Nesse fim de semana de feriado
participei de um seminário bíblico nominado “Conflitos Espirituais”, ministrado
por um teólogo por formação, pastor de um Estado do Sul do país e sobre o qual tinha muito boas
expectativas. Por fim, em linhas gerais, o mote do que pregado foi: tudo o que
é bom é de Deus, aquilo que é mau é do diabo; quando somos de Deus fazemos
coisas boas e, se fizermos coisas ruins, é porque por estarmos longe dEle,
demos lugar pro seu principal antagonista.
No sábado tinham dito que a parte do seminário a se realizar hoje
seria aberta à resposta de perguntas e, na medida que ouvia atentamente as
explanações do responsável pelos estudos, sentia algumas angústias por não
alcançar as razões que motivavam a mensagem que ele parecia querer passar. Por exemplo:
Ele disse que os EUA estão em débito com Deus porque proibiram oração e leitura
da bíblia nas escolas e estão autorizando e reconhecendo como casamento a união
homossexual, caminhos que, segundo ele, o Brasil também vem adotando porque
está afastado de Deus.
Também disse – não sem antes
pedir perdão aos psicólogos e psiquiatras – que não considera a atuação do
inconsciente ou do subconsciente já que a Bíblia não trata disso, mas antes,
considera o homem um ser consciente nos e dos seus atos e que, logo, o crente
não deveria se deixar dominar por fobias ou outros medos, já que confia em Deus.
(lembro que pode ser que eu não
tenha entendido muito bem).
Como é costume, criticou o uso da
Internet para acesso a pornografias e da Rede Globo (aliás, todo mundo bate na
Globo), exortando que crente de verdade não consome esse tipo de canal e nem
questiona o que está na Bíblia.
Pois bem. No sábado fiz minhas
perguntas (19 no total), depositei-as onde determinado e hoje, dia 21/04/2014, acordei às 7h30 crendo que o
pastor que proferia o seminário me responderia. Pasmem que ele não respondeu
sequer 01. Assim, deixo-as aqui na minha página. Lanço-as aqui, na expectativa que haja quem disposto a me ajudar enxergar além do véu que obscurece meu entendimento...
- O cristão pode questionar o que lhe é ensinado? O senso crítico deve ser estimulado?
- O que se diria para alguém que é crente em outro “Deus” a respeito do “nosso Deus”? Assim como há os ateus do nosso Deus, não somos todos ateus de outros deuses também tão acreditados?
- Quando saber se acredito no Deus que é ou no Deus que penso? Não é fato que, muitas vezes as nossas conveniências orientam a nossa fé?
- Qual seria a melhor definição de caráter e moral do ser humano entendido enquanto ser social?
- Escolher está ligado a quem a pessoa é ou às circunstâncias a que ela se vê submetida (e aqui lembra-se a frase do escritor Ortega y Gasset: “eu sou eu e minhas circunstâncias”)?
- Se um pai não dá educação (boas maneiras) para uma criança, isso implicará na sua vida espiritual? A educação faz diferença? Se parte-se da premissa de que as escolhas partem do que o “inimigo sopra no ouvido das pessoas”, qual é o papel da formação social (educação, psicológica e moral) dos homens?
- Por que se pode controlar o pensamento, mas não se pode escolher o que pensar?
- Mesmo partindo da ideia de que o tema é “conflitos espirituais”: o desejo nasce no coração a partir do que o homem julga ser importante para si ou é “plantado” nele por uma força imaterializada?
- Qual o papel do subconsciente nas escolhas pessoais? Ou o fato de a Bíblia não tratar do tema o invalida enquanto realidade?
- Qual o nível de inocência de um ser humano que, aceitando a ideia de que está a mercê da influência do mundo imaterial, é feito fantoche dessas forças imaterializadas em relação às suas escolhas e conduta?
- Todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus, todos são levados a pecar ou o pecado é atitude deliberada, mas de ocasião na vida das pessoas?
- Qual o papel da “energia libidinal” enquanto força motriz da atuação humana? O que impele o homem?
- O ser humano é essencialmente mau? As pessoas já nascem inclinadas para serem ruins ou são projetos do seu meio? Não há uma consciência inata própria que faz com que haja afeto, amor e respeito? Lançados ao nosso estado de natureza, seríamos piores do que bestas?
- Há uma consciência “no sentido de controle da própria história e memória do que fazemos, do que quisemos e sobre quem somos” ou isso que chamamos de consciência é um “canal de atuação” das entidades imateriais (divinas ou não) que serve para a nossa “auto”-acusação? Quando a pessoa ora e, eventualmente, lembra-se de fatos da vida, é obra do inimigo ou exortação de Deus ou é algo próprio de sermos gente e termos memória?
- O que é “gente ser gente”? As nossas vontades são sempre para o mal?
- Em relação ao exemplo da mulher que tinha que jantar com os diretores da empresa em que fora efetivada e, por isso, pediu demissão: ela não conseguiria impor seu respeito e, com isso, resistir a esses avanços? O cristão não deveria ser mais forte que o resto do mundo? Ou somos mais fracos? Essa mulher conseguiu um emprego melhor?
- Tudo é conflito espiritual?
- Uma democracia não deve respeitar e resguardar, inclusive os direitos dos “diferentes” ainda que minorias? O senhor defende uma ditadura religiosa? O ideal seria sujeitar pessoas à moral religiosa de uma religião com a qual não comungam?
- O Senhor não acha perigoso colocar o crente numa posição de super-humano, como se ele estivesse acima de angústias que assolam as pessoas, podendo, inclusive, levar alguns a crerem que o medo (as fobias em geral), a angústia e a dúvida são comportamentos de quem não tem uma vida íntima e aprovada com Deus? Davi errou ao pegar 05 pedras ou deveria ter pegado uma única já que lutava “em nome de Deus”?
Muito obrigado!
Um comentário:
Nossa William!
Fui educada no catolicismo, missas, catequese, procissões, grupos de jovens, tocar no coral, animar encontros diocesanos, etc., etc....
Mas sempre questionava algumas coisas (algumas pra mim, para minha mãe eram muitas), mas nem sempre me respondiam.
Aos quase 30 anos estes questionamentos foram ficando cada vez mais frequentes, e cada vez, mais inexplicáveis.
Eis então, que comecei a ler sobre todas as religiões: Alcorão, Tora, Hinduísmo, espiritismo. Eu queria saber se alguma delas responderia minhas dúvidas. E simplesmente não encontrei respostas.
Cheguei a conclusão que é bom acreditar em Deus. É bom fazer o bem. É bom e faz bem ser bom e justo (sempre que conseguimos). E também concluí que somos imperfeitos, mas que sempre estamos em busca de uma perfeição, que a referencia, é desse Deus que imaginamos.
Tudo é Divino, até o mau é divino, pois só sabemos o que é bom porque o mau existe, do contrário não teríamos como distinguir.
Mas, enfim, o que eu queria dizer, quando iniciei esta postagem, é que: Você foi muito além de meus questionamentos. E a fala do Teólogo, me fez crer mais uma vez, que as instituições religiosas, são uma forma de ter um poder paralelo, aos demais. Só que sem democracia.
Paz e Bem!
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