Namorados que se querem, beijam. Ficantes
que se têm, beijam. Carentes que se encontram, beijam e amantes que se desejam,
beijam-se.
O instante do beijo (do novo, do
velho, do que não se sabe e do que se conhece) é o particular-universal de
todos nós. A hora em que o encontro dos
lábios se mostra o caminho mais natural dos dois que se põe diante um do outro,
é o instante da justificação da existência e de tudo para o que fomos feitos.
O beijo não precisa ser de amor
para carregar todo o amor que guardamos, mas que foi feito para ser vivido e
não calado.
Pus-me a procurar como outros
antes de mim se referiram ao beijo. Gostei do que disse Drummond quando escreve
que “o amor é grande e cabe no breve espaço de beijar” e gostai também, ainda
sem conseguir definir a autoria, quando alguém disse que “O Beijo é um
delicioso truque que a natureza criou para interromper a fala quando as
palavras tornam-se supérfluas”. E é bem isso. O beijo é o silêncio das palavras quando chega a hora de todo o corpo falar.
Se ninguém é feliz sozinho, tenho
que o beijo é o corpo falando, o corpo pedindo, o corpo revelando a ausência da
outra metade que se lhe completa ou que por ele se completará. Não por um
acaso, Jean Rostand, “um beijo é um segredo que se diz na boca e não no ouvido”.
Mas diz o que? O desejo e o apelo pelo toque que faça o desejo, do desejo que
seja paixão e pela paixão que, eventualmente, se faça amor.
O beijo é o início, o começo, é o
durante que traz, a toda uma vida, o sentido exato ainda que achado nos lábios
de outro.
No beijo não se pede o outro, mas
dá-se a esse outro. A energia que nos sobra não é nossa, mas para o outro e é a
desse outro que é a nossa. Cheios do que somos apenas de nós mesmos, ficamos
doentes como que num tipo de excesso que cobra um colapso de quem não se
divide. No excesso que se guarda, se morre. Mas quando descobrimos o poder de
se dividir, de ser do outro, de encontrar esse outro e se encontrar NESSE outro,
aí fazemos vida, vivemos vida e não corremos risco nenhum se exagerarmos na
dose.
Mais amor (e mais beijo), por
favor.
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