Uma das principais violências que
cometemos contra nós mesmos é julgarmos, lamentarmos ou condenarmos as nossas
atitudes passadas.
Não é raro se ouvir alguém dizer
que gostaria de voltar ao tempo em que era mais jovem, mas tendo a cabeça que
“tem hoje”, como se movido pela esperança de que tendo uma segunda chance,
refaria suas escolhas e acertaria tudo o que julga tenha errado.
Aliás, talvez muitos dos
descontentamentos que se acumulam nas vidas carregadas de tristezas se devam,
justamente, a essa mania inútil de fantasiar uma vida diferente a partir de
escolhas diferentes. Angústias que vêm de insistir em desejar outra vida ao
invés de viver a vida que agora está. Afinal, toda vida ideal vai parecer
melhor do que a vida real.
Quando afirmo que isso se
constitui em uma grande violência que fazemos contra nós mesmos, é porque fazer
isso é sermos injustos para conosco. Analisar o passado sob as circunstâncias
do presente (sob sua realidade) sabendo o que deu certo e o que deu errado é
cruel com o “eu” que quando decidiu era apenas resultado de seus afetos mais
diretos. E afetos esses que, hoje, são apenas memórias.
Por mais que consigamos ter claro
quais foram aqueles afetos que nos levaram a escolher (um caminho ou outro,
essa ou aquela, ir ou ficar), pensar o sentimento é diferente de senti-lo. A
decisão é tomada sob o impulso do sentimento, sob o impulso da vontade de fazer
dar certo o que se quer. Ou seja, pelo que pulsa e não pelo que é memória do
que um dia pulsou e agora não causa qualquer apelo.
Então é necessário que tenhamos
coragem de entender que a vida é da única maneira que ela poderia ter sido. E,
a partir disso, que tenhamos coragem de perdoar. Perdoarmos a nós mesmos, mas
também aos outros – àqueles a quem conveniente e comodamente buscamos imputar
certas culpas pelos nossos descontentamentos com a vida que levamos.
Não adianta olhar pra trás e
pensar que poderíamos ter feito diferente. Tudo o que se fez, se fez da única
maneira que poderia ter feito e cada decisão que se tomou era a única que
decisão que poderia se ter tomado. Pensar que poderia ser de outro jeito é
apenas se iludir pra fazer doer; é tentar acreditar que há uma força que rege e
que desenha diferentes possibilidades, quando, na verdade, a vida é vivida na
exata forma do que somos (é partir do que gostamos, esperamos, desejamos...).
E é então que falo com quem me
lê: todos os caminhos que você trilhasse te levariam para o mesmo ponto a que
você chegou e isso pelo simples fato de que a tua vida se fez – e se faz – da
única forma que poderia se fazer. Nunca te houve duas formas de viver. E daí
que sofrer por tudo o que não fez ou pelo que decidiu ou deixou de decidir é
mera distração que apenas te afasta do mais importante: a vida não vai parar de
viver enquanto você se lamenta.
2 comentários:
Olha...o texto é bem legal, de vdd. Mas tenho que descordar. Não acredito muito nessas coisas de destino, não. Eu sempre acho que cada pessoa é responsável por seus atos, pelas suas escolhas. A grande moral da vida é aprender a valorizar a nós mesmos e às pessoas que nos cercam, sobretudo aquelas que estão junto com a gente há mais tempo por esse mundão a fora. Sei lá. Para mim, a culpa nunca foi nem nunca será das estrelas.
Des-cordar existe...!
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