Não sei se já aconteceu com você,
mas muita gente já testemunhou que tem dificuldade de se aproximar da pessoa
por quem têm interesse. Chegam a dizer que quando querem algum envolvimento,
acham mais fácil flertar e conquistar alguém que atraia (ainda que não ao ponto
de mais do que a “one night stand”), do que se aproximar daquela pessoa que faz
sonhar um futuro todo feliz.
E eu já posso dar um spoiler:
quando eu finalmente encontrei essa pessoa, minha melhor atitude foi esconder o
medo, disfarçar a vergonha e me aproximar. Nunca fui tão feliz.
Mas, sim, eu disse medo e você pode
ter pensado: mas então é questão de medo? Medo de quê?
Há 50 anos Caetano já nos
lembrava que “narciso acha feio o que não é espelho”. Geralmente, ou temos
consciência que ostentamos um capital estético desfavorável, mas mesmo assim
queremos aquela pessoa que serviu de modelo para o padrão de beleza mundial; ou
não temos essa consciência e insistimos na pessoa que serviu de modelo para o padrão
de beleza mundial, ou procuramos quem se encaixa perfeitamente nos nossos
sonhos, planos, gostos, afetos, apetites, fetiches...
Penso que esse último caso é o
caso da maioria das pessoas.
Afora a controvérsia em relação à
diferença de idade entre as partes envolvidas no relacionamento (na Grécia eles
acreditavam que mais velhos deveriam se envolver com mais novos para haver
crescimento intelectual destes que passariam para os próximos e assim vai), a
maioria das pessoas costuma desejar quem seja como ela. E, não raro, quando nos
apaixonamos por alguém a quem ainda não conhecemos nos detalhes da sua personalidade,
é porque vemos algo de nós neles. Em outras palavras, acabamos nos apaixonando por
nós, só que no corpo do outro (“narciso acha feio o que não é espelho”).
Mas aí começa a angústia. Porque,
inconscientemente, passamos a nutrir um medo ainda maior de uma rejeição que
será mais doída. Se nos apaixonamos pelo nós neles, uma vez que não nos queiram,
estaremos sendo rejeitados por nós mesmos. E não tem dor maior do que
descobrirmos que não servimos para quem somos. Isso tanto quando nos esforçamos
para sermos a melhor versão de nós, quanto quando nos importamos menos com a aprovação
dos outros.
Ora, sermos rejeitados por nós
mesmos é tudo o que a nossa autoestima não precisa se quisermos continuar seres
desejosos e desejantes. Então, como também dá pra ser feliz sonhando
felicidade, não nos arriscamos a descobrir o que mais poderíamos viver se tivéssemos
coragem de insistir na nossa alegria e no nosso prazer.
A nossa dificuldade de ser quem a
gente quer é a de nos perdermos de nós justamente quando nos encontramos (e daí
apostamos em tantas outras gentes, nos misturamos a elas, magoamos e somos
magoados e ficamos ansiosos nos perguntando: quando alguém como eu finalmente
me dirá que me quer para que, então, não precise ser eu a me arriscar? E ele/ela que lute!)
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