"Justo a mim coube ser eu."
(Mafalda)
(Mafalda)
Não somos invencíveis. Podemos
até ser brasileiros e acreditarmos naquela história de não desistir nunca, mas
o nunca é um tempo pior do que o “para sempre”. O nunca é o “para sempre” que
não acontece... nunca. E daí, se não tivermos consideração por nós mesmos,
viramos reféns desse nunca que faz com que não saiamos do lugar.
Explico: teimosia não é perseverança
e nem toda perseverança é útil. Muitas vezes o melhor a fazer é colocar o ponto
final em histórias que se sustentam em reticências que deveriam dizer muito,
mas a cada capítulo que encerram, dizem cada vez menos. Ou dizem apenas “não”.
Então chega!
Uma vida que se vive pra frente
não pode ficar presa em círculos que não se encerram. Uma vida que se vive pra
frente não pode olhar pra trás, não pode olhar pros lados e nem para os “porém”
ou “senões”. Ainda que tenhamos vários motivos para continuar, um só motivo
deve bastar para encerrar. E se alguém não te entender que fique com sua dúvida,
enquanto você cuida da tua vida. Todos os outros são desimportantes quando
comparados a você por você mesmo.
Chega uma hora em que é preciso
desistir daquele sonho que nos trava, mas pelo qual não fazemos nada, e isso,
antes que cheguemos numa hora em que o tempo que nos resta é menos do que o
tempo que já nos passou.
Não temos que ouvir desaforos de
quem não nos vive e nem conselhos daqueles que não nos sabem. Não temos porque
prender nossa vida em nome de uma hipótese de felicidade antiga, passada e
perdida num tempo que não alcançou o nosso presente e que parece certo que não
fará parte do nosso futuro. Da mesma forma, também não precisamos ser reféns de
nós mesmos diante de uma perspectiva de dor, de angústia, de incertezas quanto
a quem estamos nos tornando na medida em que deixamos de viver à intensidade de
quem somos.
Não temos que ser os turrões que
não dão o braço a torcer e nem se permitem o fim (que teimam julgar precoce)
porque isso lhes faria perdedores. Saber desistir de uma batalha perdida é,
também, se preparar para vencer as que ainda virão. Enquanto há vida, vale a
pena deixar uma batalha que nos leve a refletir sobre o verdadeiro significado
de ainda estar de pé.
É por isso que há um momento em
que é necessário que digamos “basta”. Basta de idealizações, de devaneios, de
ensaios. Basta de tudo que é planejamento e que nos impede a ação. Basta de
tudo que é medo e nos impede a vida. Basta de tudo que é amargo e nos impede o
amor. O tempo é sempre implacável, é sempre cruel, é sempre corrido. E nós, mal
acostumados, deixamos que ele corra livremente, deixando-nos para trás,
carregados de uma bagagem de sentimentos e ressentimentos em razão de tudo que
já nos queríamos desde antes até agora, mas que, feliz ou infelizmente, não nos
chegou.
Mas somos nós que devemos fazer
chegar...
Ah... se nós ao menos nos
déssemos conta do quanto as horas que temos são preciosas justamente porque não
são infinitas. Penso que, então, as desperdiçaríamos menos, já que conscientes
de que cada minuto que passa é um minuto que já não nos pertencerá. Sim...
somos reféns do tempo que não temos e nem percebemos.
Não temos tempo para ficar
esperando termos tempo. A vida é urgente, os sonhos são urgentes, as escolhas
são urgentes, a coragem é urgente e o amanhã só não é mais urgente do que o hoje,
o agora.
Se não sabemos onde queremos
chegar, também não saberemos o melhor caminho a ser trilhado. Se não sabemos o
que nos faz feliz, também não saberemos como encontrar o que seja essa
felicidade que parece fazer bem. Sonhamos com ela, mas sabemos cada vez menos o
que ela é.
Agora, quando sabemos que o que
queremos está longe do que é possível pelo jeito que vivemos, está na hora de
sermos mais a gente do que os outros, recolhermos nossas coisas, juntarmos
nossas malas (ou até deixarmos nossas malas), virarmos ao destino para aonde
vamos e simplesmente acenar o adeus (à vida de antes, ao amor que não serve, ao
beijo que não acende, ao sexo que não satisfaz, ao gozo que não tem, ao trabalho
que chateia, ao estudo que não ensina e nem aprende, em suma, à burocracia de
uma vida de conveniência para agradar um monte de gente inconveniente e que nenhum
bem traz pra gente).
Basta! Não desperdicemos mais do
muito que já perdemos. Concentremo-nos no que ainda nos há. Não sabemos se o
tempo é muito ou se o tempo é pouco. Não sabemos se tudo ficará do mesmo jeito
ou se tudo vai mesmo mudar... mas de uma coisa podemos ter certeza: se não está
bom agora, não devemos ter qualquer razão que justifique sequer pensar em
continuar... basta do que já era; melhore o que ainda virá.
2 comentários:
Adorei o texto!Identifiquei - me, pois sou uma medrosa que tem medo do desconhecido,de trocar o certo pelo duvidoso. Sei que temos que arriscar,porém é mais forte que eu.Kkkkk... acho que preciso de um psicólogo.
Parabéns pelo blog.
Perfeito!
Postar um comentário