Quando a gente se nota cansado de
tudo o que houve e percebe uma novidade que agrada seja pelo jeito que surge,
seja pelo jeito que é, tende a não se importar com o que pode dar errado.
Aposta no melhor momento que parece diferente de tudo que enfada e vai. Vai em
frente, vai sem medo de errar a mão quando aposta o sim sem nem pensar que cedo
ou tarde essa mesma novidade pode te representar um não.
Não é uma questão de ingratidão
com o que a gente tem. Mas é que tem hora que a gente precisa do novo. É aquele
momento em que já não sabe quem a gente é naquela díade ou naquele grupo. Isso sou
eu, mas também você. Muitas vezes você não sabe se as pessoas estão porque te
querem, te precisam ou te toleram e – até por uma questão de hábito – se resguarda
sempre na pior impressão. Fica achando que o mundo quer descarregar suas
angústias em você e que não há espaço pra que saibam do que te dói e te faz
triste e pior no que é e é daí que quer mais do que seja tudo aquilo que é o
que você (ainda) não tem. E quando descobre que isso há, gosta. E quando
gosta... perigo! Nem todo mundo sabe lidar com os ires e vires do verbo
gostar.
Já vivi isso. Isso de não
entender o porquê gostava de quem a prudência (talvez devesse chamá-la assim)
me dizia não gostar. De me perguntar qual a razão de, tantas vezes tão
racional, ter me posto à mercê de uma vontade que não comandava porque não era
a minha e tudo o que notei - depois - é que não gostava tanto dela quanto
gostava do fato dela ser tudo o que não era quem eu tive, quem eu tinha e nem era
o que me vinha nessa perspectiva de um ter constante. De ser a novidade diante
de uma vida que já tinha me cansado e de que eu já desistira antes e que vivia
num automático triste de quem já sabe o que fazer dois dias depois do dia
seguinte porque todos os dias são todos iguais na sua dose de insatisfação. E
de repente alguém te quebra os paradigmas de uma rotina e te mostra que há vida
onde você não vive, mundo onde você não habita, jeito diferente do teu jeito e
tudo o que você deseja é apostar que esse jeito – que não tem sido o teu jeito –
pode ser melhor (pelo tempo que seja e se for muito ótimo - se for pouco,
pena).
É quando você abre mão de todo um
costume, de várias rotinas, muitas pessoas, porque elas representam um antes
que você quer deixar no antes. Um passado que você não quer presentificar. Você
quer um presente diferente. Quer quem te surge com uma proposta de novidade no
jeito de ser como nenhuma outra (pelo menos no começo) e daí nem se importa em
se preservar. Não faz questão de ser um cálculo desses exatos que só mostram o seu
melhor, o melhor do que nem é, mas que parece conveniente fazer o outro ver até
ele se convencer que aquele é o você sem você ser. Você simplesmente quer saber
do que vem dessa novidade que te dá prazer de viver a vida que se oferece muito
mais bonita e interessante pra você.
E o melhor de tudo isso é que te
deixa um bom gosto de ter vivido o que precisava. De ter tido o que você sabe o
quanto te concerne e que você pode lembrar sorrindo e não lamentando. Como boa
lembrança, um acerto e não como o que preferia não ter. É você saber o porquê de
te haver só um bem querer que, se guardar lamento, estará apenas em você não
ter sabido fazer saber o quanto o outro lado teve um valor que nem você sabia
dizer já que só agora entendeu que gostava daquele instante diferente em que a
vida viveu.
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