recado
passa e ainda olha no relógio porque está pensando no prazo que em breve vai vencer.
Estamos concentrados em tanta coisa que talvez não nos concentremos em quase
nada.
Nos relacionamentos podemos mesmo
acabar esperando do outro que ele tenha a atenção que nos falta (e que nos
falta em todos os sentidos que uma atenção pode nos faltar). E o mais grave é
que isso pode se dar numa via de mão-dupla que a nossa distração em relação a
tudo o que a gente se julga atento pode fazer com que a gente nem note. Podemos
acabar cobrando o que não damos e lamentando pelo que recebemos sem que demos o
devido valor.
Talvez seja o caso de lidarmos
melhor com o que temos de nós e em nós e entendermos que o outro só tem da
gente o que vai da gente. Não é certo esperar que o outro adivinhe as nossas
necessidades e dores, nem carências e rancores. Contar com a perspicácia do
outro como se fosse sua função ser o melhor que a gente possa querer, mas sim, sorrir
com a sua vontade de ser o melhor que ele ou ela saiba ser quando nos quiser dar
o que a gente confessa que precisa. Um
para o outro dentro do que são, mas sem querer ir além do que podem, até
porque, gostar é aceitar quem a pessoa é sem querer levá-la a ser aquele outro
ou aquela outra que a gente idealizou, mas parece que não encontrou e daí quer
criar a partir de partes que já são alguém.
É... talvez até esse outro exista
em algum lugar e daí é você quem está errado se mantendo com quem está no
limite do que pode te dar e você acha pouco e daí cobra tanto de quem não tem
mais como pagar.
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