Quase todo mundo que eu conheço
elege o início do relacionamento como o melhor momento. Aquela vontade de
conhecer, de descobrir, de acertar. O romantismo é a regra e tudo parece se resumir
em Vinícius e no seu querer “estar junto se longe e mais junto se perto”. É
aquela fase em que se faz questão do beijo, do abraço (e até do aperto de mão).
É bom. É o momento do auge da paixão. É arrebatamento, entrega e um sentir sem
fim.
Sim, um sentir sem fim. Mas um
sem fim que corre o risco inevitável de se findar. Ao longo de todo esse
início, os apaixonados tendem a passar por cima dos defeitos do outro. Ignoram-lhes
sumariamente. “O véu da paixão encobre os defeitos recíprocos”, para usar a
expressão do prof. Cristiano Chaves. E, se nesse tempo as pessoas deixam de
considerar certos fatores a respeito do outro, tem-se como um período
perigosíssimo para se tomar certas decisões.
A decisão apaixonada perde na severidade
de seus critérios. Quando apaixonada a pessoa só enxerga o objeto da sua
paixão, que se confunde com o objeto do seu desejo, ambos ganhando um grau de urgência
tal que faz com que se queira consumado e consumido no instante de agora (já
que se lamenta não tê-lo feito antes). Ora, se é assim, a pressa põe a pessoa
sob grave risco de um arrependimento inútil, só porque não curtiu o instante,
mas quis antecipar o depois.
A premissa aqui é simples: está
apaixonado hoje? Curta a paixão dia após dia, mas sem deixar que ela te guie na
tomada de decisões. Deixa que a vida viva naturalmente, sem tantos planos ou
expectativas. Não anseie o que virá. Não deixe de fazer/viver hoje porque por
alguma razão você considera que é na decisão do que acontecerá amanhã que você poderá,
enfim, ser livre pro que quer desde agora. Não se paute no que esperam de você,
mas no que você mesma quer para você enquanto pessoa que sente, vivi, deseja. “O
amor não tem pressa, ele pode esperar...”, já cantava Chico. Então curta a fase
da paixão, deixa que ela vire amor, deixa que o amor faça a rotina e, quando
chegar lá na frente, a rotina será parte de você(s).
Agora, se você “radicaliza” e já
resolve transformar a paixão em rotina (e por mais que pareça que sim, isso não
dá), sinto te dizer, mas a paixão tem prazo de validade. Ninguém vive o tempo
todo no limite, o corpo não aguenta, o coração não aguenta. E a paixão está
sempre na rotação mais alto do sentimento, do motor da vida. Ah, vocês não
gostam da hora do tchau? Vocês mal podem esperar pela hora do OI? O melhor que
parece e que poderia ser é que não precisasse haver nem Tchau e nem OI? Bom...
mas se é início, curta o início. Só. Experimenta se daqui dois anos, três anos,
vocês ainda farão questão um do outro. O teste do tempo é implacável e ser aprovado
nele é imprescindível.
No fim, a maior inocência dos
apaixonados é acreditarem, de verdade, que toda delícia do agora será a mesma
no depois. Acreditarem que não vão mudar e que, se mudar, será para melhor.
Acreditarem que só o amor basta. Em suma, acreditarem... talvez por isso, a
paixão seja adolescente e o amor seja adulto. Então espera! Pra que a pressa no
amor? Ele não tem porque passar. E daí você pode ficar adulto primeiro e decidir
depois...
2 comentários:
Parabéns William!
Texto MARAVILHOSO!!!
Concordo William, quando o sentimento da paixão chega, é maravilhoso. Por isso, que o namorar/conhecer o outro, é a melhor decisão no momento da paixão.
Agora, não podemos nos esquecer de quando a paixão não é correspondida.
Aquilo que deveria ser êxtase, torna-se tristeza.
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