Se saudade é expressão que cujo sentido de "dor de ausência" só
existe em português, também é sentimento que existe em toda pessoa que viveu o
prazer, o amor, a satisfação, o bom instante, a melhor companhia, o riso mais
gostoso ou o momento que se quer pra sempre. Sim, pra sempre. Saudade não é
verbo, mas é presente. Mas não do tipo que se ganha e fica contente, mas presente
do tipo que é tempo na gente. A saudade eterniza o ontem no instante vivente.
Sente-se saudade do que foi bom. Sente-se
saudade junto da esperança – umas vezes mínima, outras vezes tanta – de que
nada do que foi não será. Sente-se saudade acompanhada de toda a lembrança do
que a vida gozou e cuja simples lembrança tem poder de fazer regozijar.
A Saudade faz tempo na gente
porque ela conta os dias de felicidade e busca mais dias de ser feliz. Faz
tempo na gente porque presentifica a memória e a esperança. Saudade é tempo
porque torna em agora tudo o que foi e porque torna em agora o que ainda quer
que seja. A saudade viceja aquilo que da vida valeu a pena.
Porque a saudade é sentimento
desses que, se chega a machucar, também explica aquilo de que gosta e do que
quer mais.
Porque saudade é trazer todo o
passado pra colorir o presente que se quer sempre vivo. Não pra fazer um
amanhã, mas pra que todo dia seja o hoje.
Porque saudade é o bem querer que
se repete depois de se viver o que bem quisto e que se revive como ensaio do
que se espera tornar a viver. A saudade chama o que a saudade lembra porque a
saudade também goza do que gosta.
É claro que o novo vem e a vida
vive o novo também. É claro que nem sempre o amanhã volta ou mesmo que volte,
nem sempre chega como na memória que faz bem. Entretanto, sentir saudade do que
foi bom é valorar para muito na certeza de que o que tem é, pra si, um bem e,
guardar em si esse bem, é dizer pra si mesmo que a vida que foi vivida não é
pior que a vida de ninguém.
A Saudade faz tempo na gente até
o tempo chegar. E não tem nada disso de deixar a saudade pra lá.
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