A vida vive enquanto você não
está. Pessoas riem quando você não está. Amantes amam quando e enquanto você
não está. Amores surgem, principalmente, quando você não está. A questão passa
a ser: quanto tempo dura a falta que alguém sente de você? (Isso se realmente
alguém sentir a falta de você). Ou será que há mesmo quem lembre ou pense na gente?
Sim. É doído, mas talvez precise
ser pensado. Vivemos a ilusão da nossa significância (se não para o mundo,
talvez para alguém). Mas quão importante realmente fomos ao ponto de a nossa
partida fazer falta? Ou ao ponto de quem não nos quis lembrar que algum dia
teve a oportunidade de nos ter? Será que só eu que fantasio que algum dia, no silêncio
de alguma noite, alguém se pegará pensando “como será que ele está?” ou “o que
será que ele tem vivido?”?
Afinal, é bom saber que não foi
em vão. É bom saber que não somos descartáveis e, por isso, não fomos simplesmente
descartados. E enquanto a verdade não vem, é boa a ilusão de que somos pensados
por alguém que é esse mesmo alguém sobre quem não deixamos de pensar.
Mas não é bem assim que funciona.
Mesmo a gente pode listar pessoas que vivemos e que nos viveram e que hoje, sem
algum esforço, nem passam pela nossa lembrança. E é assim porque há, de fato, outra
vida acontecendo. Há outros encontros, outros projetos. Outras prioridades. Ou mesmo
a indiferença de quem não está disposto a alimentar no outro (que dirá em si) qualquer
tipo de contato que acrescente menos do que o potencial que tem para desgastar.
E outra: se nós raramente somos a nossa prioridade, por que seríamos alguma
coisa de alguém?
Então não sofra por quem não te
faz questão. E nem se sinta menos. Aceite a ideia de ser útil pelo momento em
que foi ou a ideia de que não te viram útil em momento nenhum. Cada um sabe de
si e escolhe por si. Não se trata de não te quererem por causa de você, mas sim
por causa deles. E não é justo – nem razoável – que queiramos ressignificar a
vida de alguém que tem seus sonhos e sua própria ideia de viver bem.
Sendo assim, qual o valor de
alimentarmos um passado com tanto potencial de aprisionamento? Por que nos
prendermos à ideia de que em algum lugar alguém perceberá que cá onde estamos
guardamos o melhor sentimento e a maior vontade de sermos para outro aquilo que
queremos acreditar de que, “bom assim”, ninguém nunca lhe foi?
A resposta talvez esteja no medo
de seguir em frente. Alimentar algumas esperanças é uma forma de não nos
comprometermos com a nossa própria felicidade, tão acostumados que às vezes nos
pegamos com a sensação de falta e de vazio. Pode ser que algumas vezes nos
pareça mais seguro a clausura de um sentimento não vivido ou ignorado do que a
liberdade de se escolher viver e correr o risco de provar nova decepção. Seria
como se a rejeição conhecida fosse melhor que a nova rejeição. Aquela velha
história de que “o medo de perder tira a vontade de ganhar”. Para alguns, o
zero a zero é um bom resultado.
"Casablanca" (sim, o filme) mostra e ensina isso pra gente (além de sugerir que a pessoa volta justamente quando a gente acha que já não quer que ela volte. E daí é ela quem descobre que, sim, nos queria, apenas não sabia ou não podia – Ah esses fimes!).
Mas a vida pode ser mais. Não fazer
falta para alguém não significa que você não será a chegada feliz para outrem. E
não é porque um dia houve esse alguém que você não se permitirá que outros surjam
e te cortejem, te desejem, te possuam em corpo e alma e enquanto você se
permite possuir corpos e almas, devotado que você estará em não se deixar ser
vivido pela vida que é você que viverá. Porque a vida do outro vive e viverá
com ou sem você, mas a tua, para ser viva (e vivida) depende toda de você. E por
isso não vale a pena ficar alimentando a esperança de que alguém sentirá a
falta que você não faz (e não tem problema).
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