A morte é o tema que mais me
fascina e, ao mesmo tempo, o que mais me aterroriza. Não que eu tenha medo de
minha própria morte. Dela tenho mais curiosidade (ainda que sem maiores
ansiedades). Mas o medo da notícia que me contará que o meu tempo com quem amo
acabou porque aquela pessoa morreu, esse me acompanha a cada segundo.
Dia de Finados é dia de pensar na
morte. Pelo menos para mim que vivo acompanhado dela o tempo inteiro em que me
ocorre de lhe pensar. E não porque eu reze pelos mortos (a bem da verdade, nos
últimos tempos não tenho feito nem por mim ou pelos outros vivos, nem por quem
quer que seja). Só sou alguém para quem é inevitável pensar na morte que de um
jeito ou de outro, sempre vai chegar.
Nessa época me recordo da frase atribuída
a Anne Frank que, em seu diário, teria escrito que “os mortos recebem mais
flores do que os vivos porque o remorso é mais forte que a gratidão”. E talvez
seja disso que o dia de finados venha se tratando: remorso.
É então que me vem à mente a
terrível imagem de um futuro velório de meus pais (que torço para que muito
distante) – se é que será antes do meu.
Quantos remorsos será que eu
carregaria?
Quantas vezes as razões que foram
deles e não minha me voltariam e assombrariam e, das várias vezes em que certos
eram eles, mas mesmo assim, no alto de uma soberba estúpida de uma vida
medíocre e mais estúpida ainda, fui mais fiel aos meus erros que aos cuidados
seus ?
Quantas vezes eu quererei
ter-lhes dito: “eu vi que te deixei triste, mas não quis me desculpar”?
Quantas vezes eu quererei voltar
o tempo para quando quiseram me dar um conselho e, impaciente, dei a entender
que sua opinião me exasperava, me cansava e que eu já sabia o que deveria fazer,
mesmo sabendo que tudo o que eles queriam era mostrar, com seu jeito de se
preocupar, só queriam o melhor para mim?
Quantas vezes eu quererei voltar
o tempo para aquele dia em que todos juntos nos calamos? E quererei a voz que
agora é calada para sempre e jamais me dará qualquer opinião.
Se eu velasse meus pais sem que
eles soubessem que cada tristeza que lhes fiz passar me dói e que cada angústia
a que lhes submeti me mata, que terrível seria.
Se eu olhasse seus féretros
pensando nos “eu te amos” que faltaram, nos “obrigados” que calei, na gratidão
que devo ter pra sempre, mas que faltei e no carinho que os olhos e os lábios
não deram, que vida seria essa que desde há muito eu já perdi?
É estranho quando a gente olha
pra gente e vê que somos sempre prontos a sermos mais duros com quem está mais
pronto a nos manter com seu amor. E é mais estranho quando pensamos que
gritamos e cobramos mais de quem vai nos fazer mais falta se um dia nos faltar.
E são para esses mesmos que
parece que mais custa o carinho desinteressado de quem só quer fazer saber: “a
minha vida seria muito mais triste sem a presença de você”.
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