Querer mais não é pecado. Pecado
é desdenhar do que já tem só porque deseja algo diferente.
E é pior ainda quando a gente não
sabe nem o que é esse algo diferente que a gente tanto quer. Insistimos em
conviver com uma sensação de ausência que talvez sirva para justificar uma
melancolia que sequer deveríamos ter. E nem gozamos do que não temos, nem
buscamos que venhamos a ter, mas, principalmente, perdemos o tempo em que
seríamos felizes se mais gratos ao que já conquistamos e nos é real.
Acabamos sendo a nossa própria
fuga. Acostumados à desventura que nos atribuímos pela dura realidade de sermos
nós, pouco nos esforçamos para que sejamos satisfeitos com quem somos já que
isso nos exigiria deixarmos de ser quem estamos: acomodados que folgam em
reclamar.
É quando chega a hora de
assistirmos ao nosso passado para que entendamos como chegamos onde estamos. E
não adianta culparmos a vida e as suas circunstâncias ansiosos por nos fazermos
menos responsáveis pelas escolhas que fomos nós que fizemos. Qualquer um que
diga que a vida o fez assim e que é vítima dos acontecimentos estará atestando
que pouco fez por si em sua própria vida e, muito mais do que isso, que se deixou
arrastar pela correnteza sem pouco tentar remar. Ora, quem não navega pra
chegar aonde quer, acaba chegando a um porto em que não queria chegar.
Sempre me lembro da música “Boiadeiro”
do Luiz Gonzaga. Nela, ele diz do boiadeiro que volta pra casa, pras suas 10 cabeças
de gado, pros seus 10 “fiinho” e pra sua Rosinha (pequenina, miudinha). A todo
tempo ele diz que é “muito pouco, quase nada”. Mas não desdenha, porque, quando
você menos espera ele diz “mas não tem outra (nem outros) mais bonita no lugar”.
Talvez não fosse tudo como ele queria, mas era o que ele tinha e era ao que ele
tinha que ele tinha que ser grato.
Pessoas pulam de um emprego pra
outro emprego, de uma relação pra outra relação, de um sonho pra outro sonho e
é tanta inquietação e tanta angústia, que não percebem que tudo o que buscam já
está em si: buscam a satisfação de serem elas, se verem nelas e se gostarem por
quem são.
Mas não. Buscam essa satisfação
no outro, no reconhecimento pelo outro. Na nova conquista amorosa de uma noite,
no aumento de salário (que nunca é na mesma proporção do aumento de serviço),
no elogio, no afago, nunca em si. Fazem do seu trabalho castigo. Esperam que
alguém acima de si saiba o seu nome e lhe dê uma oportunidade. E, muitas vezes,
chegam ao ponto de querer ser reconhecidas por alguém de quem se disfarçam, mas
que na essência nunca foram. E só para que sejam vistas, notadas, percebidas e
elogiadas. Sim, porque só o elogio adianta se o que preciso é erguer a autoestima
a partir do olhar do outro e não do meu “auto”olhar.
Penso que será um tempo melhor
para cada pessoa quando o outro for menos importante que ela para ela. Mas hoje
ainda não é assim. Cada vez mais as pessoas parecem pouco dispostas a aceitar
que o melhor elogio é gostar do que se tem e entender, que tudo o que se tem, é
a história que a gente fez daquilo que a gente é que é como sempre será, na
medida em que a nossa história não pare de viver.
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