Não é um sentimento incomum se
sentir cheio de vazios. Aquela sensação de falta que vai além do que se deseja
e que é apesar do que se deseja. Aquela sensação de que tudo é enfado e de que
vai sucumbir mais dia, menos dia.
Não é incomum se sentir sendo o
peso e o freio do próprio seguir em frente e isso enquanto a vida vai. E ela
vai! Segue implacável, indiferente, dura. Uma.
Vazio de querer em que a culpa é
de tudo o que perdeu. Vazio de ter em que a culpa é de tudo o que quis. Vazio
de ser em que a culpa é de tudo o que é. E enquanto isso a vida vai. E ela vai!
Segue cruel, solitária e muda. Longa.
Tantos dias que não se precisavam
tantos e nem ser. De quantos adeuses são feitos os arrependimentos? Que perdão
é esse capaz de recomeçar? Que chegada é essa que faz feliz? E enquanto não se
descobre a vida vai. E ela vai! Segue triste, inevitável e tensa. Lenta.
É como se nem mesmo sob o Sol houvesse
calor ou luz. Tudo é o negror de uma escuridão gélida tomada de uma névoa por
onde circulam lembranças desbotadas e, também por isso, tristes. O silêncio de
em volta esvazia a existência que um dia se pretendera grata, se imaginara boa,
se quisera toda sorte do que só se provou mera quimera.
Não há música que toque a alma e
nem que venha dela. Todo som range como se arrastasse grilhões que também pesam
e também seguram e também impedem. Impedem o riso, o sorriso, o desejo, o
superar-se e sentir-se pleno de tudo que não seja o nada que vem sendo. Vivendo.
Nem sempre é uma questão de não
se querer sorrir, mas de não conseguir. É se sentir o principal responsável por
toda a indiferença que se acumula e por toda solidão que se provoca. Mas por
que se provoca? – se é que se provoca.
É que todo o espaço a ser
preenchido está ocupado, apesar de que não há ninguém. Sobram histórias que
ninguém mais lembra ou ninguém mais sabe, ou talvez ninguém viveu, só quis, só
sonhou, só pensou, só perdeu.
Tudo é um silêncio que grita e
ensurdece e incomoda e faz sentir tão cansado de si mesmo e tão miseravelmente
dono das próprias circunstâncias. Faz da existência a vileza de quem não se
basta no que não sabe de si além da vida que cai, que volta, que se revolta.
Tudo é silêncio, é escuro, é
findo, é a certeza de que não será.
...
Mas as noites não começam à mesma
hora.
2 comentários:
Perfeita descrição de sentir-se vazio ainda que cheio de tudo...
Lendo o texto, me aconteceu uma coisa horrível!!! Absolutamente trágica para um leitor: eu não consegui captar as entrelinhas... O autor pode traduzi-las.(?)
Só lembrando que, não é justo deixar os leitores no vácuo (no vazio)...
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