“Já se disse,
numa expressão feliz, que a contribuição brasileira para a civilização será de
cordialidade – daremos ao mundo o ‘homem cordial’. A lhaneza no trato, a
hospitalidade, a generosidade, virtudes tão gabadas por estrangeiros que nos
visitam, representam, com efeito, um traço definido do caráter brasileiro, na
medida, ao menos, em que permanece ativa, fecunda a influência ancestral dos
padrões de convívio humano, informados no meio rural e patriarcal.”
Assim, Sérgio Buarque de Holanda
começa o trecho em que cunhou a expressão que lhe fez mais famoso, até que
passasse de festejado autor de “Raízes do Brasil” a “pai de Chico Buarque de
Holanda”, como ele mesmo, Sérgio, assumiu. O brasileiro seria o “homem cordial”.
O início dessa Copa do Mundo
mostrou totalmente o contrário. Ao contrário do que possa parecer, não torço
contra a Seleção Brasileira, apenas não consigo me empolgar enquanto torcedor
de futebol. Claro que ficarei feliz em ver a exaltação do meu país, mas
preferiria – sem hipocrisia – vê-lo se destacando em educação, cultura,
saúde... Como acredito que 99% dos brasileiros, assisti a primeira partida da
Copa do Mundo. Um jogo feio, truncado, nervoso e que contou com um erro
decisivo da arbitragem marcando um pênalti que não existiu. De positivo, só o
momento do hino nacional, mostrando uma união de brasileiros que, infelizmente,
nem sempre é pro bem.
Futebol à parte, o momento que
mais me incomodou foi a vaia da torcida brasileira para o time croata. E daí a
gente vê que, pelo menos nessa geração atual de brasileiros, se há algo que não
se pode dizer de nós, é que sejamos cordiais. No papel de país anfitrião, o
mínimo que a torcida deveria fazer era aplaudir o time croata de modo a que se
sentissem bem-vindos ao nosso país para disputar uma partida de futebol e não
uma guerra. Mas cadê a hospitalidade. O curioso é que o próprio autor, a certa
altura, afirma nesse mesmo livro “Raízes do Brasil”.
“Seria engano
supor que essas virtudes possam significar ‘boas maneiras’, civilidade. São antes
de tudo, expressões legítimas de um fundo emotivo extremamente rico e transbordante.”
Dentro desse jeito emotivo de
ser, o brasileiro é desrespeitoso. E não adianta falar que estou generalizando
se, no momento da vaia, foram mais de 60 mil pessoas vaiando. Eu continuo
insistindo que o grande problema do Brasil são os brasileiros (basta ver que um
brasileiro quebrou o dedo de um argentino que se recusou a soltar a bandeira de
seu país) e quando eles – brasileiros – estão em grupo, ou é festa ou é
balbúrdia, mais balbúrdia do que festa.
Sérgio Buarque de Holanda ainda
disse que:
“No ‘homem
cordial’, a vida em sociedade é, de certo modo, uma verdadeira libertação do
pavor que ele sente em viver consigo mesmo, em apoiar-se sobre si próprio em
todas as circunstâncias da existência. Sua maneira de expansão para com os
outros reduz o indivíduo, cada vez mais, à parcela social, periférica, que no
brasileiro – como bom americano – ter a ser a que mais importa. “
Vencer um jogo de Copa do Mundo
sendo “ajudado” pelo juiz, é lamentável e se exaltaria o time e a sua comissão
técnica se, ao invés de cinicamente dizerem que viram pênalti, que viram falta
no goleiro quando não houve, que a arbitragem foi boa, reconhecessem que houve
o erro, que não foi pênalti. Mas não. O brasileiro é o tipo que diz que ganhar
roubado é mais gostoso ao invés de aproveitar pra gritar para o mundo que se o
brasileiro vai às ruas cobrar o fim da corrupção é porque ele não transaciona com
o erro, ele execra e acusa o erro e o mal feito, porque prefere as coisas
limpas. Mas não é bem assim...
Xingam a presidente a plenos
pulmões para o mundo inteiro ouvir. E não importa as divergências que se tenha
com ela ou com o partido e governo que representa: ali era a instituição
presidência da república que se encontrava e deveria ser reverenciada pelo
povo. Não a Dilma Vana Roussef, mas a representante maior do Estado brasileiro.
O jogo foi ruim, mas a torcida foi
pior.
Nenhum comentário:
Postar um comentário