Dias atrás esqueci a tevê ligada
e dormi. Já pela manhã, acordei ao som do programa da Fátima Bernardes que
entre seus convidados tinha o escritor Fabrício Carpinejar. Naqueles primeiros
instantes em que nos damos conta que acordar é inevitável, ouvia uma discussão
entre os demais convidados quanto à viabilidade ou não de dois amigos iniciarem
um relacionamento amoroso. A essa altura, o filósofo Carpinejar, tão merecidamente
festejado nas redes sociais, disse não ver com bons olhos dois “antes amigos”,
tornarem-se namorados e, para defender sua posição, afirmou que entendia que
isso era antirromântico na medida em que a sensação que passava era a de que,
por não terem arrumado coisa melhor num primeiro momento, olharam para si que
sempre tiveram perto e resolveram que fossem – como consolação – o namorado um
do outro. Assim mesmo, aceitando que fossem a segunda opção.
O comentário do
escritor-apresentador-filósofo Carpinejar me acordou. A partir daquele momento
me pus a pensar se ele tinha razão. Se o fato de serem amigos e depois
namorados diminuía o valor da relação que iniciavam. Fiquei pensando se
realmente fazia sentido se crer que o fato de terem sido amigos por tanto tempo
os legavam a essa posição de “segunda opção”, escolha por falta de escolha e acho
que eu acho que ele foi muito duro.
Desde que comecei a pensar nisso,
fiquei tentando comparar o que significa ser a primeira ou a segunda escolha,
no campo do amor, da atração, do tesão, da vontade, etc. Até que ponto há
mérito ou demérito em alguma dessas posições, principalmente se levarmos em
conta que todos nós em algum momento de nossas vidas desejamos e fomos
desejados e que nem sempre tivemos quem queremos e nem fomos de quem nos quis. E
mesmo porque essas escolhas não costumam ter critérios absolutos ou objetivos,
mas dependem do momento, da carência ou da necessidade de gostar de “outro”
alguém.
O que sei é que, pra mim, essa
primeira escolha não tem muita coisa de positiva, não traz ganho. Isso porque a
primeira escolha é aquela que se faz no afã, na emoção, na tentativa de antecipar
um sonho que tem tudo pra não ser real. A primeira escolha é a fantasia ousando
deixar de ser fábula para fazer história, mas sem saber escrever já que quase
nunca vai além do engatinhar. A primeira escolha é a da certeza sem certeza do
final feliz.
Já a segunda escolha tende a ser
a da maturidade. Ela tem motivos. No mais das vezes, bons motivos. É a escolha
que também pensa o depois, que não pensa no que arrebata e deixa saudade, mas
no que vem pra ficar porque é bom que fique. Enquanto a primeira escolha é a de
quem só quer jogar, a segunda é a de quem quer vencer esse jogo.
E nem se trata de momento que se
escolhe, mas sim, do momento que se vive quando se escolhe. A primeira escolha
sonha com o futuro que provavelmente não chegará e a segunda escolha com o
futuro que fará(ão)... juntos! A primeira escolha é passional de um jeito
estabanado, enquanto a segunda é escolha é mais segura e concreta; a primeira
escolha é adolescente, a segunda escolha é adulta; a primeira escolha deseja, a
segunda escolha faz; a primeira escolha sonha, a segunda escolha vive; na
primeira escolha há fogo, mas só a segunda sabe causar incêndio, porque é a
segunda que costuma saber o que faz...
No fim, o que vale é a sinceridade
com que se escolhe até porque romântico não é escolher, mas viver de escolhas
próprias. Isso é ser a escolha no amor: quem sabe o quer, mas também sabe ser
querido, sem medo de nenhum dos papéis. É dar e receber o carinho que acumula,
compartilhar o sonho que deseja e realizar a fantasia que faça sonhar.
Romântico não é ser o primeiro, o segundo ou o terceiro, mas ser o último de um
instante e o definitivo de todos os demais. Não é ser ou ter algo ou alguém a
mais, mas ser e ter o tudo o que vem de quem se descobre imprescindível onde sequer
se imaginava e, a partir daí, continuar sendo todo dia... um dia de cada vez.
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