Tem gente que a gente gosta
primeiro e vai entender o porquê só depois.
Sabe quando você conhece do
nada ou até já queria conhecer, mas não sabia bem o que esperar? É mais ou menos
isso. Você se pega vivendo aquele instante de descoberta do outro, tentando
entender o que te delicia naquela presença que até pouco antes você sabia
pouco (talvez nada ou quase nada), mas que desde então você sente que não se importa em aprender muito.
E é daí que começa a querer
entender se é o jeito dele ou dela falar sorrindo, ou aquele sotaque quase cantado. Se de
repente é o jeito mais debochado de quem não faz questão de se levar a sério ou
os olhos que te olham tão intensos que você chega a acreditar que não é só você
quem gosta do que está acontecendo. Tudo parece tão melhor do que era antes de
ser, que logo chega a achar que já é aquele momento que nem te sabia possível: o
de um encontro novo que vive como se sempre tivesse havido.
Você se descobre o ouvinte que
nunca se soube e o falante que sempre evitou. Ouve do outro suas melhores
histórias, ri delas, tem toda a sua atenção voltada a única pessoa que te
interessa e que acabou de vir dentre as outras tantas – as outras várias – que nunca
te interessaram. Na verdade, você vive o momento em que já nem tem por que se lembrar de que outra alguém te interessou.
O vinho que pedem é sorvido a
doses de palavras que te vão para muito além dos ouvidos e quando é a sua vez
de falar, cada meneio de cabeça, cada sorriso de confirmação ou aceno de
surpresa é como uma vitória que você comemora só consigo, mas que te indica que
o horóscopo acertou quando indicou uma quadratura lunar que te traria uma nova
emoção.
Escuta de quando ela morou fora,
dos planos de fazer jornalismo até a escolha de voltar pra casa, de como gosta
da poesia do Neruda, da música do Caetano, da letra daquela música que ninguém
conhece, mas ela, inquieta e que gosta do novo, descobriu (garimpou!) e, ao mesmo tempo, se pega se perguntando quando é
que você é que terá o que seja tão interessante de dizer, perto do tanto que está gostando
de escutar.
Se a hora não para – e nessas
horas ela voa! – logo a conta do restaurante chega junto da hora própria de andarem um pouco sob um luar que testemunha um querer de que você é o único que acha que ainda é preciso disfarçar ou confessar. As mãos se encontram, turvam-se às vistas para tudo o que não
seja quem você tem - e que também só vê você e nada além - e como se fosse a coisa mais certa, abraça o corpo que já
quer para o seu corpo.
Há um gracejo sobre um batom
que se sair não vai ter como retocar, mas nem isso importa mais. Esse momento é
aquele em que o mundo em volta fica pequeno pra'quele tanto de contentamento
estranho. Sim, estranho. Todo novo. E que parece mais que simplesmente pele – apesar de também ser muito
sobre pele. As bocas se querem tão perto quanto a respiração que já acelera
igual.
Quando se têm, tudo o que querem
é não deixar de se terem e vão deixando a vontade assumir o controle do que
virá. Pode ser parado na porta de uma das casas, pode ser chamando pra entrar, mas o que se sabe é que o presente está ali sendo aberto e sendo vivido, fazendo um
sentido que anos depois você se lembrará e não terá qualquer dúvida de que agora
entende o que houve naquele dia, naquele instante... lá.
E vai sorrir feliz porque seja lá qual foi o rumo da vida, você vai ter sempre esse belo dia da vida para o qual voltar.
E vai sorrir feliz porque seja lá qual foi o rumo da vida, você vai ter sempre esse belo dia da vida para o qual voltar.
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