Está aí. Pra que ficar na
angústia de não saber a hora? Ou então, ficar tudo tão pior que eu anseie a
hora. Escolhi escolher a hora do meu fim. E pensando bem, qual o propósito de
tudo isso? Amar mais amores que não durarão? Viver mais romances em que alguém
se machuca? Colecionar mais paixões que, no fim, passam e às vezes nem saudade
deixam (apesar de sobrar ressentimento)?
Tentei me dar, não me quiseram.
Quando tentaram me dar, fui eu que não quis. Talvez minha hora tenha sido
errada. Talvez meu momento tenha passado ou mesmo não chegou. Penso que a minha
hora aqui é extra de um ganho que nunca vem. Então eu vou. Vou embora desse
mundo a que só encho e que só me enche. Vou-me daqui para onde talvez eu não
seja eu, nem mais ninguém. Seja só a hipótese do que não houve, o lamento de
quem não sente, a última chance de quem se calou.
Só queria olhos mais gentis,
lábios mais gentis, mãos mais gentis, abraços mais gentis. Gente que me visse
como a gente que lhes queria diferente. Alguém que fosse mais do que aquilo que
qualquer um pudesse ser e que, então, entendessem que sempre estive ali, muitas
vezes não sabendo gostar como podia, outras tantas não podendo gostar como
sabia. Mas ali. Sempre ali.
O problema é que esse “ali”
parecia um único canto em que só cabia eu. Toda vez que olhei em volta só via
vazio. E se alguém olhasse para mim não era a mim que via, era através de mim,
era como se eu fosse o espelho cuja presença era vil toda vez que não mostrava
aquilo que aqueles olhos queriam ver.
Mas agora não precisa mais.
Talvez a minha presença fosse tanta que a minha ausência não fosse nada. Mas
até ausente me pus só pra descobrir que ninguém notou. Ou se notou, foi só para
não se importar.
Se vou deixar saudade? Nem mesmo remorso.
Deve ser porque o resto do mundo
anda pra frente enquanto ando em volta da minha própria história, tão atento ao
que já foi que esqueci que todo o mundo continua sendo, menos eu. Mas quem
disse que ainda quero? Que ainda espero? Que ainda pretendo? Aliás, quanto a
pretender, só conjugo em inglês (e nessa mesma grafia).
É isso. Punirei o mundo e não a
mim. A mim só anteciparei o que desde sempre já seria. E se não sei, nem
saberei, agora, ao mesmo tempo – e desde já –, imagino o instante em que, já em
paz, terei uma parte do mundo ocupada de buscar na memória os momentos em que
lhes fui bom sem que tenham sido comigo, em que lhes fiz bem mesmo me legando
indiferenças (que fazem mal). Sei que em algum momento, alguém haverá de
levantar a voz para cobrar a minha desventura de ter sido cercado de vazios que
vinham da insolência de todos aqueles que me requereram sem me prestar qualquer
reciprocidade, que me buscaram sem que quisessem ser achados e que à
contemplação de quem fui – e jaz! –, olharão os relógios para saber se já fizeram
boa figura e já é tempo de ir.
Vão. Sempre foram. Continuem
indo... adeus!
Ouça o texto aqui.
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