Hoje todos são críticos de tudo. Todos entendem de tudo. Todos discursam e pedem mais humanidade, mas ninguém está disposto a enxergar o que é ser humano.
As pessoas, perdidas no orgulho sem razão que sentem de si mesmas, não parecem enxergar a dominação velada a que vêm se sujeitando a partir do momento em que não toleram que o outro tenha seus próprios pensamentos e sua própria forma de encarar a vida e o mundo.
Um ator beija uma mulher que não é sua esposa e o país entra em polvorosa, todos se sentindo aptos a condená-lo, ainda que a própria esposa não tenha tornado pública qualquer intenção sua nesse sentido;
Um Procurador da República reclama da inércia das forças armadas frente ao desolador quadro das políticas no país e é afastado para responder processo administrativo;
Um cientista responsável por um dos maiores acontecimentos dos últimos tempos aparece com uma camisa estampada com várias imagens de mulheres e o mundo - literalmente de todas as partes do mundo - mesmo sem conhecê-lo intimamente já lhe taxa de sexista;
Uma mulher resolve programar a própria morte a fim de evitar um fim sofrido em razão de uma doença terrível e lá está a patrulha pronta pra dizer o quanto ela está errada;
Um jornalista demonstra falta de apreço por determinada região do país e logo chega a turba pronta para linchá-lo como se fosse seu dever abrir a boca só pra falar o que um dado grupo quer ouvir.
O engraçado é que a moda agora é dizer que os juízes não são "Deus". Só que o tempo todos nos colocamos na posição de divindade capaz de saber de tudo sobre tudo e sobre todos. E estamos tão confiantes de que realmente o sabemos, que nos apressamos em apontar, censurar, condenar.
Em todos os cantos, em todos os lugares alguém está procurando um fato qualquer pra transformar em polêmica. Não sei se para desviarem a atenção de si, cada vez mais e mais pessoas apontam para o outro. É sempre o outro quem erra, quem faz ou fala bobagem. Eles - os que falam - não. São sempre morais, sempre éticos, sempre corretos. Só não se sabe segundo a cartilha de quem.
As pessoas estão chatas. O mundo virtual aproximou muita gente que não tem razão pra estar perto e então, cada qual a partir da sua casa, mas pensando conviver com o mundo, acha que entende das pessoas, das gentes, quando já é bem pouco aquilo que entendem de si mesmos.
Aquela história de se colocarem no lugar do outro, de entender suas razões, suas circunstâncias, não existe mais. Estão todos ocupados demais colocando-se em diferentes lugares, se transformando em diferentes pessoas para agradar todos os diferentes grupos e acabam sendo todos, mas não sendo ninguém. E quanto menos somos nós e mais somos o que esperam de nós, menos entenderemos que a última coisa que deveríamos é tentar que sejamos todos iguais...
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