É algo que já vem me incomodando
há algum tempo, mas que abordar não é tão simples quanto parece. Até pela
dificuldade de encontrar o tom certo e não incorrer no risco de soar piegas ou
excessivamente condescendente, como se fosse só mais um desses que quer parecer
melhor, diferente ou mais bonzinho do que é.
Mas é certo que há algum tempo
venho pensando nisso e assistir a um trecho de um discurso da Michelle Obama
fez nascer em mim a vontade de rascunhar algumas considerações a respeito do
jeito muitas vezes mesquinho (pra não dizer baixo ou vil) com que os homens se
acostumaram a tratar as mulheres.
Resumidamente, nesse vídeo ela
falava da experiência – comum a tantas mulheres – de serem resumidas a um corpo
a ser observado, como se sua primeira missão na Terra (e para alguns a única)
fosse servir aos olhos dos homens e ao seu jeito bruto de muitas vezes se fazer
notar. E em tempos de discursos de afirmação e empoderamento feminino, é
imprescindível que se combata esse tipo de visão.
Aliás, é interessante como alguns
homens não conseguem deixar de se incomodar com o fato de cada vez mais direitos
serem conferidos às mulheres, direitos que antes julgavam serem só seus e, pior
para eles, terem que lidar com o fato de que a maioria das mulheres têm se
mostrado melhor e mais competente do que eles em muito do que fazem. E então se
apressam a desmerecer, desprestigiar, menoscabar os movimentos que clamam e
lutam pelo recrudescimento dessas conquistas.
Mas não cabe que me saia do foco.
Meu mérito aqui é considerar o quanto os homens ainda parecem não ter entendido
que as mulheres conquistaram o direito de terem sua vida, seus gostos, suas
vontades, suas escolhas e direções e que elas não se bastam mais no papel de
coadjuvantes de um homem altivo, que age como verdadeiro senhor e a quem elas
servem quase gratas pelo desposar que lhes legara uma posição no mundo e cuja
recompensa é um pequeno mimo, um elogio, um galanteio, um corte de renda, uma
rosa ou um bombom.
Não quer dizer que,
necessariamente, as mulheres de hoje não apreciem gestos corteses, pequenas gentilezas
ou até certos galanteios e elogios, mas quer dizer, isso sim, que as mulheres
não abrem mão do respeito à sua individualidade e, principalmente, à sua
singularidade. E me parece que é essa – a singularidade – é que deveria ser
vista, apreciada e elogiada.
Tenho a impressão que por mais
agradável que seja a beleza de uma mulher, reduzi-la à essa sua beleza é
limita-la quando ela é muito mais. Há mulheres que além de estaticamente lindas
(seja dentro dos padrões de cada época e lugar, seja dentro dos padrões
pessoais de cada um) são ainda mais interessantes e tenho pra mim que, mais do
que o elogio à sua beleza, preferirão ser vistas pelo que representam na vida
que vivem, pelas conquistas que fazem a partir do seu esforço, das suas lutas, pela
humanidade que lhes habita e lhes singulariza naquilo que elas foram se
formando na assimilação das experiências que lhes transformaram em quem são. Esse
reconhecimento talvez faça ainda mais sentido e as faça ainda mais feliz.
Se é verdade que a beleza tem a
sua importância, não é menos verdade que ela está nos olhos que a veem e é mais
do que hora de aprendermos a olhar com os olhos certos e enxergarmos as
mulheres não mais como um corpo bonito a ser apreciado, mas sim como um ser
humano a ser admirado muito mais pelo que ela é do que por como ela se mostra;
dando muito mais valor para o que lhe habita e para o que ela é: alguém que pode
somar e contribuir e que faz com que se saiba e sinta que ela é boa (de se ter
por perto porque agradável, inteligente, divertida... porque ela é ela).
Então é preciso deixar que as
mulheres falem e que as escutemos (e se interessar por isso, gostar disso). Saber
o que elas pensam e o que sonham (e gostarmos do que pensam e dos seus sonhos).
Conhecer as suas histórias, suas crenças, as suas opiniões. É preciso dar valor
ao valor que tem nessas mulheres terem voz e daí entendermos que também essas
vozes, esses pensamentos, esses sonhos e essas histórias são bonitos e também
tão importantes. Que a mulher não é o troféu bonito e ansiado a fim de ser
exibido ou conquistado, mas a dona da sua vida e a fazedora da sua história,
disposta a se deixar conviver com quem ela também quiser segundo as
circunstâncias que a levem a querer. Dona dos seus sentimentos, sentidos e
sensações. E que pode ser forte e que pode querer se grande e está tudo bem. É até
melhor.
Ah, quando os homens entenderem
que a beleza é muito mais do que o que é bonito...
Achou aquela mulher bonita? Ótimo!
Agora presta atenção nela e encontre muito mais. Vai valer a pena...
8 comentários:
Tudo que uma mulher sempre quis ouvir. Parabéns!
Tudo que uma mulher sempre quis ouvir. Parabéns!
Perfeito
Porque não somos objetos, mas seres humanos. Porque ser linda exteriormente é a beleza que menos queremos que seja enxergada!
Parabéns!!
Perfeito!! Me ví no seu texto... é exatamente assim que uma mulher merece ser vista... pelo que é de fato, pelo papel que representa... não pelo que aparenta ser. (E.P.M.S)
Dia 02/08 ? Puxa! O que não é a internet hoje em dia eihn??!!
Isso aí! Pela igualdade de gêneros!
Se, em princípio, não se deve bater em uma mulher nem com uma rosa, que dirá com palavras ou insinuações degradadoras. Qnto à alma feminina, ela é como todas as demais.
O texto é msmo de encher os olhos. Uma libertação
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