Parece que foi ontem. Naquela
manhã de domingo eu dormia no apartamento dos meus avós. Todos haviam ido à
Escola Bíblica Dominical, mas eu fiquei dormindo. Dormia no quarto de meu tio
que tinha por hábito sempre deixar a CBN ligada durante a noite e foi quando,
de repente, escuto o radialista dizendo “o piloto brasileiro foi retirado do
carro e recebe o atendimento ainda na pista”. Mas já faz vinte anos...
Ouvir aquilo foi um susto que me
fez pular da cama e ir até o quarto onde ficava a TV, liga-la já na Globo e me
deparar com a cena daquele piloto vestindo um macacão azul e uma poça de sangue
ao seu lado. Um choque. Barrichello já tinha sofrido um grave acidente da
sexta, Ratzenberger já tinha morrido no sábado e no domingo os deuses da pista
resolveram deixar o mundo da F1 ainda mais dramático: escolheram Senna pra sua
vítima maior.
A partir daquele momento me uni a
outros 150 milhões de brasileiros na expectativa das notícias que não poderiam
ser outras. Àquela época sempre ouvia alguém falar mal da arrogância do piloto
brasileiro, ouvia diferentes críticas e, aos 9 anos, muito embora acordasse
quase todas as manhãs para assisti-lo correr, não tinha ideia da dimensão do
que representava aquele rapaz de 34 anos, Ayrton Senna da Silva e do Brasil.
As lembranças mais fortes que
tenho de Senna é ter ficado acordado pra vê-lo na corrida de seu segundo
título, quando ele bate em cheio no carro do Prost, numa forra ao que o francês
fez no ano anterior; mas as mais fortes são do campeonato de 91, assistindo a
corrida em que ele vence no Brasil pela primeira vez, ou pegando uma carona no
carro do Mansell, ou mesmo, deixando o Berger passar na sua frente quando já se
sabia tricampeão no campeonato daquele ano.
Hoje sempre assisto às reprises
desejando que fosse possível que Senna não corresse aquele GP de Imola; que
Senna não fizesse nenhuma curva Tamborello; que ele fosse pra Minardi, mas não
assinasse com a Williams. Mas como ele poderia não assinar com a Williams?
Lembro-me que tinha sido há pouco
tempo que ele tinha lançado a personagem do Senninha. Ele já corria na McLaren
em 93 sendo pago por corrida e, quando assina com a maior equipe da época,
maior vencedora daqueles anos, fizeram uma festa e teve até um gibi do Senninha
mudando sua roupa de vermelho para azul. Ele estava empolgado e o Brasil
também.
Sua primeira corrida foi cheia de
expectativa e terminou triste.
Sua segunda corrida vem com mais
expectativas e terminou triste.
Sua terceira corrida, por tudo
que aconteceu, começou triste e terminou trágica.
Senna morreu como herói, mas eu
preferia que ele estivesse vivo. Eu preferia que tivesse ganhado mais do que
ganhou e ele poderia ganhar. Eu preferiria que o Senna tivesse realizado o seu
sonha de pilotar uma Ferrari e eu teria adorado acordar a cada manhã só pra
vê-lo correr.
Naquela segunda-feira, 2 de maio
de 1994, lembro da professora entrando naquela turma de 3ª série e nos perguntando
se sabíamos o que tinha acontecido. Com seus olhos marejados de dor, ela falava
de Senna enquanto muitos colegas de sala choravam sua dor. Lembro de um
rapazinho – acho que seu nome era Álvaro – que chorava copiosamente a dor de
ter perdido o ídolo que carregava em seu caderno.
Vinte anos depois ainda me dói
saber que o melhor piloto de todos só não pode vencer o destino que sabe ser
mais cruel com um do que com outros.
Ayrton... Ayrton... Ayrton Senna do Brasil...
Um comentário:
É professor tambem me lembro como se fosse hoje, a fórmula 1 nunca mais foi a mesma, apesar de que não perco se quer um grande prêmio.
Alesandro Vilvock
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