O mundo “lá fora” é muito mais do
que o mundo da gente. Apesar de essa ser
uma observação mais do que óbvia, algumas pessoas parecem participar de certa
dificuldade de aceitar essa verdade e julgam-se no direito de julgar o mundo
dos outros com base no mundo em que se prenderam a si, acreditando de forma
bastante pia, que as escolhas que se fizeram deveriam servir de modelo para as
escolhas que outros se farão.
Um médico não deve achar que no
mundo tudo é medicina. Da mesma forma, um jurista não deve achar que o mundo é
só Direito ou um religioso achar que tudo é metafísico. Assim como um matemático
não pode achar que tudo é lógico ou um psicólogo achar que tudo é inconsciente,
o certo é que tudo de um é nada perto de tudo do todo.
Cada indivíduo com suas próprias
circunstâncias e o mundo continua. O grande barato dessa história toda está no
fato de sermos diferentes e podermos achar espaço para todas as nossas
diferenças. Sempre há espaço.
Vejam, as pessoas até podem ser
muito parecidas, mas serem parecidas não é serem iguais, de modo que o que é
bom pra um, o que serviu pra esse um, o que agrada a esse um, pode ser
desprezível pro outro que viveu diferente, cresceu diferente, aprendeu
diferente e, principalmente, se sonhou diferente.
Dois irmãos, mesmos pais, idades
muito próximas e escolhas completamente diferentes e isso porque existem várias
formas de ser alguém.
Esqueçam seus sonhos para o outro
e apoiem o sonho do outro para si.
Quantos pais julgam mal seus
filhos porque os filhos se quiseram diferente de seus pais? E de quem é a culpa?
Dos pais é claro. Antes de acharem que sabem o que é melhor pro filho, deveriam
procurar entender o que filho sonha pra si e ao invés de desestimulá-lo,
ensiná-lo o quanto é possível viver bem simplesmente vivendo bem e não tendo
que ser “alguém”.
A ditadura do sucesso obnubila os
futuros. Estabilidade, bom salário, boa posição e muitas vezes infartos
precoces, depressões mais e mais fortes e uma miséria interior que parece sem
razão. Ao mesmo tempo, aquele que juntou menos, se disciplinou menos, está
vivendo mais, amando mais, sentindo mais e se permitindo até ser mal entendido
por quem acha que o que vale é o que se ajunta e não o que se soma.
Há espaço para todas as
diferenças, todas as profissões, todos os sonhos, todas as vontades, tudo o que
for – socialmente – entendido como bom. E até pra outras escolhas.
E não nos façamos reféns do nosso
medo de errar e nem inseguros pela crítica de quem nos quis dominar. Antes,
permitamo-nos mandar às favas o passado e suas companhias quantas vezes seja
preciso, recomeçando de novo e de novo, sempre vivendo quantas vidas forem
possíveis em uma vida, não nos preocupando com a próxima que não se sabe e que ainda não há, mas
com a única que por algum tempo ainda haverá.
Não nos queiramos modelos. Não
sejamos quem impõe, mas quem facilita; não quem sufoca, mas quem apoia; não
quem desanima, mas que estimula; não quem nega, mas sim, quem sabe o valor e a importância de
se ouvir e se dizer sim.
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