A gente faz escolhas o tempo
inteiro. Escolher é, certamente, das experiências mais brutais a que nos submetemos.
E não é por um acaso que a maioria das pessoas faz de tudo para não escolher.
Uns acusam o destino, outros recorrem à vontade de Deus: quando a gente escolhe
a gente sempre perde. Mesmo que ganhe, sempre perde. É como na música do Charlie
Brown Jr: na vida, "cada escolha, uma renúncia". Só que se a gente pensar bem, na verdade, a
cada escolha são várias as renúncias a que elas nos obrigam.
E se para escolher uma é preciso
renunciar a várias, logo, se arrepender é o que há de mais humano e o que há de
mais normal.
Fiquemos, pois, tranquilos: você,
eu, todo mundo... a gente sempre vai se arrepender. E não porque não nos
escolhemos o que haveria de ser o melhor, mas porque quando escolhemos o que
escolhemos, fazemos acreditando no ideal. E a escolha que vai sair desse “campo
do ideal” e se tornar real, ao ser real, (não raro) será diferente daquilo tudo
o que a gente imaginava e queria quando ainda apenas sonhava ao tempo de
escolher. Nesse momento em que a escolha se faz real e o real se mostra cru e
cruel, todas aquelas outras opções que foram abandonadas, nos assombram a
partir da perfeição daquela ideia outra (das escolhas outras) que a vida não
logrou estragar sendo real. Assim, essas renúncias vão sempre nos dar a (in)satisfação
ideal ao imaginarmos que lhes ter escolhido nos teria garantido uma vida mais
feliz.
Ora, se a escolha pressupõe
renúncias várias e essas renúncias várias sempre pareceram mais perfeitas do
que a escolha feita que por ser verdade insatisfaz, é cada vez mais importante estarmos
no domínio de nós mesmos para que entendamos as nossas circunstâncias e -
dentro do possível - as circunstâncias dos outros. Essa talvez seja a única
maneira de sermos justos em relação a nós e às nossas expectativas em relação ao
mundo que devemos ao menos tolerar.
"Conhece-te a ti mesmo e
conhecerás aos deuses e ao universo...”, era a recomendação que o oráculo divino
trazia desde o Olimpo. Mas é daí que vêm as melhores decisões. As decisões bem
tomadas que, porém, não estarão imunes ao arrependimento. Até essas carregaram
certo arrependimento. Conheça-te. Saiba de verdade quem você é, do que gosta,
porque gosta, o que quer e porque quer e persista. Ouse. Erre, quebre a cara,
sofra, mas viva, reviva, prossiga. A vida é uma só e se precisa viva, porque
para não viver já basta o momento que teremos que morrer.
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