... mais ou menos como o curioso
caso do Benjamin Button. Lembra?
Imagina se o final do amor fosse
a paixão e não o contrário. Saber que se viveria a beleza de um sentimento
terno e maduro até o momento em que tudo fosse intensidade e pele, pele e
intensidade.
Até porque – me desculpem os que
pensam o contrário – mas me parece que beira o consenso que o melhor momento do
relacionamento é aquele de poucos meses desde o início, em que já se conhecem
um pouco melhor, se permitem mais e se constrangem menos; aquele momento em que
um simples toque dá choque e uma simples ausência faz chamar de volta; aquela
fase em que a noite é curta para o desejo que é grande e que se repete num afã
que desafia a saúde e que não para e nem quer parar, só continua. A hora em que
toda hora é hora é o momento em que o prazer é questão de instante. E isso é
começo, é tempo de um tempo em que o amor ainda não teve tempo. Pele é paixão.
Paixão é urgência em movimento.
Imagina o desgaste diminuindo até
não ser e o cansaço se reduzindo até não ter. Imagina a indiferença acabando e a
atenção crescendo, aumentando até se fazer visível aos olhos e palpável ao
tato. Imagina não se importar com a novela ou com o futebol. Nem com os outros,
nem com ninguém. A vida acontecendo e você sabendo que o resultado de tudo não
é o enfado, mas o renovo. Não o novo, mas o mesmo que o tempo só deixou melhor
e mais gostoso.
Só que por improvável que é, o
que se tem no mundo regido pelas leis da física é a paixão numa metamorfose que
se completa ao ser amor. Um amor que faz o costume de estar junto ser o
principal ingrediente a servir de motivo para não se estar separado. Um amor
que se funde a uma ideia de afeto e de cuidado que aproxima mais o paterno do que o safado, mais o idílico do que o tarado. E isso é bonito, porém é chato.
A paixão como objetivo ajuda no
jeito mais descuidado (que não se confunde com o jeito desleixado). Mas ela se
ocupa mais de consumir que em preservar. É aquela que aperta, que puxa, que acerta,
que arranca, invade e traz pra junto (bem junto). É a que não teme a marca, não
teme o gosto, não teme o gozo e é só durante. O antes é prenúncio do que o
depois é só o pretexto.
Por outro lado, talvez o amor
tenha a ver com uma parcimônia que acompanha a involução física de cada um.
Quem sabe ele seja mais condizente com essa calma comum àqueles que aprendem a
contar o seu tempo com o tempo que têm. E então passa a fazer sentido que as
pessoas procurem esse estado de mais paz e menos ansiedade, mais carinho e
menos devassidão, mais afeto e menos solidão (que existe até mesmo acompanhada),
crendo que o amor, mais que sentimento, é essa construção capaz de redefinir
desde sonhos até valores que se amoldam a um resultado que, no seu início, não
se quer menos do que bom.
Qual a melhor ordem pra você? A
que leva a um amor tranquilo ou a que chega a uma paixão excitante e contente?
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