terça-feira, 30 de setembro de 2014

Criminalização da homofobia: uma bobagem totalmente demagógica e desnecessária

Os debates presidenciais sempre têm a sua utilidade. Ainda que em 95% (com uma margem de erro de 3 pra mais ou 3 pra menos) do que os candidatos falem sejam promessas ensaiadas e destinadas ao não cumprimento, há certos momentos em que a personagem perde para seu ator.
O debate de domingo realizado pela Rede Record é um exemplo disso. A partir dele podemos tirar algumas conclusões: a) a Dilma é completamente despreparada e dependente do que mandam que ela diga até mesmo na hora de dizer; b) a Marina não tem absolutamente nada a dizer; c) pastor Everaldo não dá conta de pregar 10 minutos, quanto mais presidir uma nação; d) Luciana Genro é uma descompassada; e) Eduardo Jorge é um pândego; f) Aécio Neves é um político profissional (e isso pode ser bom e ruim ao mesmo tempo); e g) Levy Fidélix é um autêntico ultraconservador de direita autêntico (sim, dois autênticos na mesma frase). E é justamente sobre a declaração de Levy Fidélix a respeito da união de homossexuais que esse texto pretende discorrer.
Algumas frases se fazem notórias porque muito bem urdidas. Algumas porque são julgadas infelizes pela grande maioria dos sempre ávidos e prontos críticos de plantão. A do presidenciável (?) foi: “órgão excretor não reproduz”. A despeito de ser uma afirmação biologicamente correta, ela é carregada de um preconceito que, infelizmente, não é exceção, mas a regra da maior parte da população. Nesse sentido, não custa que lembremos que a homossexualidade não é apenas masculina, mas também pode ser feminina e, via de regra, elas não têm a necessidade de se valerem de seu “órgão excretor”. Além do mais, são muitos os casais heterossexuais que aderem à utilização desse “órgão”, muitas vezes em relação de mutualidade.
No entanto, a frase em questão inflamou uma discussão que há tempos está na pauta política e dos formadores de opinião: a criminalização da homofobia. E daí eu me sinto obrigado a dizer que falar em criminalização de homofobia é uma bobagem.
Fobia é um medo persistente (e irracional) diante de uma situação, uma atividade, um objeto ou mesmo um animal. Vamos criminalizar o medo? Homofóbico não é o que tem aversão à homossexuais. Homofóbico é aquele que tem medo deles. O que tem aversão é preconceituoso e ser preconceituoso não é crime. Discriminar em razão do preconceito, sim, é crime. E só é crime, porque já há lei penal criminalizando a conduta.
Levy Fidélix não é homofóbico, assim como a maior parte da população brasileira também não é homofóbica. São (ou somos) quase todos preconceituosos, seja com isso, seja com uma raça ou uma cor de pele. Mas sua frase deu azo a que os demais candidatos se valessem de discursos politicamente corretos, temendo o patrulhamento dos “indignados-por-qualquer-coisa-de-plantão”, sempre incapazes de aceitar que há aqueles que também são diferentes na medida em que não tratam com naturalidade certas diferenças (seja por cultura ou escolha).
Você consegue imaginar alguém tornar crime ter medo de lugares fechados (claustrofobia) ou que seja crime ter medo de barata (Catsaridafobia) ou medo de altura (acrofobia)? Parece absurdo, não? Pois é mesmo.
Qualquer estudante de Direito aprende que a norma penal deve apresentar um núcleo do tipo e um objeto jurídico tutelado. Qual seria o núcleo do tipo da “homofobia criminalizada”?
·                                                        - Ter medo de que homossexuais vivam sua homossexualidade:
                             Pena de 06 a 20 anos.; ou
·                                                 
                                                         -  Não concordar que homoafetivos vivam seu afeto:
                            Pena de 04 a 12 anos.
                   §1º Aumenta-se a pena em 1/6 se o sujeito do crime assistir filmes com lésbicas e ménages femininos;
                         §2º Diminui-se a pena em 1/3 se o indivíduo aceitar a conduta ativa? 

É isso mesmo?
Não podemos admitir que o Estado arrogue para si o direito de obrigar as pessoas a mudarem suas concepções na base da coação. Que se atuem políticas públicas no sentido de desestimular o preconceito, de ensinar a importância de se tratar o ser humano como igual independente de sua cor, sua raça ou sua orientação sexual. Mas não tornando quem pensa diferente em criminoso.
Aquele que discrimina porque não concorda, é criminoso.
Aquele que não concorda (e são muitos!) é apenas um cidadão exercendo o seu direito de opinião.

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