“Deixa estar para ver como é que
fica”. Esse parece ser o principal lema da maioria das pessoas. Não importa o
quão descontente elas estejam, é raro que pareçam inclinadas a mudar sua forma de
ser.
Até mesmo eu fico tentando me provar
o contrário do contrário quando, a bem da verdade, acho mesmo é que não existe
mais ou menos na vida. Mais ou menos é o disfarce do ruim. A gente pode até
ficar tão acostumado com o ruim que não faz nada pra melhorar, mas daí a querer
convencer que “tirando o que tá ruim, tá bom”, corresponde àquela tentativa
inútil de repetir uma mentira pra ver se ela se torna verdade.
O mundo está cheio de pessoas
sorrindo um sorriso vazio. Você assiste lábios bem abertos num sorriso que
tinha tudo pra ser bonito, mas que logo é traído pelos olhos que não são
alegres como o sorriso quis supor.
Você vê casais que trocam beijos
sem paixão, abraços sem afeto, carinho sem vontade, tudo como se fosse um script a ser cumprido em razão de uma
satisfação de outros que não sejam aqueles que já nem sabem mais porque aceitam
o menos.
Será que não está na hora de
dizer chega? Será que não está na hora de se admitir que a hora nunca é errada
quando é vivida, mas é sempre perdida quando se insiste em não viver, quando se insiste em não fazer o que se deseja, o que se quer, não fazer acontecer? Quanto
tempo até que não haja mais tempo? Há tempo... sempre há tempo enquanto tempo houver.
A gente sabe o que quer. A gente
sempre sabe o que quer. A gente sabe o que não quer. A gente sempre sabe o que
não quer. Mas cumprindo à perfeição nosso papel de nossos piores adversários,
achamos que nossas certezas sobre nós mesmos estão erradas e que há outro alguém
muito mais capaz de nos entender, completar e compreender melhor do que nós que nos sabemos, nos conhecemos e
dominamos o que pensamos, apesar disso ser justamente aquilo que mais calamos.
A esposa sabe que acabou. O
marido sabe que não devia ter começado. O empregado sabe que merece mais e o
sócio sabe que trabalha sozinho, mas todos permanecem unidos em nome de
qualquer coisa que no fim é o medo. Não aguentamos mais, mas insistimos com o mesmo.
Não queremos mais, mas continuamos com o mesmo. Já desistimos, mas não encerramos.
Tememos.
O engraçado é que a vida da gente
– e das gentes – nos ensina que ela sempre continua, não importa se acertamos,
se erramos, se nos alegramos ou se nos arrependemos, mas mesmo assim, a gente tem
medo. Medo de não ser a melhor decisão, de não alcançarmos uma melhor conquista
ou de não encontrarmos um caminho melhor e então continuamos no caminho que não
nos leva a lugar nenhum, vivendo uma vida que, a cada escolha que não
reflete nossa real ambição, só faz perder vida.
E daí morremos. Morremos cheios
de arrependimentos inúteis por não termos feito o que desejávamos sob a
desculpa fajuta de termos vivido exatamente o que podíamos, mas sem que tivéssemos
alcançado nada daquilo que nos queríamos.
Mudar não parece ser fácil, mas
acostumar a viver mal é viver do jeito mais difícil.
Um comentário:
Perfeito! Mais uma vez você consegue revelar o íntimo da alma humana.
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