Há certa ingenuidade naquele que
se pensa livre do próprio passado.
Não raro é possível que nos deparemos com pessoas que em lances de autoafirmação, invocam sua condição de quem não olha para trás, só olha para frente porque o que interessa é o que está por se viver e não o que já se viveu. Há até uma frase bastante comum de se ver repetida nas redes sociais, que insta as pessoas a que parem de olhar para trás porque elas já sabem onde estiveram e o que importa é saber para onde se vai. Mas é fácil assim? Somos livres em relação ao nosso passado?
Não raro é possível que nos deparemos com pessoas que em lances de autoafirmação, invocam sua condição de quem não olha para trás, só olha para frente porque o que interessa é o que está por se viver e não o que já se viveu. Há até uma frase bastante comum de se ver repetida nas redes sociais, que insta as pessoas a que parem de olhar para trás porque elas já sabem onde estiveram e o que importa é saber para onde se vai. Mas é fácil assim? Somos livres em relação ao nosso passado?
Creio que não. O nosso passado é
a bagagem mais pesada a que somos obrigados a carregar. É como se fôssemos um Sísifo
que não vê a rocha rolar ou um Atlas que, sobre os ombros, tem todo o nosso
mundo cada vez mais pesado por todas as muitas escolhas e ainda mais pesado por
todas as outras renúncias que nos assombram com todas as possibilidades não
realizadas e com todo o tempo que não vai mais voltar.
A vida que poderia ter sido, a
vida que deveria ter sido, a vida que talvez nem tivesse sido, mas que
acreditamos que seria, são todos espectros passados que assombram o presente.
Todos os nossos “hoje” são a consequência inevitável de tudo o que se viveu ou
não, se experimentou ou não, se escolheu (porque não escolher também é
escolha).
O passado, o presente e o futuro
são sempre presente. Quando eu olho para o passado eu não revivo o instante da
escolha ou da renúncia. Eu vivo o presente em que o passado me assombra. Quando
eu sonho o futuro, eu não vivo o instante em que se acontece o que me sonho, eu
vivo o presente em que o futuro parece o que é bom. Assim, tudo o que eu vivo é
o presente, o presente que ao mesmo tempo constrói o futuro e o passado de
amanhã.
Quando sentimos a dor do presente
de que o passado inglório é causa, precisamos mudar. Quando sabemos que o ontem
dói no hoje, é imperioso que olhemos para trás e, desde hoje, curemos o nosso
amanhã. Se a vida vive para frente – e ela vive só para frente – precisamos da
consciência de que todo o tempo que temos é o “quando de agora” e que a única
forma de, amanhã, olhar sem dor para o hoje que será ontem, é estabelecer o
compromisso de estar mais que possível no comando de cada instante a partir de
agora, mudando o que está errado e tudo o que não deu certo, reconciliando com nossos
sonhos, anseios e com tudo que somos nós, a fim de, honestos com a vida que nos
queremos, alcancemos um amanhã cujo ontem nos absolva mais do que nos condene.
O ontem já começou hoje e é ele
que nos cobraremos amanhã.
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