O mundo está cheio de pessoas que
não conseguem ficar caladas. Pessoas que acreditam que precisam fazer o outro
saber o que pensam e o que sentem em relação a ele. Mas o mérito aqui não é
sobre os bons sentimentos que essas pessoas sentem em relação ao outro. É que
há pessoas que só se sentem bem quando podem ter certeza que fizeram sua parte
para que o outro se sinta, ao menos um pouco, mal.
É como se houvesse algum tipo de
mecanismo de compensação de frustrações. Na medida em que se descobrem
descontentes, alimentam tal ressentimento em si que não é possível aguardar o
melhor momento – ou mesmo deixar passar o momento – e deixar que a vida viva. Elas
precisam fazer saber que não estão dispostas a sofrer caladas e que vão, sim,
fustigar e vão, sim, tentar fazer doer.
O que se nota é que as pessoas
estão cada vez mais armadas umas contra as outras. Não importa os laços que as
unam, diante de um estado de contrariedade há sempre uma demonstração de incapacidade
de que a primeira palavra seja de afeto, mas que está, isso sim, mais perto de
uma palavra cujo objetivo se é causar, no mínimo, um estágio de dor.
Quando se observa esse
relacionamento já adoecido pelas dores sentidas em excesso e os amores vividos
em falta (e desconfiança), tem-se a impressão que nessa guerra que parece que tem
sido o viver, querem a satisfação de não serem os únicos caídos, a satisfação
de não serem os únicos que se entristecem, que não se incomodam, que não sabem
ser indiferentes a tudo o mais que lhe pressuponha chateação. E se julgam que o
outro o é – principalmente em relação a si – atacam. E insistem com o ataque
porque precisam ter a certeza que tentaram de tudo para atingir. Para afetar.
Como efeito, vê-se um dissenso
cada vez mais evidente entre os que sentem a dor de não se entenderem. O
resultado está em pessoas que partem e ainda que não saibam se voltarão, mesmo
assim mal se despedem; pessoas que gostam, mas que não se declaram; pessoas que
querem e até podem, mas que não pedem. Pessoas que por acharem que sempre existe
o amanhã, esquecem que só têm o agora e que, quanto ao agora, não se sabe até
quando.
As boas palavras, os bons gestos,
os bons sentimentos. As boas declarações, os incentivos, os bem-quereres. A gratidão,
a reciprocidade, a empatia. Esses não deveriam ser calados. Mas tantas vezes
parecem ser os mais constrangidos. Ao mesmo tempo, poucos parecem constrangidos
em se afirmarem ou se mostrarem irritados, revoltados, irascíveis.
Por outro lado, são tantos os que
se enchem de escrúpulos e fazem-se incapazes de serem bons, de serem amáveis e
amantes dos que amam e querem bem. E daí perdem a chance de saber que a melhor
parte da vida é a que você vive em paz, vive em bons afetos, vive gostando de
gostar e aprendendo a delícia de ser gostado. Que a vida segue enquanto vive e
que se vive deve se fazer o melhor. Que o que se viveu, foi vivido e não pauta
o futuro. Que o ontem não dita nada do que será, que o amanhã não muda nada do
que foi e que só o agora tem alguma força de fazer viver valer a pena e de
fazer a vida mudar.
Ou não é melhor o amor ao invés
da dor? Ou não é melhor o perdão a quem ama – se ama – à constante acusação porque,
num dia triste, um dia errou?
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