Bom. Sexo é bom e (quase) todo
mundo gosta. E não é para menos. Há quem diga que mesmo quando é ruim é melhor
do que sexo nenhum.
Acontece que apesar das
transformações na sociedade, a relação das pessoas com o sexo muitas vezes se
mostra conflituosa. Em que pese o sexo corresponder a uma necessidade quase
instintual, as muitas regras acabam gerando outras muitas culpas que fazem com
que o que deveria ser livre, seja tantas e tantas vezes mais e mais contido.
Mas mesmo assim, queremos sexo!
Chego até a desconfiar que as grandes conquistas da humanidade só tiveram uma
grande motivação: descolar “aquela” transa.
Não estou dizendo que é verdade, mas não raro ouço quem diga que o sexo
é a grande mola propulsora da sociedade (e nesse contexto não me refiro apenas
ao sexo para fins de procriação). As pessoas gostam de se darem e se terem. E
que bom que é assim.
Acontece que, invariavelmente, o
sexo mexe com a ideia de afeto. E não apenas nas mulheres como os mais
machistas podem afirmar. Uma vida sexual, sadia ou não, será responsável por uma
mais alta ou mais baixa autoestima. E em tempos em que as relações entre as
pessoas são cada vez mais rasas, o sexo vai se tornando em uma ânsia cada vez
mais profunda. Resultado: confusão de sentimentos.
Talvez desde a queda do Império
Romano, nunca se transou tanto. As “one night stand” estão cada vez mais comuns
e o sexo acaba sendo um mecanismo de autopreenchimento (psicológica e não só fisicamente falando, é claro) e, consequentemente, de legitimação para a
individualidade. A diversidade de experiências sexuais pode, incorretamente,
sugerir uma indiferença com tudo o que não seja eu e, com isso, me fazer crer
que fiz a melhor escolha quando optei, exclusivamente, por mim.
E aí está o grande problema. A
mim tem me parecido que, não raro, por mais intenso que seja o orgasmo da transa eventual
da noite anterior, o instante seguinte faz da pessoa ainda mais vazia e
solitária naquilo que está mais recalcado no seu íntimo. Por mais que a pessoa
se julgue permissiva e pense que usa o sexo apenas segundo a necessidade de seu
corpo, sem necessidade de qualquer conexão emocional com o outro, o confronto
consigo mesma tenderá a lhe levar a que se perceba ainda menos preenchida que
no instante anterior. Sim, porque sexo, por si só, não passa de mais um
ingrediente da próxima sensação de solidão. Talvez ele – o sexo – tenha sido
buscado por motivos que mais aprisionam que libertam.
Haverá ainda aqueles que dizem
que o sexo é essa necessidade premente e que o dar-se e se receber ajudam a
centrar os instintos na medida em que (nele) somos tomados por uma fúria de nos
possuirmos com uma vontade que se justifica no tesão e que o gozo é o corpo
finalmente gritando a vida que urge viver. Mas o gozo cessa o instinto e
encerrado o instinto passamos a ser só a razão descoberta de toda pulsão e
posta a mercê de todas as culpas acumuladas pela moral que calamos. É
justamente esse instante aquele em que caímos do alto a que nos eleva o auge do
prazer mais forte até o buraco da mais fria e completa solidão.
Mas nem por isso deixaremos de
provar...
Nenhum comentário:
Postar um comentário