Quantas são as dores que doem no mundo
e nesse exato momento? Quantas são, no mundo, as pessoas que sentem suas dores
e sofrem essa sua dor enquanto calam a dor que sofrem? Quantos desses somos nós
calados no escuro de uma existência que mingua à espera da atenção que virará o
resgate a nos salvar dessa ausência de ânimo de prosseguir e que há, seja
porque a gente não entende o que vive, seja porque a gente não entende o que sente,
mas que a gente se ressente do tanto que dói isso que a gente sente? E até quanto
(qual o tanto?) nós sabemos das dores das pessoas que amamos para que, então,
também possamos ajudá-las a enfrentarem o vazio da solidão em que se encerram
sem que consigam querer qualquer coisa que não seja desistir?
É que me parece que nossas dores
nos encerram em nosso mundo e num certo egoísmo de quem precisa ser notado para
ser cuidado e só aí entender que importa pra alguém, de repente só daí entender
que é amado. E note que não se trata de um “egoísmo” movido por uma indiferença
ao outro, mas está mais ligado a não se estar em condições emocionais de
entender que há esse outro que sofre como a gente sofre e que quer e espera o
cuidado e a atenção tanto quanto a gente quer.
“Ah, mas o motivo da minha dor é mais sério e porque ela dói mais eu também
preciso mais”. Mas a dor é muita pra quem sente e não temos o direito de
dizer em quem dói mais ou quem tem mais razão nessa dor que não finge que é dor
e que sente. A dor será sempre muita praquele que sente. A dor será sempre
muita praquele que sente.
Mas é certo que cada qual com sua
dor e corremos o risco de estarmos quase todos distantes de podermos entender a
expectativa da dor do outro. A expectativa de, na hora mais difícil, receberem o
abraço que afague, terem o braço que sustente, o carinho que acalante, a
palavra que encoraje e mesmo o olhar que denote compreensão.
E com a vantagem de que quem
abraça também é abraçado, quem dá carinho é reciprocado, quem oferece a boa
palavra, diz, mas também se ouve e pode se pegar refletindo – pra si e consigo –
aquilo que de outro modo talvez nem pensasse. E nisso tudo cresceremos todos e
nos salvaremos juntos.
Só que é preciso que tenhamos
atenção. Atenção ao que se passa a nossa volta, atenção aos outros que nos
dizem respeito, que nos são importantes, àqueles cujo sorriso nos alegra, de quem
a felicidade nos move e sua dor nos comove (e tenho a certeza de que você
consegue pensar em que são esses. E eles não precisam ser poucos e talvez seja
bom se forem muitos. Você será bom, será boa, e ao contrário do que dizem, ser
bom não é ser trouxa. Ser bom é apenas ser bom, ser boa é apenas ser boa. Mas
um “apenas” que é muito).
Mas também é preciso coragem. A coragem
de não ficar só esperando que alguém perceba que não nos bastamos sozinhos, mas
que precisamos de alguém e então pedimos ajuda. A coragem de não querer medir a
importância que tem na atenção que recebe, porque a vida vive e suga e muitas
vezes a pessoa nos ama e nos quer bem e se não aparece sempre, não é por descaso,
indiferença ou desamor, mas apenas está distraída – e iludida – enquanto espera
que o amanhã permita que ela enfim nos encontre, e nos veja e nos esteja e
demonstre o amor que tem (porque a gente sempre acha que o amanhã chega). Ela nem
sempre (ou quase nunca) saberá que precisamos dela agora. Façamos saber que
queremos quem precisamos e com isso demos a chance dele poder estar pra gente
como não raro poderá e quererá (assim como, desde que saibamos, poderemos e
quereremos).
Talvez se as dores se encontrarem, a felicidade se fortaleça e a humanidade, na sua melhor acepção, prevalecerá.
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