"Todos temos datas especiais. Por exemplo,
dia do nosso aniversário. Muitas vezes, nesse mesmo dia em ano anterior, aqueles
que hoje são dois, ainda existiam sem existir um para o outro. É certo que
depois de quase um ano já é difícil pensar que existiu um tempo em que não 'se
existiam' já que desde então, parece que estão sempre em tudo que sejam eles,
seja no que é de um, seja no que é do outro.
Andava com as costas curvadas em
razão das dores da vida. Doía uma dor que muitas vezes ainda dói, mas era uma
época em que tudo era pior. O céu negro da noite era o mesmo céu negro do dia
e, se variava a cor, era para um cinza sem nenhuma alegria.
Andava com a cabeça baixa para
que não se notassem os olhos vermelhos. A lágrima era a certeza de todo dia,
seja a lágrima que corria dos olhos, seja a lágrima que sangrava o coração. Até
o sorriso e a alegria eram tristes. Químicas. Sem razão.
Andava passos que seguiam em
frente, mas não saíam do lugar. A vida era uma repetição de dias sem qualquer
entusiasmo. Tudo o que fazia era vivê-los um dia de cada vez, todos eles com o
enfado de saberem mais do mesmo que já passou. A novidade estava no que ainda
viria.
Era última semana de um abril que
era o mais triste abril. Maio teria que ser melhor. Não podia ser pior. Mas ao
fim – cinco dias antes do fim – abril se lhe abriu enfim.
Se antes andava em trevas de uma
estrada sozinha e triste, agora tinha a companhia que jamais imaginava ter e
que muitas vezes temia e em tantas outras vezes, simplesmente, descria, pelo
simples fato de que não poderia ser. Mas era. Eram.
A partir de um simples instante –
desses que temos todos a todos os instantes – foram se sabendo próximos mesmo
que vindos de histórias tão distantes e foram somando suas dores e descobriram
o que todos aprendemos em algum momento: 'a dor da vida é de todos, então vamos
nos ajudar a sorrir. E se ajudaram. E se ajudam. E sorriram. E sorriem'.
Àquela altura a certeza que
tinham se mostraria mais que certa com o tempo. Divergiam se havia destino, mas
se destino há, são a melhor prova de que ele brinca, mas também acerta. Não pode
haver mero acaso em quem se soma de verdade. Não pode haver mero acaso em quem
faz bem sem pedir em troca quando a troca é natural. Não. Se estão juntos hoje
não é por uma simples escolha de virar a esquerda e se esbarrarem num ponto
qualquer do caminho. Se fazem bem em nome de uma história que se escreveu nas
estrelas e se repete em mil vidas e em todas as eras... sempre eles.
Desconfiam do bem que fazem um ao
outro, mas tem certeza do bem que recebem um do outro. Seguem sua história do
jeito que sua história é e mesmo quando ela é muito, pensam que podia ser mais
e quando acham que mais do que é, não pode ser, ainda assim querem mais. E quererão.
O sorriso de um traz o sorriso do
outro e não há dor que sintam separados. E estranham. O que são é contra todas
as previsões. O que são é o que todos gostariam de ser, mas que mesmo que
soubessem e invejassem, não saberiam as inúmeras renúncias que os fizeram quem
são.
São, sem que se sejam sempre. E,
muitas vezes, não ser, também dói.
Mas continuam. Continuam porque
mais importante do que como ou do quanto são, é serem. É terem o que sabem ser
só deles. E é isso que importa. Os outros não entendem? De que importam os outros?
É improvável? Melhor que seja! Eles continuam sendo até quando puderem ser, sem
pressa de que chegue um dia diferente...
Seu presente é hoje. E seu futuro,
nada mais é, do que a presença mais do que presente em todos os seus amanhãs.
Ela diz pra ele: você é meu
presente.
Ele diz pra ela: meu presente é
você.”
PS.: história baseada nas
histórias de “muitos eles e muitas elas” que se bastam em si, mesmo quando
querem gritar pro mundo a alegria de se terem e de serem de si.
Um comentário:
Ele diz pra ela: Você foi um alento, um presente...
Ela sorri, mal sabe ele o bem que faz a ela...e em toda sua fragilidade, ele fez nascer nela como um doce presente, o sentimento mais puro e verdadeiro que possa existir, aquele em que se sente feliz, só em se ver a quem se gosta feliz!!!
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