Num mundo que parece cada vez
mais marcado pela indiferença, a solidão acompanhada parece ser a constante que
definirá os anos atuais. Cada vez mais as pessoas estão “interligadas” umas as
outras em redes virtuais plenamente capazes de sugerir uma falsa sensação de
acolhimento de um grupo que, na verdade, não existe. A partir daí, disfarçam
para si mesmas a triste realidade de quem tem dificuldade de entender a sensação
de vazio mesmo quando nota a grande lista de “contatos” que conhece em sua vida
(de rede) social.
Cada vez mais as pessoas se
bastam menos. Quantos e tantos são os que numa noite como outra qualquer – e elas
estão cada vez mais parecidas – rolam suas barras de contatos em busca de
alguém pra falar o OI e iniciar a conversa que lhes fará, ainda que sozinhas
nos seus quartos (ou salas, ou apartamentos), sentir-se acompanhadas. E por
isso que acho que as pessoas estão cada vez mais solitárias.
Ora, se convivo apenas comigo
mesmo e canso de mim, fico sem a escolha de saber que sou a companhia agradável
para o outro que, também cansado de si, remói a solidão desacompanhada dentro
de uma vida real vazia do que valha a pena.
Mas como viver sem partilhar a
angústia, sem descobrir que a vileza não é só nossa e que as derrotas não nos
são exclusivas e nem mesmo o medo ou a covardia?
Se a minha vida é vivida num meio
de pessoas perfeitas, que gozam férias perfeitas, que namoram namorados
perfeitos, que estão nas festas perfeitas, acompanhado de um grupo de amigos
perfeitos, vou achar que o problema está em mim e só em mim. Se eu pauto minha
vida na fantasia que me vendem no mundo que não é de verdade (mas virtual),
logo lamento a vida que (não) tenho porque ela não se assemelha com aquela vida
que os outros (também não) tem.
E o mais curioso é que as pessoas
parecem querer mostrar a perfeição da vida que não vivem a fim de serem
melhores aceitas por aquelas pessoas que elas julgam viver a vida perfeita que
anseiam para si. E no que eu me mostro e não sou e no que o outro se mostra e
não é, corremos o risco de nos considerarmos indignos de participarmos um da
vida do outro (essa sim de verdade), afastando-nos ainda mais a muita distância
que nossas mentiras já nos afastam.
Tanto melhor seria se as pessoas
assumissem suas fraquezas mais do que mentissem as fantasias que se creem.
Melhor seria que mostrassem sua humanidade cheia de imperfeições, do que sua super-humanidade
tão dissociada do que seria possível ser enquanto gente que sente, chora, erra
e ri. Se nós nos empenhássemos em viver a vida no corpo, essa vida que sente,
que toca, que cheira, que beija, abraça, olha e ouve ao vivo, saberíamos que aquele
que parece mais, às vezes está mais e às vezes está menos e que quando ele é
mais, me torna mais ainda que eu esteja menos e quando ele estiver menos, será
mais do mais que lhe farei. E haveria menos dor, menos angústia, menos “menos”.
Se a mente da gente mente, os
olhos, a voz e a postura não. Mas a gente não vive da mente que mente, a gente
vive do corpo que sente. Deixa, então, que o outro – que te mereça na
reciprocidade de ser merecido por ti (e por mais que você duvide, esses todos
são) – saiba o que você sente. Divida-se você e deixa que ele te divida ele.
Dividam-se os dois. Dividamo-nos nós uns aos outros e somaremos e ganharemos
vida porque, no final da vida, o que vale mesmo é esse viver.
Um comentário:
Caro William, penso que as redes sociais servem como um meio de se conhecer pessoas e discutir ideias e formar opiniões. Porém, acontece o contrário. As pessoas insistem em mostrar um imagem 100% irreal, e acreditam nessa criação, que quando se deparam com a realidade, não conseguem lidar com as frustrações.
E viva a amizade de verdade (carne e osso). Aquela em que as brigas, desentendimentos, amor fraterno e alegria em estar junto existem.
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